Foto: REUTERS/Adriano Machado |
FERNANDO CANZIAN
Folhapress, 1 de julho de 2020
O discurso negacionista do
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na epidemia do
coronavírus pode ter contribuído para matar principalmente seus
eleitores.
Em praticamente todas as ocasiões em
que o presidente minimizou a pandemia, a taxa de isolamento social no Brasil
diminuiu e mais pessoas morreram, proporcionalmente, nos municípios que mais
votaram em Bolsonaro em 2018.
A conclusão é do estudo
"Ideologia, isolamento e morte: uma análise dos efeitos do bolsonarismo na
pandemia de Covid-19", de quatro pesquisadores da Universidade Federal do
ABC (UFABC), da Fundação Getúlio Vargas e da Universidade de São Paulo.
O trabalho sustenta que a votação do
presidente no primeiro turno, por município, tem correlação negativa com a taxa
de isolamento; e correlação positiva com mortes por Covid-19.
Em resumo, onde Bolsonaro teve mais
votos, o isolamento tem sido menor — e o número de óbitos, maior.
"É como se, com seu discurso,
Bolsonaro tivesse levado seus eleitores ao abatedouro", diz um dos autores
do trabalho, Ivan Filipe Fernandes, doutor em Ciência Política pela USP e
professor da UFABC.
"Não conseguimos estimar quantas
pessoas morreram a mais por conta das falas do presidente, mas certamente
teríamos menos óbitos, principalmente entre seus apoiadores, se ele tivesse
agido de forma diferente."
A pesquisa levou em conta as ocasiões
em que Bolsonaro fez afirmações contrárias à ameaça da Covid-19 (como quando
falou em "gripezinha") e seus efeitos sobre o isolamento social,
monitorado a partir dos dados de georrefenciamento de telefones celulares
captados em todos os estados pela empresa Inloco.
A cada vez que Bolsonaro minimizou a
pandemia, foram registradas quedas significativas nas taxas de isolamento
social em todos os estados — sem exceção.
Esses resultados foram cruzados com a
votação do presidente no primeiro turno de 2018 e com o número de mortes
acumuladas por município, revelando que os óbitos foram maiores onde o
presidente conquistou mais votos.
Para reforçar os achados, além dos
votos no presidente em 2018, o levantamento analisou os efeitos diretos sobre
mortes das votações de José Serra (PSDB), em 2010, e Aécio Neves (PSDB), em
2014. Mas a correlação positiva só foi encontrada em relação à eleição de dois
anos atrás que levou Bolsonaro à presidência.
Um cruzamento adicional mostra ainda
que a adesão ao isolamento social foi menor nos municípios em que o presidente
teve votações mais expressivas.
As conclusões de Ivan Fernandes e
seus colegas no trabalho — ainda não publicado em revista de referência, nem
submetido a revisão por pares — são reforçadas por um outro levantamento
realizado pelo cientista político Carlos Pereira, professor da FGV.
Em suas pesquisas, Pereira constatou
que o apoio ao isolamento social diminuiu entre os eleitores identificados como
de direita à medida em que a epidemia foi se tornando mais grave no Brasil.
Numa primeira rodada de entrevistas
com esse tipo de eleitor, entre o fim de março e o começo de abril, 59%
apoiavam o isolamento para combater a expansão da epidemia.
Em uma segunda vez em que os
eleitores de direita foram questionados, entre o fim de maio e o começo de
junho (após a maioria das declarações do presidente), o apoio ao isolamento
havia caído para 41%.
Pereira afirma que há dois tipos de
eleitores de direita identificados com Bolsonaro: 1) os identitários, mais
coesos e que apoiam o discurso conservador do presidente; e 2) os pragmáticos,
circunstancialmente favoráveis desde que sejam tocadas as agendas econômica e
de combate à corrupção.
"É sobretudo entre os
identitários que figuram os eleitores mais propensos a negligenciar o
isolamento social", diz o cientista político.
Segundo Pereira, o impacto substantivo de ser
conservador é maior até que o medo da morte entre esses eleitores. "Ter
proximidade com alguém que morreu por Covid-19 reduz em torno de 20% as chances
do eleitor de direita votar em Bolsonaro. Mas possuir a identidade conservadora
com o presidente pode garantir quase 90% de apoio desse eleitor à sua reeleição
em 2022."
EM TEMPO: Quem tem um pouquinho de juízo e cultura, mesmo que tenha votado em Bolsonaro, não vai na sua onda genocida de incentivar a quebra do isolamento social, a ausência do uso de máscara, álcool gel, etc. Além de ir de encontro aos ensinamentos da ciência e dos médicos. Agora durmam com essa bronca, mas fiquem em casa aqueles que puderem.
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