(EVARISTO SA/AFP via Getty Images) |
Yahoo Notícias, 29 de junho de 2020
A operação Anjo, deflagrada em 18 de junho, avançou alguns passos na elucidação dos laços de Fabrício Queiroz e da família Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro.
A profundidade dessa relação ainda
não está clara, mas o Ministério Público revelou fatos importantes na peça em
que pediu a prisão do ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
Entre eles, um encontro suspeito
entre o advogado do senador, Luis Gustavo Botto, e familiares do ex-capitão do
Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como chefe de uma milícia.
Também participou dessa reunião a
mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, que segue foragida. O objetivo, segundo a
Promotoria, seria elaborar um plano de fuga para a família do ex-assessor com a
ajuda de Adriano, seu amigo.
Outro ponto levantado pela Promotoria
é a relação de Queiroz com milicianos da zona oeste do Rio. Mensagens trocadas
entre Márcia e o marido indicam que ele mantém influência sobre um grupo
paramilitar de Rio das Pedras.
Em dezembro de 2019, Márcia
encaminhou ao PM aposentado o áudio de um homem que queria pedir ajuda a
Queiroz depois de ter sido ameaçado pelo grupo paramilitar que domina a região.
"Eu queria que, se desse para
ele ligar, se conhecer alguém daqui, Tijuquinha, Rio das Pedras, os 'meninos'
que cuidam daqui", afirmou o interlocutor à mulher de Queiroz.
Em resposta a Márcia, o ex-assessor
disse que poderia interceder com os milicianos pessoalmente, mas que não faria
o contato pelo telefone porque tinha receio de estar grampeado.
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Queiroz se tornou assessor de Flávio
Bolsonaro em 2007 e foi exonerado em outubro de 2018, quando já era alvo de
investigação do Ministério Público do Rio. Segundo o empresário Paulo Marinho,
o senador foi informado à época sobre o procedimento por um delegado da PF.
A Promotoria afirma que o ex-servidor
atuou como operador financeiro de um esquema de rachadinha (devolução de
salários) no gabinete do filho do presidente.
De acordo com o MP-RJ, 11 assessores
vinculados a Flávio repassaram pelo menos R$ 2 milhões a Queiroz, sendo a maior
parte por meio de depósitos em espécie.
A Promotoria identificou que o
ex-assessor pagou mensalidades escolares e planos de saúde da família do chefe.
Essa teria sido uma forma de lavar o dinheiro obtido com a suposta rachadinha.
A proximidade de Queiroz com os
Bolsonaros vai além da relação profissional. Ele entrou no gabinete de Flávio
por meio do presidente Jair Bolsonaro, de quem é amigo há mais de 30 anos.
Os dois se conheceram no Exército.
A filha de Queiroz, Nathalia, também
se tornou funcionária fantasma no gabinete de Jair na Câmara dos Deputados.
Outro ponto que liga o presidente ao
ex-assessor é um cheque de R$ 24 mil recebido de Queiroz por Michelle
Bolsonaro. Jair afirma que o valor corresponde a um empréstimo que havia
concedido ao amigo. Nunca apresentou, no entanto, comprovante dessa transação.
A operação que prendeu Queiroz
aprofundou também os laços da família com o ex-capitão do Bope Adriano
Magalhães da Nóbrega.
Adriano foi acusado de liderar o
Escritório do Crime, milícia formada por matadores de aluguel. O grupo é
suspeito de ter participado do assassinato da vereadora Marielle Franco, que
ainda não foi elucidado.
O ex-capitão morreu em fevereiro
deste ano, em uma operação policial na Bahia. As circunstâncias de sua morte
levantaram a hipótese de queima de arquivo.
Queiroz e Adriano eram amigos e
trabalharam juntos no 18° Batalhão da Polícia Militar. Teria sido Queiroz o
responsável pela indicação para o gabinete de Flávio da mãe e da ex-mulher do
capitão.
