(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress) |
FÁBIO FABRINI
***FOTO DE
ARQUIVO***BRASÍLIA, DF, 22.10.2019 - O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)
durante votação em segundo turno do texto principal na reforma da Previdência,
no Plenário do Senado Federal, em Brasília (DF).
BRASÍLIA, DF
(FOLHAPRESS) - A PGR (Procuradoria-Geral da República) informou neste domingo
(17) que vai analisar o relato do empresário Paulo Marinho ao jornal Folha de
S.Paulo sobre um suposto vazamento de uma investigação da Polícia Federal ao
senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro
(sem partido).
O
procurador-geral, Augusto Aras, discutirá a denúncia com a equipe de
procuradores que atua em seu gabinete em matéria penal. Deve decidir se cabe
investigar o caso no âmbito do inquérito que apura, com base em denúncias do
ex-ministro Sergio Moro (Justiça), se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido)
tentou interferir indevidamente na Polícia Federal.
Ele poderá
requerer o depoimento de Marinho, por exemplo, o que não está definido por ora.
Segundo auxiliares de Aras, ainda não houve tempo para uma análise aprofundada
do caso. Será necessário analisar se o assunto guarda pertinência com a
investigação já em curso.
Na entrevista à
Folha de S.Paulo, Marinho, 68, que rompeu com o clã Bolsonaro após as eleições,
disse que, segundo ouviu do próprio filho do presidente, um delegado da Polícia
Federal antecipou a Flávio em outubro de 2018 que a Operação Furna da Onça
seria realizada.
A operação,
segundo Marinho, teria sido segurada para que não atrapalhasse Bolsonaro na
disputa do segundo turno da eleição. Os desdobramentos da Furna da Onça
revelaram um suposto esquema de "rachadinha" na Alerj (Assembléia
Legislativa do Rio) e atingiu Fabrício Queiroz, policial militar aposentado
amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flavio na Assembleia.
O empresário foi
um dos mais importantes e próximos apoiadores de Jair Bolsonaro na campanha
presidencial de 2018. Ele não apenas cedeu sua casa no Rio de Janeiro para a
estrutura de campanha do então deputado federal, que ainda hoje chama de capitão,
como foi candidato a suplente na chapa do filho dele, Flávio Bolsonaro, que
concorria ao Senado.
Em reação às
revelações, senadores e deputados cobraram neste domingo (17) investigação para
apurar se Flávio foi informado antes pela Polícia Federal sobre operação contra
ele e então integrantes de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.
O senador
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou as declarações do empresário como gravíssimas
e afirmou que elas revelam a interferência de Bolsonaro e de sua família na
Polícia Federal antes mesmo do início de seu governo.
Líder da minoria
no Senado, ele disse que vai pedir que Paulo Marinho seja ouvido no inquérito
que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar as suspeitas de
interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.
Assim como
Randolfe, a defesa do ex-ministro da Justiça Sergio Moro estuda pedir o
depoimento de Paulo Marinho no inquérito que investiga a suposta interferência
do presidente na Polícia Federal.
A avaliação é a
de que o ex-aliado do presidente pode reforçar a narrativa de Moro. O
ex-ministro disse à PF que Bolsonaro queria interferir na corporação. Os
advogados do ex-juiz da Lava-Jato irão esperar até terça (19) uma manifestação
da PGR (Procuradoria Geral da República) sobre as declarações do empresário.
"Espero que
os fatos revelados, com coragem, pelo Sr. Paulo Marinho sejam totalmente
esclarecidos", afirmou Moro numa rede social.
Oposicionistas
também foram às redes sociais para propor a criação de uma CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) e a anulação da última eleição.
O candidato
derrotado no pleito presidencial de 2018, Fernando Haddad, postou em conta no
Twitter: conforme suspeita, suplente de Flávio Bolsonaro confirma que PF
alertou-o, entre o 1° o o 2° turno, de que Queiroz seria alvo de operação, que
foi postergada para evitar desgaste ao clã durante as eleições. Isso se chama
fraude!.
