PODER 360 - Caio Spechoto
© Sérgio
Lima/Poder360. Nelson Teich
e Pazuello, quando ainda eram ministro e secretário-executivo
A curva de mortes
por covid-19 acelerou nas últimas semanas no Brasil. Foram quase 30.000 óbitos
nos últimos 30 dias. Nesse mesmo período os ministros de Estado desapareceram
das entrevistas diárias do governo sobre a pandemia.
É uma atitude
diferente do que se vê em alguns outros países, quando os governantes estavam
diariamente na TV nos momentos mais dramáticos do surto do novo coronavírus.
Nos EUA, tanto
presidente Donald Trump como governadores de Estados mais afetados, como Andrew
Cuomo em Nova York, participaram de inúmeras entrevistas à imprensa para dizer
o que se passava e quais providências eram tomadas. No Brasil, no Estado de São
Paulo (o mais impactado), o governador João Doria (PSDB) adota a mesma
estratégia.
No governo federal,
as entrevistas passaram a ser com representantes de 2º ou 3º escalão. O atual
ministro interino, general Eduardo Pazuello, participava desses eventos
enquanto era secretário-executivo do Ministério da Saúde, mas não fala à mídia
nesses encontros desde que assumiu a pasta, em 16 de maio.
Já houve ocasiões
em que vários ministros participavam, inclusive o titular da Economia, Paulo
Guedes. Isso não acontece mais. Os ministros do governo de Jair Bolsonaro têm
sido expostos cada vez menos a questionamentos sobre o coronavírus e seus
efeitos no país. No começo de abril, era comum nas entrevistas promovidas pelo
Palácio do Planalto mais de 1 ministro estar presente ao mesmo tempo, em
horário próximo ao da divulgação do número de mortos confirmados pela covid-19.
Há cerca de 3
semanas, porém, apenas técnicos dos ministérios têm falado. As entrevistas –do
tipo conhecido no jargão como “coletivas”, para mais de 1
jornalista ao mesmo tempo– sobre a covid-19 foram centralizadas no Palácio do
Planalto em 30 de março.
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Antes, o então
ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta concedia entrevistas diariamente na
sede de sua pasta. Ganhava protagonismo. Quando inaugurou as falas sobre o
assunto no Planalto, o ministro Walter Braga Netto (Casa Civil), responsável pela
alteração, disse o seguinte:
“A questão do
coronavírus, devido à sua complexidade, é transversal. Abrange não apenas o
esforço do Ministério da Saúde, mas também o esforço de todos os ministérios
envolvidos no governo federal. A partir de hoje (30.mar.2020), esse será o novo
formato da coletiva, sempre com a participação de mais de 1 ministério, para
que possa trazer esclarecimento a toda a população brasileira do esforço que
está sendo feito pelo governo”, declarou Braga Netto.
O Poder360 compilou as presenças de
ministros nessas entrevistas. Com o passar do tempo e o avançar da pandemia, o comparecimento
de integrantes do 1º escalão nesses eventos diminuiu.
Quando comparece a
uma entrevista desse tipo, o ministro fica exposto a questionamentos sobre as
mortes causadas pelo coronavírus e seus efeitos na sociedade brasileira. Ao ter
a própria imagem transmitida enquanto fala de assunto negativo, pode ficar, na
cabeça do expectador, associado à crise do coronavírus.
O tema é
desconfortável ao governo. O presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que “acabou matéria no
Jornal Nacional” quando a divulgação dos dados de mortos e
infectados passou para as 22h.
Braga Netto, que
coordena o comitê de crise da pandemia, é quem mais apareceu nessas
entrevistas: 14 vezes. Em 2º e 3º vêm os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique
Mandetta (9 vezes) e Nelson Teich (7 vezes), respectivamente. Empatado na 2ª
colocação com Mandetta está Onyx Lorenzoni (Cidadania).
Atual ministro
interino, Eduardo Pazuello participou dessas entrevistas quando ainda era
secretário-executivo de Nelson Teich. Depois de assumir a pasta, não mais
compareceu – como mostra sua agenda pública.
Pazuello respondeu
a perguntas de
deputados na Câmara em 9 de
junho. Naquele dia, também falou com jornalistas.
Pazuello e os congressistas
O ministro interino tem menos interações com jornalistas do que os antecessores, mas tem tido contato frequente com congressistas. Em 30 dias no cargo, recebeu 15 deputados do Centrão e do PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu.
A maior parte dos deputados recebidos é do baixo clero – políticos sem maior expressão no Congresso. O mais assíduo foi Hiran Gonçalves (PP-RR), que encontrou Pazuello 5 vezes.
Ao Poder360, Gonçalves disse que ele e o
ministro se conhecem desde quando eram crianças, em Manaus. Assim, entre os
partidos, o PP foi o mais prestigiado, seguido do PSL e do DEM.
O antecessor de
Pazuello, Nelson Teich,
recebeu apenas 4 deputados nos 29 dias em que
esteve à frente do Ministério da Saúde. Não manteve audiência com senadores.
EM TEMPO: Será que o general Pazuello, também pensa que se trata de uma "gripezinha"? O certo seria entregar o cargo e levar os seus colaboradores militares, deixando que o Ministério da Saúde seja administrado por uma equipe de profissionais da saúde. Mas, atualmente é difícil encontrar uma equipe médica, uma vez que o Bolsonaro tenta a todo momento ser um "médico com notório saber", receitando Cloroquina, e impor sua orientação desastrosa de descontinuidade do isolamento social, além de humilhar os profissionais de saúde. Cadê o Conselho Nacional de Medicina para proibir e processar Bolsonaro por exercício indevido da profissão médica? Agora durmam com essa bronca, mas fiquem em casa que esse vírus vai durar um bocado de tempo.
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