Augusto Aras - © Fornecido por Correio Braziliense |
Correio Braziliense - Jorge Vasconcellos
As pressões sobre o procurador-geral da República, Augusto Aras, aumentaram a expectativa da Lava-Jato em Curitiba de que não haverá mudanças na estrutura da operação. Em setembro, o PGR terá de decidir se renova a atuação da força-tarefa por mais um ano — há um projeto no órgão para reunir todos os grupos de trabalho do Ministério Público Federal sob comando único, sediado em Brasília. Após reagir com irritação às críticas de colegas na sessão virtual do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF) da última sexta-feira, o procurador-geral baixou o tom em novo encontro ontem.
Durante sessão administrativa,
que antecede a reunião ordinária, Aras adotou postura conciliatória e exortou
os subprocuradores a evitarem “embates desnecessários”, já que as pressões
sobre o MPF já são “muito fortes”. “Estamos todos no mesmo barco. Se esse avião
afundar ou cair, todos nós caímos juntos”, disse o procurador-geral aos
colegas. Possivelmente por falha técnica, parte da sessão administrativa foi
transmitida ao vivo e, logo depois, interrompida.
Na noite da última sexta, em
reunião virtual para votar o orçamento de 2021, os conselheiros expressaram,
por meio da leitura de uma carta, oposição às críticas públicas de Aras ao
funcionamento do Conselho e ao trabalho da Lava-Jato (leia Saiba mais). Em
resposta, o PGR subiu o tom e acusou colegas de fazerem “oposição sistemática”
a ele e de plantarem notícias falsas contra sua gestão e sua família, de forma
anônima e “covarde”.
“Todas as matérias que saem na
imprensa, é um procurador ou uma procuradora que fala. O anonimato mais do que
inconstitucional e ilegal, é covarde. Eu não tenho medo de enfrentar nenhum
argumento, eu tenho o costume de enfrentar tudo o que faço e digo e não tenho
receio de desagradar”, afirmou Aras na ocasião. “Quando tivermos condições de
conversar com a dignidade, sem a fake news, sem a covardia, sem a traição, sem
a mentira propiciada por aqueles que estão aqui na Casa, eu acho que teremos
paz”, continuou.
Também na sessão de sexta-feira,
o procurador-geral disse ter provas das afirmações sobre irregularidades
internas no MPF, como supostos “desvios” da Lava-Jato, e que elas já foram
encaminhadas para a apuração dos órgãos competentes.
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A pressão sobre Aras aumentou
desde que ele ordenou diligência para o compartilhamento de informações da
Lava-Jato em Curitiba, em São Paulo e no Rio de Janeiro (veja Memória). O
procedimento, inicialmente autorizado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Dias Toffoli, foi derrubado, na segunda-feira, pelo ministro Edson
Fachin, relator dos processos da operação, mas o gabinete de Aras já informou
que recorrerá da decisão.
Reformulação
Uma possível remodelação da
equipe da Lava-Jato de Curitiba também vem sendo discutida na PGR. A ideia é
instituir a Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado
(Unac), subordinada ao procurador-geral, para atuar contra corrupção, atos de
improbidade administrativa e crime organizado. Investigadores resistem à
proposta e veem risco de perda de autonomia com a unificação.A Lava-Jato em
Curitiba teme que o grupo seja desmobilizado por meio do encerramento da
equipe, que pode não ser renovada em setembro por Aras. Outra preocupação é com
a possibilidade de abertura de sindicâncias contra os membros da equipe, com
base em acusações de que estariam gravando ligações telefônicas sem
autorização, assim como coletando dados de pessoas que não são investigadas
formalmente.
A investida da PGR já chegou a
São Paulo, onde a força-tarefa da Lava-Jato é alvo de uma sindicância para
apurar como as operações foram distribuídas internamente. As diligências que
correm na corregedoria do MPF serão conduzidas pela procuradora Raquel
Branquinho.
Divisão
Na avaliação do cientista
político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, a queda de braço
entre PGR e forças-tarefas “não é questão de um lado ser ou não mais forte que
o outro”. “Dada a realidade, essa decisão do Fachin mostra que há um grupo
dentro do Supremo que, realmente, não está vendo com bons olhos esse
esvaziamento da Lava-Jato por parte do Aras. Então, esse jogo vai longe ainda,
haverá muitos desdobramentos, mas é muito ruim, em termos de Suprema Corte,
você ter uma divisão como essa”, avaliou.O especialista lembrou que, neste
semestre, haverá mudanças no Supremo. O ministro Luiz Fux assumirá a
Presidência da Corte, no lugar de Dias Toffoli, e o decano Celso de Mello se
aposentará. “Quer dizer, um semestre que já seria complicado por conta disso
ganha ainda mais dramaticidade, digamos assim”, acrescentou.
