domingo, 17 de maio de 2020

Oposição e Moro cobram, e PGR estuda investigar relato de vazamento a Flávio Bolsonaro

(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)


FÁBIO FABRINI

***FOTO DE ARQUIVO***BRASÍLIA, DF, 22.10.2019 - O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) durante votação em segundo turno do texto principal na reforma da Previdência, no Plenário do Senado Federal, em Brasília (DF). 

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A PGR (Procuradoria-Geral da República) informou neste domingo (17) que vai analisar o relato do empresário Paulo Marinho ao jornal Folha de S.Paulo sobre um suposto vazamento de uma investigação da Polícia Federal ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O procurador-geral, Augusto Aras, discutirá a denúncia com a equipe de procuradores que atua em seu gabinete em matéria penal. Deve decidir se cabe investigar o caso no âmbito do inquérito que apura, com base em denúncias do ex-ministro Sergio Moro (Justiça), se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou interferir indevidamente na Polícia Federal.
Ele poderá requerer o depoimento de Marinho, por exemplo, o que não está definido por ora. Segundo auxiliares de Aras, ainda não houve tempo para uma análise aprofundada do caso. Será necessário analisar se o assunto guarda pertinência com a investigação já em curso.
Na entrevista à Folha de S.Paulo, Marinho, 68, que rompeu com o clã Bolsonaro após as eleições, disse que, segundo ouviu do próprio filho do presidente, um delegado da Polícia Federal antecipou a Flávio em outubro de 2018 que a Operação Furna da Onça seria realizada.
A operação, segundo Marinho, teria sido “segurada” para que não atrapalhasse Bolsonaro na disputa do segundo turno da eleição. Os desdobramentos da Furna da Onça revelaram um suposto esquema de "rachadinha" na Alerj (Assembléia Legislativa do Rio) e atingiu Fabrício Queiroz, policial militar aposentado amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flavio na Assembleia.
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O empresário foi um dos mais importantes e próximos apoiadores de Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018. Ele não apenas cedeu sua casa no Rio de Janeiro para a estrutura de campanha do então deputado federal, que ainda hoje chama de “capitão”, como foi candidato a suplente na chapa do filho dele, Flávio Bolsonaro, que concorria ao Senado.
Em reação às revelações, senadores e deputados cobraram neste domingo (17) investigação para apurar se Flávio foi informado antes pela Polícia Federal sobre operação contra ele e então integrantes de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou as declarações do empresário como “gravíssimas” e afirmou que elas revelam “a interferência de Bolsonaro e de sua família na Polícia Federal antes mesmo do início de seu governo”.
Líder da minoria no Senado, ele disse que vai pedir que Paulo Marinho seja ouvido no inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar as suspeitas de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.
Assim como Randolfe, a defesa do ex-ministro da Justiça Sergio Moro estuda pedir o depoimento de Paulo Marinho no inquérito que investiga a suposta interferência do presidente na Polícia Federal.
A avaliação é a de que o ex-aliado do presidente pode reforçar a narrativa de Moro. O ex-ministro disse à PF que Bolsonaro queria interferir na corporação. Os advogados do ex-juiz da Lava-Jato irão esperar até terça (19) uma manifestação da PGR (Procuradoria Geral da República) sobre as declarações do empresário.
"Espero que os fatos revelados, com coragem, pelo Sr. Paulo Marinho sejam totalmente esclarecidos", afirmou Moro numa rede social.
Oposicionistas também foram às redes sociais para propor a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e a anulação da última eleição.
O candidato derrotado no pleito presidencial de 2018, Fernando Haddad, postou em conta no Twitter: “conforme suspeita, suplente de Flávio Bolsonaro confirma que PF alertou-o, entre o 1° o o 2° turno, de que Queiroz seria alvo de operação, que foi postergada para evitar desgaste ao clã durante as eleições. Isso se chama fraude!”.
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) usou a mesma rede social para se manifestar. “Fraude eleitoral! A operação que revelou o esquema das rachadinhas gerenciadas pelo Queiroz no gabinete do Flávio Bolsonaro foi adiada pela PF para depois da eleição presidencial para não prejudicar o chefe da máfia, Jair Bolsonaro. CPI já para investigar esse crime”, escreveu o congressista.
O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), do MBL (Movimento Brasil Livre) afirmou que a denúncia é grave. “Sendo comprovada, o TSE pode cassar a chapa de Bolsonaro e Mourão, dando margem para que ainda em 2020 haja novas eleições presidenciais, pois se trata de uma clara interferência da PF do Rio no pleito”, publicou Kataguiri.
Flávio classificou a entrevista à Folha de S.Paulo de seu suplente de "invenção de alguém desesperado e sem votos". Em nota neste domingo, ele disse que Marinho "preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão" e trocou a família Bolsonaro pelos governadores João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro. O ex-aliado de Bolsonaro é pré-candidato à prefeitura do Rio pelo PSDB.
Já o chefe da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Fabio Wajngarten, chamou de "incrível enredo ficcional" as declarações do empresário suplente de Flávio.
Em rede social, ele afirmou ser “inverossímil a narrativa de oportunistas que buscam holofotes a qualquer preço”. “Precisam contratar um bom roteirista para dar credibilidade a esse incrível enredo ficcional. Meu apoio ao senador @FlavioBolsonaro e ao PR @jairbolsonaro por mais essa tentativa de atingi-los.”
Também neste domingo, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro usou uma rede social para desqualificar as declarações do empresário. "Paulo Marinho, coordenador de campanha de Bolsonaro... . QG em sua residência.... .... Bolsonaro tratava mal os empregados... . Tudo é tão verdadeiro quanto a declaração de seu filho dizendo que foi ele que traduziu a conversa de Trump com o Bolsonaro." ​
Não é a primeira vez que é levantada a suspeita de vazamento na operação Furna da Onça.
No momento da prisão dos investigados em novembro de 2018, os policiais encontraram um cenário com casas sem computadores, WhatsApp sem conversas e um investigado vestindo roupa social às 6h com um diploma devidamente separado.
Com base nesses indícios, o juiz federal Abel Gomes, relator da Operação Furna da Onça no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), converteu em prisão preventiva (sem prazo para acabar) a prisão temporária de dez investigados, entre eles 6 deputados. O magistrado também manteve outros três parlamentares na cadeia.
Na ocasião, o computador encontrado na casa do deputado Coronel Jairo (SD) estava com todos os arquivos e histórico de navegação apagados, de acordo com a PF. Ele e a filha haviam saído de todos os grupos do WhatsApp dos quais participavam.
Em relação a Marcus Vinicius ‘Neskau’ (PTB), nenhum computador foi encontrado em sua residência, em seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e em sua casa em Petrópolis.
Segundo a decisão do juiz federal à época, “não é crível, na realidade de hoje, que em nenhum desses endereços tenha sido possível encontrar qualquer espécie de referência documental em aparelhos de informática de alguém que trabalha como deputado estadual”.
O ex-secretário de Governo Affonso Monnerat recebeu os policiais federais “vestido socialmente e com seu diploma de formação acadêmica em envelope devidamente separado”, segundo Gomes.
“Em sua residência não foram localizados computadores ou documentos, sendo também constatado a partir de acesso ao seu aparelho celular que conversas de aplicativo (WhatsApp) teriam sido apagadas, restando pouquíssimos diálogos”, completou o magistrado.

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