O deputado
federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) usou a mesma rede social para se manifestar. Fraude
eleitoral! A operação que revelou o esquema das rachadinhas gerenciadas pelo
Queiroz no gabinete do Flávio Bolsonaro foi adiada pela PF para depois da
eleição presidencial para não prejudicar o chefe da máfia, Jair Bolsonaro. CPI
já para investigar esse crime, escreveu o congressista.
O deputado
federal Kim Kataguiri (DEM-SP), do MBL (Movimento Brasil Livre) afirmou que a
denúncia é grave. Sendo comprovada, o TSE pode cassar a chapa de Bolsonaro e
Mourão, dando margem para que ainda em 2020 haja novas eleições presidenciais,
pois se trata de uma clara interferência da PF do Rio no pleito, publicou
Kataguiri.
Flávio
classificou a entrevista à Folha de S.Paulo de seu suplente de "invenção
de alguém desesperado e sem votos". Em nota neste domingo, ele disse que
Marinho "preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão" e trocou
a família Bolsonaro pelos governadores João Doria (PSDB), de São Paulo, e
Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro. O ex-aliado de Bolsonaro é
pré-candidato à prefeitura do Rio pelo PSDB.
Já o chefe da
Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Fabio Wajngarten, chamou de
"incrível enredo ficcional" as declarações do empresário suplente de
Flávio.
Em rede social,
ele afirmou ser inverossímil a narrativa de oportunistas que buscam holofotes
a qualquer preço. Precisam contratar um bom roteirista para dar credibilidade
a esse incrível enredo ficcional. Meu apoio ao senador @FlavioBolsonaro e ao PR
@jairbolsonaro por mais essa tentativa de atingi-los.
Também neste
domingo, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro usou uma rede social para
desqualificar as declarações do empresário. "Paulo Marinho, coordenador de
campanha de Bolsonaro... . QG em sua residência.... .... Bolsonaro tratava mal
os empregados... . Tudo é tão verdadeiro quanto a declaração de seu filho
dizendo que foi ele que traduziu a conversa de Trump com o Bolsonaro."
Não é a primeira
vez que é levantada a suspeita de vazamento na operação Furna da Onça.
No momento da
prisão dos investigados em novembro de 2018, os policiais encontraram um
cenário com casas sem computadores, WhatsApp sem conversas e um investigado
vestindo roupa social às 6h com um diploma devidamente separado.
Com base nesses
indícios, o juiz federal Abel Gomes, relator da Operação Furna da Onça no TRF-2
(Tribunal Regional Federal da 2ª Região), converteu em prisão preventiva (sem
prazo para acabar) a prisão temporária de dez investigados, entre eles 6
deputados. O magistrado também manteve outros três parlamentares na cadeia.
Na ocasião, o
computador encontrado na casa do deputado Coronel Jairo (SD) estava com todos
os arquivos e histórico de navegação apagados, de acordo com a PF. Ele e a
filha haviam saído de todos os grupos do WhatsApp dos quais participavam.
Em relação a
Marcus Vinicius Neskau (PTB), nenhum computador foi encontrado em sua residência,
em seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e em sua
casa em Petrópolis.
Segundo a
decisão do juiz federal à época, não é crível, na realidade de hoje, que em
nenhum desses endereços tenha sido possível encontrar qualquer espécie de referência
documental em aparelhos de informática de alguém que trabalha como deputado
estadual.
O ex-secretário
de Governo Affonso Monnerat recebeu os policiais federais vestido socialmente
e com seu diploma de formação acadêmica em envelope devidamente separado,
segundo Gomes.
Em sua residência
não foram localizados computadores ou documentos, sendo também constatado a
partir de acesso ao seu aparelho celular que conversas de aplicativo (WhatsApp)
teriam sido apagadas, restando pouquíssimos diálogos, completou o magistrado.
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