ESTADÃO - Wilson Tosta
© Dida
Sampaio/Estadão Alexandre
Ramagem, diretor-geral da Abin
RIO – Origem
da Operação Furna da Onça,
cujo teor e deflagração teriam sido vazados para o hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)
na campanha de 2018, a Operação
Cadeia Velha foi comandada pelo delegado Alexandre Ramagem, preferido do
presidente Jair Bolsonaro para comandar
a Polícia Federal. O policial – cuja
nomeação foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal –
é personagem da crise que resultou na demissão de Sérgio Moro do Ministério da
Justiça e de Maurício Valeixo da chefia da PF.
Na Cadeia Velha,
foi produzido o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou
movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, assessor de Flávio na Assembleia
Legislativa do Rio. Até agora, porém, nada liga Ramagem, diretor-geral da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ao vazamento ou a outra ilegalidade
na ação dos policiais federais no Rio.
Em novembro de
2017, a Cadeia Velha investigou a concessão ilegal de benefícios fiscais a
empresas mediante vantagens indevidas. A Furna da Onça, em novembro de 2018,
apurou o pagamento de propinas a deputados estaduais. Ambas tiveram como
epicentro a Alerj, e seus desdobramentos chegaram a assessores de mais de 20
parlamentares. Segundo o Coaf, eles movimentariam em contas bancárias quantias
muito superiores a seus vencimentos.
Isso levantou a
suspeita de rachadinha –
repasse de parte do salário do comissionado ao parlamentar que o contratou. Um
dos ocupantes desses cargos era Queiroz, que, em um ano, movimentou R$ 1,2 milhão.
O assessor recebeu depósitos de colegas de gabinete, muitas vezes em datas
perto do dia de pagamento. A investigação dessas suspeitas ficou com o Ministério Público Estadual e
envolveu Flávio. Ele não fora alvo das duas operações que devassaram a Casa e
levaram à prisão seus ex-presidentes Jorge Picciani e Paulo Melo (MDB).
Entre as duas ações
da PF, Ramagem se tornou próximo dos Bolsonaros. Foi designado para cuidar da
segurança do então presidenciável após o atentado à faca em Juiz de Fora, em 6
de setembro de 2018. Teve ascensão rápida no novo governo. Chegou a ser nomeado
superintendente da PF no Ceará, em fevereiro de 2019, mas foi deslocado para um
cargo de assessor especial do então ministro da Secretaria de Governo, general
Santos Cruz. Em julho, foi para a Abin. Recentemente, Bolsonaro quis nomeá-lo
diretor-geral da PF.
O presidente queria ter, segundo Moro,
alguém com quem pudesse “interagir” e que lhe fornecesse relatórios de
inteligência. A suposta interferência do presidente na PF é investigada no STF,
pelo decano da Corte, Celso de Mello.
De acordo com
entrevista ao jornal Folha de S.Paulo do empresário e suplente
de senador Paulo Marinho, que
participou da campanha de Bolsonaro, Flávio lhe contou que, uma semana após o
primeiro turno, o coronel Miguel Braga, atual chefe de gabinete do senador, o
procurou. O militar disse que um delegado da PF pedia um encontro, para tratar
de assunto do interesse do parlamentar. Braga afirmou ter respondido que o
senador eleito estava ocupado, mas relatou ao filho 01 do presidente o que
ocorria. Recebeu ordem para encontrar o policial. Reuniram-se, segundo Marinho,
na porta da superintendência da PF no Rio, na Praça Mauá. O policial disse que a Furna da
Onça iria “acontecer” na Alerj e atingiria Queiroz e a filha dele, Nathalia.
© Werther
Santana/Estadão O empresário
Paulo Marinho, suplente de Flávio Bolsonaro nas eleições de 2018.
Ambos foram
exonerados antes da ação que, segundo o delegado, seria postergada até depois
da votação, para não atrapalhar o resultado.
O desembargador
Abel Gomes, relator da Operação Furna da Onça no Tribunal Regional Federal da
2.ª Região, divulgou nota oficial afirmando que a ação que mirou esquema de
desvio de salários na Alerj “não foi adiada, mas, sim, deflagrada no momento
que se concluiu mais oportuno, conforme entendimento conjunto entre o
Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Judiciário”. Segundo o
magistrado, as autoridades entenderam que realizar a operação após o segundo
turno das eleições 2018 “seria o correto e consentâneo” com a lei – decisão que
caracterizou como uma “precaução lídima e lógica”.
Marinho disse que
tem “elementos que comprovam” seu relato. “Tenho provas, tenho elementos que
comprovam o relato que eu fiz. Já adianto que tudo que eu falei vou repetir
durante depoimento à PF, rigorosamente igual”, disse o empresário ao site G1.
Flávio é investigado pelo Ministério Público do Rio por peculato (desvio de
dinheiro público por servidor), lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Mais de 90 pessoas também estão sob investigação.
O senador reagiu às
afirmações de Marinho. Em nota, atacou o ex-aliado. “O desespero de Paulo
Marinho causa um pouco de pena. Preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a
mão. Trocou a família Bolsonaro por (João) Doria e (Wilson)
Witzel, parece ter sido tomado pela ambição. É fácil entender esse tipo de
ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, já
que seria meu substituto no Senado. Ele sabe que jamais teria condições de
ganhar nas urnas e tenta no tapetão”, afirmou.
O parlamentar nega
todas as acusações. Já tentou parar as apurações na Justiça pelo menos nove
vezes. Após alguns sucessos iniciais, as investigações foram retomadas. Queiroz
também sempre negou ter cometido irregularidades, embora tenha mudado de
versão. Já disse que ganhava dinheiro vendendo carros e depois admitiu que
recolhia dinheiro dos colegas, mas para ampliar a assessoria de Flávio, que não
saberia da prática. Também Marinho disse que o parlamentar teria dito que
Queiroz quebrara sua confiança. O presidente Bolsonaro sempre negou
irregularidades e já disse ser o verdadeiro alvo dos que atacam Flávio que,
acusou, teve seu sigilo bancário quebrado ilegalmente.
O Estadão tentou contato com
Alexandre Ramagem, sem sucesso.
A entrevista de
Marinho teve outras consequências. O Ministério Público Federal (MPF) deverá requerer que a
Polícia Federal desarquive inquérito que já tramitou, para apurar indícios de
vazamentos na Furna da Onça. Alguns presos não demonstraram surpresa com a
chegada da PF – um deles estava com o diploma de curso superior, que lhe garantiria
prisão especial. E o próprio Marinho, a seu pedido, passou a contar com
proteção policial em torno de sua casa, a partir desta segunda, 18. Sofreu
ameaças e pediu ajuda ao governo fluminense.
EM TEMPO: Nessa mistura toda só tem gente "fina", isto é, da mais "alta qualidade" (rsrsrs). Agora durmam com essa bronca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário