Poder360
Sérgio Lima/Poder360 O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles
O MPF (Ministério
Público Federal) entrou com ação de improbidade administrativa contra o
ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado de desestruturação dolosa
das estruturas de proteção ao meio ambiente. Na ação, 12 procuradores
pedem o afastamento do ministro do cargo em caráter liminar (urgente) e a
condenação dele por improbidade administrativa. Eis a íntegra do pedido.
Para o MPF, Ricardo
Salles promoveu a desestruturação de políticas ambientais e o esvaziamento de
preceitos legais para favorecer interesses que não têm qualquer relação com a
finalidade da pasta que ocupa. O processo de desestruturação do sistema de proteção
ambiental brasileiro foi realizado por atos, omissões e discursos do acusado,
em conduta dolosa (intencional) com o objetivo de fragilizar a atuação estatal
na proteção ao meio ambiente.
“É possível
identificar, nas medidas adotadas, o alinhamento a um conjunto de atos que
atendem, sem qualquer justificativa, a uma lógica totalmente contrária ao dever
estatal de implementação dos direitos ambientais, o que se faz bastante
explícito, por exemplo, na exoneração de servidores logo após uma fiscalização
ambiental bem sucedida em um dos pontos críticos do desmatamento na Amazônia
Legal”, diz a ação judicial.
O ministro
exonerou, no final de abril de 2020, 3 coordenadores da fiscalização ambiental
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente: Olivaldi Azevedo, Renê Oliveira e
Hugo Loss. As exonerações ocorreram após ações de fiscalização nas terras
indígenas Ituna Itatá, Apyterewa , Trincheira-Bacajá e cachoeira seca, na
região de Altamira, onde as equipes do Ibama conseguiram reduzir o desmatamento
após o aumento, em 2019, que chegou a 754%. Nas operações, que ocorreram no mês
anterior às suas exonerações, os fiscais destruíram cerca de 100 máquinas e
equipamentos utilizados por quadrilhas para cometer crimes ambientais, número
superior ao de todo ano de 2019.
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A ação judicial do
MPF enumera atos, medidas, omissões e declarações de Ricardo Salles que
considera ter inviabilizado a proteção ambiental e, assim, “contribuíram
decisivamente para a alta do desmatamento e das queimadas, sobretudo na região
amazônica“.
“Os resultados
são consequência direta da série de medidas que Ricardo Salles tomou para
enfraquecer a proteção ambiental“, diz nota divulgada pelo órgão. “Com
ele no comando da área, o país teve, no mesmo ano das maiores altas do
desmatamento, o menor número de multas por crimes ambientais em 20 anos. Ele
também foi responsável por reduzir em 25% o orçamento do meio ambiente e por
paralisar o Fundo Amazônia, deixando de receber investimentos vultuosos que
poderiam estar sendo utilizados para ações de preservação da floresta.”
Gastos X eficácia
Após praticamente
paralisar a fiscalização ambiental e paralisar o Fundo Amazônia, entre agosto e
setembro de 2019, o país e o mundo viram os incêndios florestais avançarem de
maneira alarmante e, diante da pressão internacional, o governo brasileiro decretou
a chamada GLO – Garantia de Lei e Ordem, repassando para as forças armadas a
incumbência de combater crimes ambientais e controlar queimadas e desmatamento,
através da Operação Brasil Verde, que funcionou durante dois meses no ano
passado. O MPF aponta na ação judicial que, em dois meses, a Operação custou
mais de R$ 124 milhões, o que representou aproximadamente R$ 14 milhões a mais
do que todo o orçamento anual previsto para ações de comando e controle pelo
Ibama no ano de 2019.
“Ressalte-se que
tal operação se deu apenas quando a situação das queimadas na região amazônica
tomou proporções desmedidas e o fogo ganhou repercussão negativa internacional.
