ESTADÃO - Gabriel Caldeira
© DIDA
SAMPAIO/ESTADAO Manifestação
contra STF em Brasília.
Os protestos contra as instituições democráticas e
a favor do governo têm intensificado os discursos do
presidente Jair Bolsonaro, expondo
uma "radicalização" dentro do próprio bolsonarismo. "À medida
que perde apoio social, ele passa por um processo de depuração, uma purificação
na leitura desses grupos, quando somente os mais radicais bolsonaristas
permanecem apoiando o presidente", observa o especialista em neofascismo e
professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Odilon Caldeira Neto.
Na visão do
professor, as últimas manifestações têm passado a impressão de um discurso cada
vez mais totalitário, contra a imprensa livre e, por vezes, com atos violentos.
Segundo ele, esse processo está em curso há alguns meses e ocorre, em boa
parte, de acordo com a gravidade da pandemia do novo coronavírus no Brasil, como forma de desviar o foco
da crise provocada pela covid-19.
No último domingo,
31, Bolsonaro participou, mais uma vez,
de manifestação em frente ao Palácio do Planalto que
pedia o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF),
além da instauração de uma nova ditadura militar. Primeiro observando o ato de
um helicóptero e depois montado em um cavalo, o presidente cumprimentou os
manifestantes, que entoavam gritos de ordem contra seus adversários.
Caldeira Neto
coloca os protestos bolsonaristas em um panorama global de movimentos da
extrema direita, com o uso de símbolos em comum e pautas similares. Ele cita,
por exemplo, o uso de tochas e capuzes - ou máscaras - pelo grupo 300 do Brasil,
organizado pela militante bolsonarista Sara Winter, que na madrugada de domingo marchou em direção ao
prédio do STF, em Brasília. Segundo o professor, o grupo tem inspiração direta
nas manifestações ocorridas em Charlottesville,
nos Estados Unidos, em 2017,
quando protestantes da direita radical norte-americana se aproveitaram da
estética dos supremacistas da Ku Klux Klan.
Além das
inspirações estadunidenses, Caldeira Neto destaca a utilização de bandeiras de
grupos neofascistas da Ucrânia, como foi visto em ato bolsonarista na Avenida
Paulista, em São Paulo. Segundo ele, há uma razão para que os manifestantes
brasileiros escolham a Ucrânia como exemplo ideal, país que passou pela
destituição de seu ex-presidente Viktor Yanukovich em 2014 e, a partir disso,
viu a entrada de figuras da extrema direita na política nacional. "Eles
olham para a Ucrânia como um laboratório de sucesso que deve ser aplicado no
Brasil", explica o especialista.
O professor atenta,
porém, que esses grupos radicais ainda são minoria nas manifestações. Sobre os
300 do Brasil, por exemplo, ele afirma que deve-se "levar em consideração
que não eram 300, mas algumas dezenas de pessoas". Para ele, não é a
quantidade de radicais de extrema-direita o que mais preocupa, mas sim o espaço
que ganham com Bolsonaro na Presidência da República. "Desde o começo do
bolsonarismo, antes de 2014, as tendências mais radicais da extrema direita
convivem com outras, como as armamentistas, ultraliberais, religiosas, etc.,
mas hoje eles conseguem pautar as suas discussões, porque já não estão
marginalizadas dentro deste campo político", avalia o professor.
EM TEMPO: É uma esculhambação que presenciamos semanalmente nesse desgoverno Bolsonaro.
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