JULIA CHAIB
dom., 28 de março de 2021
BRASILIA, DF,
BRASIL, 25-02-2021- Entrevista com a senadora Kátia Abreu (PP-TO), eleita, por
aclamação, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional
(CRE) para o biênio de 2021 a 2023. (Foto: Raul Spinassé/Folhapress)
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Senadores
reagiram neste domingo (28) com indignação e cobraram a demissão do ministro
Ernesto Araújo (Relações Exteriores), que fez postagens insinuando uma ligação
do Senado com o lobby chinês pelo 5G, o que estaria por trás da pressão para
derrubá-lo.
Araújo tem reunião marcada com toda a
sua equipe de secretários nesta segunda.
Presidente da Comissão de Relações
Exteriores do Senado da República e citada nas postagens do chanceler, a
senadora Katia Abreu (PP-TO) divulgou nota em que acusa Araújo de mentir e de
adotar uma postura marginal.
"O Brasil não pode mais
continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em
viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do
equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride
gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado
Federal", afirmou.
De acordo com a senadora, Ernesto
resumiu em um tuíte um encontro de três horas em que ela teria alertado o
ministro sobre os prejuízos que um veto à China na questão 5G, entre vários
outros temas.
"Se um Chanceler age dessa forma
marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da
República de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova
definitivamente que ele está à margem de qualquer possibilidade de liderar a
diplomacia brasileira", afirmou, na nota.
Em áudio enviado a senadores, mais
cedo, ela pediu aos colegas uma "reação séria" às postagens de
Araújo, que, segundo ela, estaria afirmando que o Senado se vendeu ao lobby
chinês.
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"Concomitante a esse tuíte,
porque eles são muito organizados, está em todas as redes bolsonaristas a
mensagem de que o Arthur Lira [PP-AL, presidente da Câmara] e os senadores se
venderam para a empresa do 5G Chinês. Isso é uma orquestração para poder
segurar o chanceler", afirmou no áudio, obtido pela Folha.
"Tem uma linha que não pode ser
ultrapassada. Não é bom pro governo e não é bom para o país", disse o
líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), em mensagem
enviada no grupo de senadores e obtida pela Folha.
Ernesto publicou em suas redes
mensagens que, segundo aliados, têm o objetivo de tornar público o que ele
entende estar por trás da ofensiva do centrão para derrubá-lo.
O ministro revelou no Twitter uma
conversa que teve com Kátia Abreu. Nos bastidores, Araújo relaciona o lobby
chinês pela tecnologia 5G à movimentação da cúpula do Congresso.
"Em 4/3 recebi a Senadora Kátia
Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No
final, à mesa, disse: 'Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G,
será o rei do Senado.' Não fiz gesto algum", escreveu Araújo neste
domingo.
Em seguida, o ministro complementou:
"Desconsiderei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério
das Comunicações e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão
última na matéria."
Marcada por questões ideológicas, a
gestão do ministro é duramente criticada por empresários e políticos de
esquerda, centro e direita.
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente
do Senado, disse na semana passada tanto em público como em reuniões fechadas
com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que considera "falha" a
política externa do Brasil.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da
Câmara, pediu demissão do chanceler a Bolsonaro pelos mesmos motivos.
Após os tuítes deste domingo, senadores também
foram às redes sociais pedir a saída do ministro. Ciro Nogueira (PI),
presidente nacional do PP, afirmou lamentar a atitude do chanceler e que o
Brasil e o povo brasileiro não merecem isso.
EM TEMPO: Esse governo Bolsonaro é uma esculhambação. Vamos torcer para que a população brasileira melhore a qualidade do voto. Mas, temos o problema cultural que inibe tal avanço.
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