(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress) |
IGOR GIELOW
BRASILIA, DF,
BRASIL, 11-02-2020, 12h00: O ministro da Educação Abraham Weintraub fala
durante audiência na Comissão de Educação do Senado.
SÃO PAULO, SP
(FOLHAPRESS) - A operação da Polícia Federal contra alvos ligados ao
bolsonarismo fez aumentar a pressão dos filhos do presidente Jair Bolsonaro em
favor da manutenção de Abraham Weintraub na pasta da Educação.
Weintraub é um
expoente da dita ala ideológica do governo, que professa no discurso a ideia de
uma revolução política de destruição da política tradicional.
Ele e o
chanceler Ernesto Araújo são os principais ministros associados ao grupo, que é
liderado pelos filhos do presidente, especialmente o vereador carioca Carlos
(Republicanos) e o deputado federal paulista Eduardo (PSL), e emula ideias do
escritor Olavo de Carvalho, hoje crítico do governo.
O ministro da
Educação ficou por um fio no cargo após virar alvo do STF (Supremo Tribunal
Federal) no inquérito tocado pela corte que apura a disseminação de fake news.
Na reunião ministerial de 22 de abril, Weintraub havia dito que os ministros do
tribunal eram "vagabundos" que deveriam ir para a cadeia.
O episódio só
fez crescer o embate entre Bolsonaro e o Judiciário. No domingo (14), Weintraub
participou de um ato pedindo o fechamento do Supremo e do Congresso, na manhã
seguinte ao ataque com fogos de artifício ao prédio da corte por militantes
bolsonaristas.
O ministro Dias
Toffoli, presidente do STF, fez chegar ao Planalto extrema contrariedade e a
ideia de que o diálogo se tornaria impossível entre os Poderes.
Sua cabeça, que
já havia sido prometida havia duas semanas como forma de apaziguar as relações
pelo Planalto, voltou a ser colocada na guilhotina. Bolsonaro e Weintraub
conversaram na tarde de segunda (15), e o presidente disse à noite que estava
tentando resolver o "problema" um discurso ambíguo que convence a
poucos.
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O ponto é que
Weintraub virou um talismã dos radicais bolsonaristas, apesar dos inúmeros
problemas de sua gestão à frente do MEC e do fato de que teve de ceder ao
centrão uma série de cargos com enormes verbas na pasta no processo de
"seguro contra impeachment" que Bolsonaro está operando.
Com isso, a
operação contra pessoas como o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos nesta
manhã de terça (16) inflou o discurso da ala ideológica de não ceder
simbolicamente ao Supremo.
Eduardo
inclusive repostou, no Twitter, mensagem de apoio a Weintraub feita pelo
deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), um dos alvos da PF hoje.
Integrantes da
ala militar do governo e outros ministros aconselharam Bolsonaro a se livrar de
Weintraub para arrefecer a beligerância na praça dos Três Poderes. Ouviram
ponderações favoráveis a isso na segunda, mas nesta terça o clima mudou.
Pesa em favor do
ministro da Educação o apreço pessoal de Bolsonaro por ele. Na noite passada, a
discussão era onde acomodá-lo sem parecer que seria uma afronta ao Supremo até
embaixadas foram cogitadas.
O caso seguia
inconcluso até a noite desta terça, mas a balança por ora foi reequilibrada em
favor do ministro pelo que os ideológicos chamam de cerco judicial ao Planalto,
um raciocínio que encontra eco entre os ministros oriundos das Forças Armadas e
em alguns setores da ativa.
Por outro lado,
o sentimento majoritário no serviço ativo é o de que Bolsonaro esticou demais a
corda.
Incomodou-os
especialmente a nota divulgada na sexta (12), na qual o presidente, o vice
Hamilton Mourão e o ministro Fernando Azevedo (Defesa) falaram em nome das
Forças Armadas de forma ameaçadora.
Disseram que
elas não aceitariam ordens absurdas (do Supremo, no caso, pois a nota foi
posterior a decisão de Luiz Fux dizendo que os militares não são poder
moderador) e julgamentos políticos (aludindo à ação de cassação da chapa
Bolsonaro-Mourão na Justiça Eleitoral), algo fora do regramento constitucional.
O Supremo, por
sua vez, abriu um canal institucional com a ativa, na figura de uma visita de
cortesia do ministro Gilmar Mendes ao comandante do Exército, Edson Pujol, que
está distante do Planalto.
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