Dallagnol pode ter carreira prejudicada
A Lava-Jato ganhou um pouco mais
de fôlego com a decisão de segunda-feira, do ministro Edson Fachin, do STF, de
suspender o compartilhamento de informações da operação com a PGR. A
determinação do magistrado é retroativa, ou seja, impede que seja usado
qualquer dado do MPF no Paraná que tenha sido repassado à Procuradoria. Com
isso, eventuais acusações contra o coordenador da força-tarefa em Curitiba,
Deltan Dallagnol, e sua equipe, em razão de possíveis irregularidades nas
diligências dos últimos seis anos, ficam esvaziadas.Na avaliação do cientista
político André Pereira César, em razão da postura de confronto, Dallagnol
poderá ter a carreira prejudicada. O procurador é alvo de mais de 15
representações no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), por críticas
a ministros do STF e acusações contra autoridades. Está marcado para o dia 18,
por exemplo, o julgamento de um processo movido pelo senador Renan Calheiros
(MDB-AL), que acusa o coordenador da Lava-Jato de ter feito campanha no Twitter
contra a sua eleição à presidência do Senado, em janeiro de 2019.
Em novembro de 2019, o Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP) decidiu, por oito votos a três, aplicar
advertência a Dallagnol. A medida ocorreu em razão de críticas que ele fez ao
STF. A advertência, na prática, serve como um registro no currículo, uma
espécie de mancha na reputação profissional.
O fato que levou à punição
ocorreu em 15 de agosto de 2018. Durante uma entrevista à Rádio CBN, Dallagnol
criticou uma decisão da Segunda Turma do STF que determinou o envio para a
Justiça Federal e Eleitoral do DF trechos de delação premiada que citavam o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Guido Mantega.
“Agora, o que é triste ver (...)
é o fato de que o Supremo, mesmo já conhecendo o sistema — e lembrar que a
decisão foi 3 a 1 —, os três mesmos de sempre do Supremo Tribunal Federal que
tiram tudo de Curitiba e que mandam tudo para a Justiça Eleitoral e que dão
sempre os habeas corpus, que estão sempre formando uma panelinha, assim que
manda uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”, afirmou, na
ocasião, fazendo referência aos ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e
DiasToffoli.
Inquéritos
Em dezembro passado, a Segunda Turma do STF aceitou denúncia do Ministério Público e tornou o senador Renan Calheiros réu na Lava-Jato. Ele é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Apesar de responder a outros nove inquéritos, foi a primeira vez que o parlamentar se tornou réu no âmbito da operação que investiga desvios em contratos da Petrobras. De acordo com a peça de acusação, ele recebeu R$ 1,8 milhão de doações oficiais a pedido do então presidente da Transpetro, Sérgio Machado.
Ataques
Em live do Prerrogativas — grupo
de advogados críticos à Lava-Jato —, na semana passada, Augusto Aras afirmou
que pediu acesso a dados da operação por uma questão de “transparência”. “Todo
o Ministério Público Federal, no seu sistema único, tem 40 terabytes. Curitiba
tem 350 terabytes, e 38 mil pessoas lá com seus dados depositados. Ninguém sabe
como foram escolhidos, quais os critérios”, criticou. Ele ressaltou, ainda, que
“não se pode imaginar que uma unidade institucional se faça com caixas de segredos”
e destacou a necessidade do fim do “punitivismo” do Ministério Público.
Memória
Diligência da discórdia
Em junho, a PGR solicitou dados
das forças-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, Rio e Brasília. A diligência da
subprocuradora Lindôra Maria Araújo, nome de confiança de Aras, para busca de
informações da força-tarefa em Curitiba abriu uma crise e provocou pedido de
demissão de procuradores. Dias depois, a PGR divulgou nota na qual disse que “a
Lava-Jato não é órgão autônomo”. No início de julho, o presidente do Supremo
Tribunal Federal, Dias Toffoli, determinou às forças-tarefas que apresentassem
dados e informações da operação à PGR.
EM TEMPO: O que o Aras está procurando fazer é evitar que a "Lava Jato" funcione como um órgão de Estado paralelo ao Ministério Público e atue fora da lei, como se fosse um partido político. Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, atuaram fora dos limites da lei, condenaram, sem provas, e prenderam Lula para favorecer Bolsonaro nas Eleições de 2018. A busca e apreensão nas casas do senador José Serra e de sua filha, como também no gabinete do Senador, demonstraram as arbitrariedades dos procuradores da Lava Jato, independente de algum crime que possa ter sido cometido. O caso da busca e apreensão na casa do Governador do Piauí, do PT, e da sua esposa Deputada Federal, é mais outro exemplo. Convém lembrar que Sérgio Moro já está em campanha eleitoral visando as eleições presidenciais de 2022.
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