EL PAÍS - Afonso Benites
© Joédson Alves (EFE) O presidente Jair Bolsonaro nesta
terça-feira, em Brasília.
Foi como acender um
rastilho de pólvora. A decisão do empresário e presidente do PSDB no
Rio de Janeiro, Paulo Marinho, de romper de vez com Jair Bolsonaro e
afirmar que soube que integrantes da Polícia Federal atuaram para beneficiá-lo
na campanha presidencial de 2018 incendiou de vez a investigação sobre as
supostas tentativas do mandatário de interferir politicamente no trabalho da
PF. Por cinco horas na tarde desta quarta-feira, 20.05.2020, Marinho, que é suplente
do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)
e foi seu aliado até meados de 2019, prestou depoimento à Polícia Federal
dentro do inquérito que investiga se o presidente cometeu cinco crimes ao
tentar interferir politicamente na corporação. A investigação, aberta após
a demissão de Sergio Moro do
Ministério da Justiça no final de abril, se baseou nos relatos feitos pelo
ex-juiz da Lava Jato.
Ao sair do
depoimento, Marinho não revelou aos jornalistas o teor do que disse, alegando
que poderia atrapalhar as investigações. Limitou-se a dizer que suas palavras
iam ao “encontro” das acusações de Moro. Foi a sequência esperada do capítulo
que ele abriu no fim de semana, quando, em entrevista à Folha de S.
Paulo, trouxe novos elementos e personagens para a trama que enrola a
família
Bolsonaro.
O empresário diz ter provas do que revelou ao jornal.
Segundo esse antigo aliado de Bolsonaro, Flavio lhe contou numa reunião em sua
casa que fora avisado, antes do segundo turno da eleição de 2018, que dois
assessores dos Bolsonaro estariam entre os alvos da Operação Furna da
Onça, um desdobramento da Lava Jato que,
no dia 8 de novembro daquele ano, resultou na prisão de dez deputados estaduais
suspeitos de receberem uma mesada ilegal dos governos de Sergio Cabral e de
Luiz Fernando Pezão. A informação antecipada teria vindo de um delegado
simpatizante do então candidato Jair Bolsonaro.
Um dos alvos da investigação
era o ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, suspeito de administrar um
esquema milionário de apropriação de parte dos salários dos servidores
do gabinete – a rachadinha.
O episódio narrado
por Marinho acabou implicando outros personagens que terão de prestar
depoimento. Segundo ele, Flávio esteve em sua casa junto com o o advogado
Victor Granado Alves em dezembro de 2018. Alves foi o interlocutor de Flávio no
encontro com o delegado que antecipou a operação que atingiria a família
Bolsonaro em outubro de 2018, duas semanas antes do segundo turno.
A
justificativa do delegado que, segundo o relato, vazou a informação era de
proteger a campanha eleitoral de Bolsonaro, favorito a vencer a eleição. Alves confirmou ao jornal O Globo a reunião que teve com Flavio na
casa de Marinho no final de 2018.
Assessor próximo de
Flávio, o escritório de Granado Alves recebeu 500.000 reais provenientes do
fundo partidário do PSL entre fevereiro de 2019 e março de 2020 por prestar
serviço de assessoramento jurídico ao diretório estadual do Rio de Janeiro —a
legenda diz que vai cobrar os valores do advogado de volta. Flávio era quem
dirigia o partido no Estado. O valor é proveniente de recursos públicos, algo
que toda a família Bolsonaro costuma dizer que não precisava usar em sua
campanha eleitoral. O advogado, que também é investigado no esquema da
rachadinha, já defendeu o senador em casos envolvendo a uma franquia de
chocolates do parlamentar e possui duas lojas da mesma rede.
Conforme dois
policiais federais ouvidos pela reportagem, o entrelaçamento das apurações
mostra uma prática comum entre a família Bolsonaro e reforça que o ponto mais
fraco do presidente é a tentativa de proteger seus filhos de investigações, por
isso a pretensão de interferir na Superintendência da PF do Rio de Janeiro.
Influência de Ramagem
Outras testemunhas
que já haviam deposto no inquérito conduzido pelo ministro Celso de Mello
aumentam a pressão sobre o presidente. Ao menos dois deles contradisseram
Bolsonaro nesta semana. O mandatário alega que estaria descontente com Moro e
com o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, porque eles não forneciam
relatórios de inteligência para subsidiar suas decisões.
O delegado Cláudio
Ferreira Gomes, que até 12 de maio passado era diretor de Inteligência da PF,
afirmou que a Presidência nunca lhe cobrou esses relatórios. “Não houve nenhum
pedido específico de relatório de inteligência, por parte da Presidência da
República, dirigido à Diretoria de Inteligência Policial no período de sua
gestão”, afirmou aos policiais na terça-feira.
Já o atual diretor-executivo
da PF e ex-superintendente no Rio, Carlos Henrique Oliveira de Sousa, pediu
para revisar o depoimento que concedeu na semana passada. Antes, ele dizia que,
até assumir a superintendência do Rio, não havia sido procurado por nenhum
representante do Palácio do Planalto. Na terça, contudo, mudou o que disse.
Afirmou que, antes de assumir a superintendência no Rio, foi levado pelo
delegado Alexandre Ramagem para uma conversa com Bolsonaro na sede da
Presidência no segundo semestre do ano passado. O objetivo era para que o
presidente conhecesse o futuro chefe a PF em seu Estado. Ramagem é o diretor da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que foi impedido pelo Supremo
Tribunal Federal de assumir a direção-geral da PF por ser amigo dos filhos de Bolsonaro.
A reunião com o
presidente, conforme investigadores, mostra a importância que o mandatário dá
para a superintendência do Rio. Não é comum ocupantes de cargo de terceiro ou
quarto escalões da polícia reúnam-se com o chefe do Executivo.
Nesta quarta-feira,
a PF também interrogou os delegados Cairo Costa Duarte, superintendente da PF
em Minas Gerais, e o delegado Rodrigo Morais que investigou o atentado sofrido
por Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018. Ambos disseram que, ao
contrário do que demonstra publicamente, o presidente nunca lhes transmitiu
qualquer insatisfação sobre a conclusão do inquérito, de que Adélio Bispo agiu
sozinho no esfaqueamento de Bolsonaro.
O chefe de gabinete
de Flávio Bolsonaro, coronel Marcos Braga Grillo, também deverá ser interrogado
nos próximos dias. O militar é o outro dos assessores de Flávio que teria se
reunido com o delegado da PF que teria vazado a informação sigilosa aos
Bolsonaro.
Em Brasília, é
esperada a divulgação total ou parcial do vídeo de uma reunião ministerial, do
dia 22 de abril, na qual o presidente teria pressionado Moro pela troca de
comando na Polícia Federal. O relator do inquérito no STF, Celso de Mello,
informou que tomará sua decisão sobre esse tema até sexta-feira. O inquérito é
para investigar se Bolsonaro cometeu os crimes de falsidade ideológica, coação
no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça e
corrupção passiva privilegiada.
EM TEMPO: Bolsonaro quer dar um autogolpe para não ser descoberto as falcatruas dos "homens bons" da república e mandar prender a oposição. Agora durmam com essa bronca.
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