Durante o período em que permaneceram
no gabinete, Danielle Mendonça da Silva e Raimunda Veras Magalhães obtiveram
remuneração de R$ 1 milhão. Desse valor, R$ 400 mil retornaram para Queiroz.
O Ministério Público não esclareceu o
destino dos R$ 600 mil que ficaram com a família de Adriano.
Em mensagens trocadas com a ex-mulher
após sua exoneração, ao final de 2018, ele indica que também se beneficiava do
esquema. "Contava com o que vinha do seu também", escreveu.
Na peça que pediu a prisão de
Queiroz, a Promotoria revela que a amizade entre Queiroz e Adriano se manteve
forte ao longo das investigações e que pode ter envolvido atos ilícitos.
As mensagens coletadas pela
Promotoria também indicam que o advogado de Flávio Bolsonaro, Luis Gustavo
Botto, orientou a mãe de Adriano, Raimunda, a se manter longe do Rio durante as
investigações da rachadinha. Ela se abrigou em uma casa em Astolfo Dutra, em
Minas Gerais.
"Gustavo falou que ela pode
voltar. Mas como abriram as investigações agora eu acho melhor ela esperar mais
um pouco", escreveu Queiroz à mulher em dezembro de 2019.
No mesmo mês, segundo as mensagens
apreendidas pelo Ministério Público, se reuniram na cidade mineira a mãe e a
mulher de Adriano, Márcia e Botto.
O objetivo, segundo o Ministério
Público, era que a mulher do ex-capitão, então foragido, levasse a ele um
recado de Queiroz.
"Vai falar com o amigo sobre o
recado", escreveu Márcia Aguiar ao marido. "Depois que ela falar com
o amigo ela vai entrar em contato comigo", completou.
A promotoria acredita que Adriano
iria elaborar um plano de fuga para a família de Queiroz, mas não apresentou na
peça os indícios dessa teoria.
Antes de ir a Minas, segundo o MP-RJ,
Botto teria se encontrado com Queiroz e Frederick Wassef, advogado que era
próximo e atuava para a família Bolsonaro.
Mesmo sem mandado de prisão aberto
contra ele à época, Queiroz se escondeu em um sítio em Atibaia (SP) de
propriedade de Wassef. Durante as investigações, o advogado abrigou o
ex-assessor, monitorou seus passos e restringiu sua movimentação.
A benevolência da família Bolsonaro
com as milícias é anterior ao episódio da rachadinha. Ao longo dos anos, uma
série de discursos do atual presidente e de seus filhos minimizou a gravidade
das ações desses grupos -além de ter defendido e exaltado policiais suspeitos de
atuação criminosa.
Adriano da Nóbrega, por exemplo,
estava preso quando foi homenageado por Flávio com a Medalha Tiradentes, mais
alta honraria da Assembleia Legislativa.
Nóbrega também foi destaque de um
discurso de Jair Bolsonaro. No plenário da Câmara dos Deputados, em 2005, o
então deputado federal afirmou que o ex-capitão era um "brilhante
oficial".
Outro ponto que aproxima Flávio
Bolsonaro das milícias é sua relação com Valdenice Meliga, tesoureira de sua
campanha ao Senado.
Val, como é conhecida, recebeu
procuração para assinar cheques da campanha. Ela também foi tesoureira do
diretório estadual do PSL, antigo partido do senador.
Dois irmãos de Valdenice, os PMs Alan
e Alex Rodrigues de Oliveira, foram presos em agosto de 2018 pela Operação
Quarto Elemento, que mirou uma quadrilha de policiais especializados em
extorsões.
Da FOLHAPRESS
EM TEMPO: Depois que o Queiroz foi preso, Bolsonaro faz o L de "Lula Livre". Quem levar Bolsonaro para casa para concluir sua criação, lembrem-se de não ensiná-lo a fazer a letra "L". Agora durmam com essa do "bolsolula" (rsrsrs).
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