Flávio Bolsonaro |
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA
(Reuters) - A Polícia Federal anunciou neste domingo a abertura de um inquérito
para apurar as acusações feitas pelo empresário Paulo Marinho, suplente do
senador Flávio Bolsonaro, sobre suposto vazamento e atraso de uma operação
contra uma pessoa próxima ao então candidato presidencial Jair Bolsonaro.
"Todas as
notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi
determinada, na data de hoje, a instauração de novo procedimento específico
para a apuração dos fatos apontados", disse a PF, em nota, após as
acusações feitas por Marinho em entrevista publicada neste domingo pelo jornal
Folha de S.Paulo.
Marinho disse
ter ouvido de Flávio Bolsonaro, filho do presidente, informações de que um
delegado da Polícia Federal antecipou-lhe que o assessor dele à época na
Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro Fabrício Queiroz, que tinha
relacionamento próximo com o próprio Bolsonaro, seria alvo de uma operação da
PF.
Conforme o
relato de Marinho à Folha, o delegado que teria vazado a informação —que
estaria lotado na Superintendência da PF no Rio de Janeiro— tinha avisado a
Flávio sobre a operação envolvendo Queiroz entre o primeiro e segundo turnos da
eleição presidencial de 2018.
A PF teria
também segurado a operação para que não fosse realizada antes do 2º turno, o
que poderia atrapalhar a candidatura do pai do senador, então candidato a
presidente, segundo o relato de Marinho à Folha, citando o que teria ouvido de
Flávio.
Segundo Marinho,
Flávio teria comunicado ao pai o episódio e ambos combinaram demitir Queiroz do
cargo de assessor na Assembleia fluminense. A operação Furna da Onça, um dos
desdobramentos da Lava Jato no Rio e que investiga um esquema de lavagem de
dinheiro e desvio de verba de gabinetes da Alerj, foi deflagrada no dia 8 de
novembro e teve Queiroz como um dos alvos.
Ao mencionar a
data da operação, a PF disse em nota que os respectivos mandados judiciais
tinham sido expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2° Região, por
representação do Ministério Público Federal, em 31 de outubro de 2018,
"portanto, poucos dias úteis antes da sua deflagração".
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A corporação
disse que já havia apurado o caso anteriormente -- sem encontrar
irregularidades. "Esclarece-se, ainda, que notícia anterior, sobre suposto
vazamento de informações na operação 'Furna da Onça', foi regularmente
investigada pela PF através do Inquérito Policial n° 01/2019, que encontra-se
relatado", disse a nota.
"DESESPERADO
E SEM VOTOS"
Mais cedo, a
Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou que vai analisar se pede a
inclusão das acusações feitas por Marinho no inquérito em curso no Supremo
Tribunal Federal (STF) sobre suposta interferência do presidente na Polícia
Federal.
“O procurador-geral
da República (Augusto Aras) analisará o relato junto com a equipe de
procuradores que atua em seu gabinete em matéria penal”, informou a assessoria
de imprensa da PGR.
A pedido da PGR,
o Supremo investiga a acusação feita pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro de
que Bolsonaro tentou interferir no comando da PF. Por ora, a defesa de Moro vai
esperar a manifestação da PGR para decidir se tomará alguma providência no
caso.
“Vamos aguardar
com serenidade a manifestação da PGR, uma vez que o inquérito tem a finalidade
de apurar eventuais práticas delitivas nas quais pode estar envolvido o próprio
presidente da República”, disse o advogado de Moro, Rodrigo Sánchez Rios,
em nota.
Flavio Bolsonaro
disse em nota neste domingo que as “estórias” relatadas por Marinho “não passam
de invenção de alguém desesperado e sem votos”.
“Preferiu virar
as costas a quem lhe estendeu a mão. Trocou a família Bolsonaro por Doria e
Witzel, parece ter sido tomado pela ambição. É fácil entender esse tipo de
ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, já
que seria meu substituto no Senado”, disse, fazendo referência aos governadores
de São Paulo, João Doria (PSDB), e Wilson Witzel (PSC), que são adversários do
presidente.
“Ele sabe que
jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão. E por que
somente agora inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se
coloca como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele
diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás?”, completou.
A questão referente à suposta
tentativa de interferência do presidente nos trabalhos da PF está no centro das
acusações feitas pelo ex-ministro Moro a Bolsonaro, caso esse sob investigação
em inquérito no Supremo.
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