Como elas ocorrem no período de seca amazônica, que começa em julho e vai até
novembro de todo ano, a desproporcionalidade das queimadas ocorridas em 2019
era consequência previsível e evitável por meio da efetivação escorreita da
política ambiental, disciplinada em vários regramentos legais, inclusive em
atos próprios e já tecnicamente balizados pelo Ministério do Meio Ambiente,
como o PPCDAm – Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia”, diz
o MPF. Ricardo Salles se recusou a aplicar o PPCDAm e por isso, para o MPF, tem
responsabilidade direta nas imensas perdas florestais, causando ainda danos aos
cofres públicos no processo.
O MPF explica na
ação que, ao reduzir o orçamento da área ambiental, Ricardo Salles não fez
economia e, ao contrário, provocou gastos muito maiores com a realização da
operação das Forças Armadas na Amazôna que, apesar de ter reduzido as queimadas
ano passado, não vem conseguindo reduzir o desmatamento. Para o MPF, também é
um ato de improbidade subordinar o Ibama, que é o órgão de estado com
capacidade técnica de fazer fiscalização ambiental, às Forças Armadas, a quem tal
tarefa não pertence. A GLO foi reeditada em maio desse ano, supostamente para
fazer frente a subida constante do desmatamento – em todos os meses de 2020 o
desmatamento foi maior do que nos mesmos meses de 2019.
Mas ao analisar os dados posteriores à atuação dos militares, o MPF descobriu que eles não conseguem reduzir o desmatamento como os fiscais do Ibama conseguiram no início do ano, antes da exoneração dos coordenadores da fiscalização. E por um custo muito maior. Enquanto o orçamento do Ibama para todo o ano de 2020 é de R$ 76,8 milhões, dois meses de funcionamento da GLO na Amazônia custa aos cofres públicas R$ 60 milhões. “O que está em curso, para o caso, como consequência dos atos e omissões de Ricardo Salles, é a implementação de uma política pública custosa e pouco eficaz, causando severos prejuízos aos cofres públicos e em total desacordo com os princípios que regem a Administração Pública Brasileira”, diz a ação judicial.
“Os efeitos da
fragilização da estrutura administrativa, são imediatos, como mostram os dados
sobre o aumento do desmatamento e o avanço de atividades econômicas ilegais
sobre áreas de floresta nativa, incluindo áreas especialmente protegidas, como
terras indígenas e unidades de conservação. A desregulamentação de medidas proibitivas,
a desmobilização de servidores e o desmonte da fiscalização consistem em
frentes permanentes de fragilização dos órgãos ambientais federais. Em muitos
casos, os efeitos podem se tornar irreversíveis”, dizem os procuradores.
Reunião ministerial
Para o MPF, se
havia dúvidas quanto ao caráter doloso – ou seja, intencional – que caracteriza
os atos de improbidade administrativa de Ricardo Salles, elas deixaram de
existir quando vieram a público suas declarações durante a reunião ministerial
de 22 de abril de 2020. Ali, diz o MPF, o acusado “escancarou os propósitos de
sua gestão e o desvio de finalidade nos atos praticados”
O ministro declarou
que considerava a pandemia decorrente do novo coronavírus uma “oportunidade”
para modificar normas e adotar atos. Também sugeriu fazer uma “baciada” de
alterações e “passar a boiada”. “As declarações apenas expõem, de forma clara,
o que diversos atos já confirmavam: existe um verdadeiro encadeamento
premeditado de atuar contrário à proteção ambiental, caracterizando o dolo,
elemento subjetivo dos atos de improbidade. Analisando os fatos concretos,
desde o início de sua gestão à frente do MMA, o ministro tem adotado inúmeras
iniciativas em flagrante violação ao dever de tutela do meio ambiente, como a
desconsideração de normas, critérios científicos e técnicos, em desrespeito aos
princípios ambientais da precaução, da prevenção e da vedação do retrocesso.”,
diz o MPF.
EM TEMPO: O erro que algumas pessoas cometem consiste em pensarem que jamais serão julgadas algum dia, inclusive o Clã Bolsonaro, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e tantos outros. É a velha questão da impunidade. Agora durmam com essa bronca.
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