Com prevenção
ineficiente, agentes morrem e espalham coronavírus nas prisões
por Caê Vasconcelos
Ponte
Segundo CNJ, 65
servidores morreram de Covid-19 em todo o país e entre os presos, são mais de
11 mil infectados e 74 mortos; para especialista, desencarcerar é solução
Dos 110 mil agentes penitenciários do sistema prisional brasileiro, 5.854 estão infectados pelo coronavírus e 65 morreram em decorrência da doença. É o que aponta o boletim semanal do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), divulgado nesta quarta-feira (29/7). Os dados divulgados são de 27 de julho. Já entre as pessoas presas, dos 812 mil que formam a população carcerária brasileira, 11.269 estão infectadas pelo coronavírus e 74 morreram. Os dados do CNJ divergem dos dados do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), órgão subordinado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Atualizados na última quarta-feira (29/7), os números do Depen apontam para 11.386 infectados, 73 óbitos, 7.045 recuperados, 3.027 casos suspeitos e 32.514 testes nas prisões brasileiras.
No sistema socioeducativo brasileiro, 1.793 confirmados servidores estão infectados e 16 morreram. Entre os adolescentes, 627 casos foram confirmados. O Sudeste lidera o número de mortes nacionais, com 51,4% dos 74 óbitos. O estado com mais mortes é São Paulo, com 19 detentos mortos, segundo dados do Depen, além dos 2.512 infectados, 128 com suspeita e 1.203 recuperados.
A apuração do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo) aponta que SP registrou 26 mortes de agentes penitenciários até a manhã desta quinta-feira (30/7), além de 387 servidores infectados e 97 com suspeita da doença. Neste boletim, o CNJ começou a lançar os dados de São Paulo com informações da SAP-SP (Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo), que separa o número dos infectados por tipo de testagem.
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Entre as pessoas
presas infectadas são 459 confirmados com exame RT-PCR (feito de forma nasal
com haste flexível para colher pelas narinas e garganta o material genético do
paciente) e 1.258 testes rápidos (feito a partir da coleta de sangue) com
resultados positivos, além de 18 óbitos. Entre os servidores, 493 foram
confirmados com RT-PCR e 371 testes rápidos com resultados positivos, além de
21 óbitos.
O DF é o local que
concentra mais casos de contaminação no país, com 1.464 pessoas presas
infectadas. Segundo o Depen, são 3 óbitos e 1.356 recuperados, sem nenhum caso
suspeito.
Entre os servidores,
o Nordeste concentra mais casos confirmados, com 39,5% dos casos, e o Norte
aparece em segundo lugar, com 25,1%. No número de mortes, o Sudeste lidera, com
43,1% casos, seguido pela região Nordeste, com 29,2% dos casos nacionais.
Depois de SP, o Pará é o estado onde há mais servidores infectados, com 601
casos, seguido do Maranhão com 474, Ceará com 455 e Bahia com 428.
“Então, você se infecta, o vírus começa a se multiplicar, pré-sintomático você já dissemina o vírus. Por isso, no momento que você começa a ter sintoma, tem que já ser afastado imediatamente. Isso em qualquer tipo de gripe: afasta e faz o RT-PCR”, continua Gonzalo. Quando o RT-PCR dá positivo, detalha o médico sanitarista, além dos 14 dias de afastamento e isolamento social, é preciso refazer o teste, pois novos indícios apontam que o vírus continua transmitindo mesmo quando os sintomas foram embora.
Com a visitas ao
sistema prisional suspensa no território nacional, avalia Gonzalo, foram os
agentes penitenciários que levaram o vírus para dentro das prisões. “O vírus
não chega para o preso sem ser pelas pessoas que trabalham lá. Todos deviam
usar máscaras e identificar o mais rapidamente possível qualquer sintoma de
gripe nos trabalhadores do sistema prisional”.
A testagem em massa, apesar de ser uma das bandeiras dos sindicatos de servidores do sistema prisional, aponta o médico, pode não ser a solução para conter o vírus nas prisões. “Você pode fazer o teste hoje, mas amanhã pegar o vírus”, explica. “Como profissional de saúde, e não uma pessoa da área do direito ou da segurança pública, avalio que o melhor caminho seria colocar para fora da cadeia as pessoas que fazem parte do grupo de risco ou tem comorbidades, porque o Estado não vai cuidar delas”, pondera.
Só com a testagem,
aponta Jabá, já que não é possível fazer isolamento dentro das prisões, será
possível controlar o coronavírus no sistema prisional. “O que a gente tem feito
é pedir para a SAP aumentar a demanda da testagem em massa e os EPIs [equipamentos
de proteção individual]. Luva e máscara não estão faltando, o que falta é o EPI
quando o policial penal tem que ir para o hospital, porque muito preso faz
tratamento de hemodiálise, por exemplo”.
Esse também o
entendimento de Fernando Anunciação, presidente da Fenaspen (Federação Nacional
Sindical dos Servidores Penitenciários). “Se tivéssemos uma testagem em massa,
o número triplicaria”, lamenta. “O funcionário acaba levando e trazendo o
vírus. Muitas das testagens que estão sendo feitas são particulares, porque o
Estado não tem condições”.
Anunciação afirma que
os afastamentos estão acontecendo, mas de forma burocrática. “Muitas vezes o
funcionário faz o afastamento por conta própria. No DF temos um hotel para
isolar os servidores, para não levar o vírus para a família. Nos demais locais,
eles voltam para casa e o que fazemos é orientar a higienização constante das
roupas e das mãos”.
“O que a gente viu
com a pesquisa é que, embora os policiais penais materializem as violações com
os presos, é um público que também é muito fragilizado”, aponta Giordano Magri,
pesquisador do NEB.
“Eles têm os menores salários, estão mais expostos aos efeitos da pandemia e não tiveram suporte institucional para atuar nesse momento. Indiretamente, isso acaba trazendo consequências para toda a população carcerária”. O abandono institucional, aponta o pesquisador, deixa os servidores mais vulneráveis. “Falta de treinamento, falta de distribuição de EPIs e falta de suporte da chefia nas atuações. Alguns agentes apontaram que tiveram redução dos salários”.
“O abandono, no
geral, gera consequências que não são só imediatas, mas trazem impactos que fazem
com que eles sejam mais infectados e se tornem vetores da contaminação dentro
das unidades”, finaliza.
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