Por Ícaro Gabriel e Vivian Alves
Jornal O MOMENTO –
PCB da Bahia
Sobre o Retorno das Aulas Presenciais – Março se aproxima e a tentativa de retorno às aulas presenciais também. O Governo do Estado e a Prefeitura de Feira de Santana (BA), personificados respectivamente por Rui Costa e Colbert Martins, endossam e participam das movimentações para lotar salas de aula em meio a uma pandemia que não acabou e uma vacinação que está longe de ser para todos.
Desde 18 de
janeiro, identifica-se em Feira e em mais 29 cidades do país, uma articulação
dos representantes do setor privado do ensino básico pressionando para um
retorno presencial. Donos de escolas particulares organizam carreatas, colocam
seus professores (provavelmente preocupados com demissões) na linha de frente e
em reportagens da mídia, com a tentativa de sensibilizar a cidade sobre a
“perda” no aprendizado dos alunos. O Sindicato das Escolas Particulares da
Bahia (SINEPE-BA), por exemplo, apela ao poder público e se diz preocupado com
a situação da educação infantil.
Em entrevista ao BATV, na carreata do dia 18 de janeiro, é dito que o movimento está ali não apenas para reivindicar o retorno presencial das aulas nas escolas particulares, mas também nas públicas. E, claro, o setor público não ficaria parado com o retorno do ensino presencial na rede privada. Não nos enganemos com estes apelos cínicos: a única preocupação do patronato da educação é o seu próprio bolso.
O principal receio do setor privado, dito pelo diretor financeiro
da SINEPE-BA, é a queda expressiva no número de matrículas, ou seja, a queda
expressiva das mensalidades. E se há aqui uma preocupação com desenvolvimento
interpessoal e pedagógico das nossas crianças, ela deve começar pela sua saúde.
Se os patrões querem um retorno, que comecem pressionando pela vacinação em
massa, tanto dos alunos, quanto dos seus pais e de toda nossa classe
trabalhadora, até porque as crianças costumam ser assintomáticas, o que torna
sua capacidade de transmissão bastante silenciosa, transformando as escolas em
perigosos focos de contágio.
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Além disso, se a burguesia se movimenta, seus instrumentos se movem junto a ela, acionados a seu favor. A justiça burguesa, por meio de uma liminar concedida pela juíza Juliana de Castro, determinou a volta das aulas em todo o estado da Bahia até o dia primeiro de março. Segundo a juíza, “independente da força da pandemia, número de leitos ocupados e números de mortos, o poder público, de fato, vem consentindo um afrouxamento das medidas menos restritivas”.
Ora, quer dizer que
independente da capacidade de atendimento da saúde, independente dos que já
morreram e dos que podem vir a óbito, já que existe um descaso do poder público
no trato da pandemia, devemos lotar salas fechadas com crianças para garantir
uma suposta “qualidade do ensino”? É importante lembrar que os nossos
familiares e conhecidos perdidos não podem aprender mais coisa alguma, e é isso
que estaríamos naturalizando como banal: os filhos da classe trabalhadora, com
o retorno presencial, sem vacinação em massa, relegados ao vírus.
Além do trecho que
cita o afrouxamento das medidas, a decisão também traz o possível aumento da
evasão escolar como uma consequência do não retorno às aulas. Esse é um ponto
importante para nos preocuparmos, mas não só diante de uma pandemia. A evasão
escolar já é uma realidade. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), de 2019, a evasão escolar no estado
começa a se apresentar na faixa etária de 11 a 14 anos, onde o abandono é de
19,9%. Na faixa etária de 15 a 17 anos, a situação é ainda mais crítica com uma
taxa de abandono igual a 44,6%. Se a pandemia ainda não era uma realidade, o
que provocava a evasão escolar? A combinação de infraestruturas precárias, falta
de ferramentas pedagógicas atrativas, mecanismos de permanência limitados e
tantos outros problemas estruturais da educação pública.
A correria pela
retomada das aulas presenciais durante a pandemia deveria ser convertida em
campanhas de vacinação em massa, planejamento adequado para que as escolas
tivessem melhores condições de receber os estudantes e os trabalhadores. Junto
a isso, buscar por um ensino básico de qualidade, que vise uma escola popular,
onde nossas crianças e adolescentes não sejam tratados como números e
mensalidades, mas como futuros construtores de uma sociedade transformada e
emancipada.
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