Por Malta Araújo*
Na última
quarta-feira, dia 24 de junho, o Senado aprovou o PL 4162 de autoria do Senador
Tasso Jereissati (PSDB-Ce), que abre o caminho para a total privatização da
água no Brasil. O Senador é um dos maiores empresários do Brasil e foi governador
do estado do Ceará em três gestões: 1987-1990, 1995-1998 e 1999-2002. Como
representante do grande capital foi protagonista direto das privatizações do
BEC – Banco do Estado do Ceará (1999); TELECEARÁ – Telecomunicações do Ceará
(1998); COELCE – Companhia de Eletricidade do Ceará (1998).
Para conhecer melhor
o Senador Coca-Cola devemos puxar pela memória e lembrar que, em junho de 1997,
a Folha de São Paulo divulgou o pedido do Sindicato para que o governo federal
investigasse operações do BNB que teriam beneficiado o então governador Tasso
Jereissati (PSDB/CE) e o senador Sérgio Machado, então líder do PSDB no Senado.
A operação teria acontecido em dezembro de 1994 quando a Poty Refrigerantes, em
Natal (RN), fábrica da Coca-Cola que pertencia à família Machado, foi vendida à
empresa Refrescos Cearenses e a TJ Participações, da família de Jereissati. O
BNB ignorou a hipoteca que havia sobre o prédio da Poty Refrigerantes para
permitir que o imóvel entrasse em transação comercial realizada com a empresa
da família Jereissati.
Em 1998, o Sindicato
dos Bancários do Ceará reproduziu matéria de capa publicada pela revista IstoÉ
(ed. 1610) que denunciava Tasso Jereissati de beneficiar suas empresas com
dinheiro público. De acordo com os auditores do TCU, a administração do BNB foi
marcada por várias irregularidades. Uma delas foi o empréstimo concedido a
Refrescos Cearenses (Coca-Cola), cujo proprietário é Tasso Jereissati, de cerca
de R$ 24 milhões, quase três vezes mais que o valor máximo fixado por técnicos
do próprio BNB, com dinheiro do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do
Nordeste (FNE), instalado na Câmara Federal. O Senador também foi acusado de
usar notas frias, para fraudar a prestação de contas junto ao BNB.
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Nesse período
ocorreram também outras irregularidades com as liberações de recursos do BNB
(Banco do Nordeste do Brasil) para a TV Mirante (R$ 12 milhões), do grupo
Sarney no Maranhão. Todos lembram que Tasso Jereissati (PSDB-CE) formava, com
Sarney (PMDB-AP) e Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA), o trio de senadores
influentes e aliados de FHC no Nordeste.
A revista IstoÉ (ed.
1731), em 2002, divulgou que, em razão das irregularidades, a Justiça
determinou o bloqueio de bens de Byron Queiroz e mais seis diretores do BNB
acusados pelo Ministério Público Federal (MPF) de gestão fraudulenta, omissão
contábil e formação de quadrilha. Além de fraudar balanços para beneficiar
empresas amigas, inclusive as do seu padrinho político Senador Tasso
Jereissati, Byron propositadamente deixou de cobrar dívidas, que provocaram um
rombo de quase R$ 7,5 bilhões, contraídas por empresários nordestinos com o
BNB.
Uma ação do MPF
apontou, em outubro de 2004, que a diretoria do BNB incorreu em improbidade
administrativa, ao contratar serviços advocatícios sem licitação pública.
Acusado de gestão fraudulenta e formação de quadrilha, o ex-presidente do BNB
Byron Queiroz e mais quatro ex-diretores e um ex-superintendente foram
condenados em 2007 a penas de 11 a 13 anos de reclusão pelo juiz Federal
Substituto da 12ª Vara da Justiça Federal, José Donato de Araújo Neto. O juiz
concluiu, após análise dos autos, que foram “evidentes e gravíssimas” as
irregularidades cometidas pelos denunciados na administração do BNB. Para ele,
diversas fraudes foram promovidas durante a gestão dos denunciados para
beneficiar os grandes devedores inadimplentes e encobrir a real situação
patrimonial enfrentada pelo banco, caracterizando gestão fraudulenta e formação
de quadrilha.
Portanto, com o PL
4162, as nossas reservas de água potável poderão cair em mãos de transnacionais
como Nestlé e Coca-Cola, que já controlam fontes em todo mundo. Foi assim com o
setor elétrico, mineração, hidrelétrico, telefonia…
Por fim, citando
Mauro Iasi, “O rei Capital é como aquele rei Midas (que transformava em ouro
tudo que tocava). Só que o Capital transforma tudo em mercadoria; até mesmo a
força de trabalho dos seres humanos”. Segundo ele, pela lógica de acumulação do
capital, a transformação deve se estender para todas as esferas da vida.
*Advogado, membro do
Comitê Central do PCB.
Fontes:
http://bancariosce.org.br/jornal_detalhes.php?cod_noticia=1391&cod_jornal=107&cod_jornal_secao=1
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc040642.htm
https://istoe.com.br/31284_CORONE+DOS+ZOIO+AZUL/
https://groups.google.com/forum/m/#!topic/jornalistasamigos/CGU14xPVa9s
EM TEMPO: A água é um bem público e não pode ser privatizada. Com a privatização as contas de água vão aumentar assustadoramente. Na hora de votar é bom ficarmos atentos para derrotarmos os carrascos da população, especialmente da mais pobre. A maioria dos parlamentares defendem os interesses das Classes Dominantes do país e estão lá no Congresso para essa finalidade. Agora durmam com essa bronca, mas antes "abram os olhos" e fiquem atentos na hora de votar.
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