sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

OS OITO ENCRENCADOS

 

ISTO É - Vicente Vilardaga

 

Um dos critérios do presidente Jair Bolsonaro para criar laços políticos e fazer aliados parece ser a quantidade de problemas que o sujeito tem na Justiça ou seu envolvimento com escândalos de corrupção recentes. Atualmente, quanto mais enrolado for o histórico do parlamentar, mais chances ele tem de se tornar um parceiro influente ou de ganhar prestígio na articulação do governo. Bolsonaro, que passou a campanha prometendo acabar com os malfeitos e levantando a bandeira da Lava-Jato, desde que assumiu vem fazendo vista grossa para os envolvidos no caso e trabalha para acabar com a operação. 

Não pode ser coincidência o fato de seis de seus mais fortes aliados no Parlamento, além de apoiadores ferrenhos como Roberto Jefferson, ex-deputado e presidente do PTB, partido escancarado para o presidente, e homens de absoluta confiança como Onix Lorenzoni (DEM-RS), deputado licenciado e ministro da Secretaria-Geral da Presidência, serem investigados, réus ou terem sido condenados em esquemas criminosos.

O desprezo de Bolsonaro por suspeitas ou confirmações de delitos de corrupção na escolha de aliados, mostra seu pragmatismo na aproximação com o Centrão e uma clara intenção de atrair, a qualquer custo, lideranças estratégicas na Câmara e no Senado para sua pauta estapafúrdia e sua política da morte. O que ele busca é um acordo selvagem, na base do toma lá, dá cá, para aprovar projetos de seu interesse sem se importar com a folha corrida de quem irá defendê-los. Um exemplo notável é o do ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP), condenado em 2012, no Mensalão, a sete anos e dez meses de prisão e que cumpriu menos de um ano em regime semiaberto. Sabedor da influência política e da posição de liderança de Costa Neto entre seus pares, Bolsonaro não poupa afagos ao ex-deputado. 

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No ano passado entregou para o PL o controle do Banco do Nordeste e uma diretoria no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), entre outros cargos. E agora discute a recriação do Ministério da Cidades, cujo comando seria a indicados por Costa Neto, que abriu as porteiras do PL para o presidente. Outro parlamentar com prestígio em alta com Bolsonaro é o ex-presidente e senador Fernando Collor (PROS-AL), acusado de receber mais de R$ 30 milhões em propinas desviadas da BR Distribuidora e esperando o julgamento de um pedido de 22 anos de prisão da Procuradoria Geral da República (PGR). Os dois participaram juntos de inaugurações de obras em Alagoas e não param de trocar elogios.

O que Bolsonaro busca é um acordo selvagem, na base do toma lá, dá cá, para aprovar seus projetos e impor sua política da morte

A cereja do bolo da nova tropa de choque do governo, porém, é o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, chamado de “meu malvado favorito” por Bolsonaro. Lira é réu por peculato e lavagem de dinheiro em duas ações no Supremo Tribunal Federal (STF). É também investigado por sonegação fiscal e acusado de violência doméstica pela ex-mulher. Administrava rachadinhas em Alagoas, no estilo do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho 01. Trabalhando para atender os interesses de Bolsonaro, Lira articulou medidas em favor da Lei de Abuso de Autoridade e propôs limitações às delações no pacote anticrime. 

Ainda é cedo para calcular tudo que Lira ganhará com essa aproximação visceral com Bolsonaro – mas certamente será muito. Caberá a ele, a partir de agora, estabelecer a pauta da Câmara e definir o que deve ou não ser votado, além de cobrar cargos para o Centrão no governo. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) é outro parceiro preferencial, apelidado inclusive de 05, como se fosse o quinto filho do presidente. Nogueira é réu no STF desde 2019, sob acusação de organização criminosa, e foi alvo de pelo menos duas ações da Polícia Federal. Além disso, foi denunciado por supostos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Uma prova de sua importância política foi dada com a nomeação de seu ex-chefe de gabinete Marcelo Lopes da Ponte para a presidência da FNDE.

Fecham a lista dos oito encrencados, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, e o líder na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), possível substituto do general Eduardo Pazuello no comando do Ministério da Saúde. Coelho está sendo investigado por suspeitas de recebimento de propinas quando foi ministro da Integração Nacional de Dilma Rousseff. E foi acusado de receber dinheiro desviado de obras da Petrobras. Tem se destacado como articulador do governo no Senado e feito valer as vontades de Bolsonaro. 

Já Barros foi investigado pelo Ministério Público do Paraná no ano passado sob a suspeita de ter recebido propina da construtora Galvão Engenharia e goza da confiança do presidente. O perfil da base de apoio a Bolsonaro mostra que ele não tem critérios éticos na escolha de seus aliados e está pouco de lixando para a corrupção, cujo combate nunca esteve realmente nos planos do governo. E a situação confirma que o sangue novo no Parlamento chega cheio de impurezas.

EM TEMPO: Nos limites do capitalismo não existe saída para o bem-estar da humanidade. Por isso, o primeiro passo consiste em melhorar a qualidade do voto. Evidentemente que tem outras lutas cotidianas.

AGORA DURMAM COM ESSA BRONCA. 

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