Folhapress, 27 de maio de 2020
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***ARQUIVO***BRASÍLIA,
DF, 17.04.2020 - O vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair. (Foto:
Pedro Ladeira/Folhapress)
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido)
relatou a aliados um temor de que seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ),
vereador no Rio de Janeiro, torne-se o próximo alvo de uma operação do
inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga o
esquema de fake news.
Na visão do presidente, na manhã
desta quarta-feira (27) ocorreu justamente o que vinha lhe dando preocupação
desde o fim de semana: uma ação que atingisse seus aliados.
Ao determinar medidas contra
políticos, empresários e ativistas bolsonaristas nesta quarta, o ministro Alexandre
de Moraes, relator do inquérito, citou a suspeita de participação do chamado
gabinete do ódio --grupo de servidores lotados na Presidência da República.
Depoimentos de deputados federais
descreveram, segundo a decisão de Moraes, um suposto esquema coordenado pelo
Palácio do Planalto para propagar pautas antidemocráticas e campanhas de
difamação contra adversários políticos.
Um dos relatos transcritos na decisão
é o de Heitor Freire (PSC-RJ), que menciona diretamente assessores do
"gabinete do ódio" da Presidência, tutelado e idealizado por Carlos
Bolsonaro.
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Segundo um assessor palaciano, o
presidente classificou nos bastidores a operação desta quarta como
"ilegal" e "despropositada"
Apesar do revés, houve alívio no
Palácio do Planalto pelo fato de, neste momento, Carlos Bolsonaro não estar
entre alvos da ação policial.
Ele é visto, no entanto, como um
possível próximo, o que tem causado preocupação em Bolsonaro.
O jornal Folha de S.Paulo mostrou no
dia 25 de abril que as investigações identificaram indícios dele no esquema de
notícias falsas. O inquérito busca elementos que comprove sua ligação e
sustente seu possível indiciamento dele ao fim das apurações.
Nesta quarta, com aval de Moraes, a
PF cumpriu mandados de busca e apreensão que tiveram como alvos aliados do
presidente.
Bolsonaro e seus auxiliares próximos
avaliam que a operação deflagrada nesta quarta é uma retaliação aos ataques
feitos ao Supremo pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante a
reunião ministerial em 22 de abril.
Em conversas reservadas, o presidente
reconhece que a declaração feita por seu auxiliar era grave e que uma resposta
viria em breve. Para tentar evitá-la, Bolsonaro divulgou na segunda (25) uma
nota pública defendendo a independência e harmonia entre os três poderes.
Enquanto a PF estava nas ruas,
Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada logo cedo e seguiu para o hospital onde
o presidente do STF, Dias Toffoli, está internado.
Segundo relatos feitos à reportagem,
tratou-se de uma visita de cortesia. Bolsonaro já havia manifestado interesse
em visitar o ministro, mas aguardava permissão da equipe médica. A visita durou
menos de meia hora.
Esta não é a primeira vez que o
presidente deixa o Palácio para visitar integrantes do Judiciário em meio a um
fogo cruzado com o Supremo.
Uma ida dele sem aviso à corte, há
algumas semanas, foi avaliada em Brasília como um recado de que ele não se
dobrará ao judiciário. Na segunda, ele foi à PGR (Procuradoria-Geral da República)
também de surpresa, num momento em que a instituição avalia uma possível
denúncia contra ele sobre acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro.
Os mandados de busca e apreensão
atingem nomes como o ex-deputado federal Roberto Jefferson, presidente nacional
do PTB e o dono da Havan, Luciano Hang.
O foco da Polícia Federal é um grupo
suspeito de operar uma rede de divulgação de notícias falsas contra
autoridades.
Para ministros do governo, o momento
de deflagar a operação, cinco dias após a divulgação do vídeo da reunião, é
sinal de que se trata de uma resposta de insatisfação do STF.
O recado que chegou ao Palácio do
Planalto é de que os integrantes da corte se irritaram com o fato de Bolsonaro
não ter feito uma reprimenda pública a Weintraub.
No encontro, cujas imagens foram
divulgadas na última sexta (22) pelo ministro do STF Celso de Mello, Weintraub
disse que, se dependesse dele, colocaria "esses vagabundos todos na
cadeia", começando pelo Supremo. A declaração piorou a relação já conturbada
entre Executivo e Judiciário.
No início do ano, em conversa
relatada ao jornal Folha de S.Paulo, o presidente já demonstrou temor de que a
Polícia Federal avance sobre o filho 02, como ele o chama.
Para assessores presidenciais, o
perfil explosivo de Carlos preocupa. Ele e o pai têm uma relação de proximidade
e, ao mesmo tempo, uma série de confrontos.
Por diversas vezes o vereador deixa
de falar com o presidente quando há desentendimentos. Quando isso ocorre, ele
costuma desligar o telefone e se isolar em um clube de tiro em Santa Catarina.
Bolsonaro, dizem aliados de longa
data, teme que o filho possa agir de forma desastrosa por ver nele
instabilidade emocional.
Na manhã desta quarta, Carlos levantou
suspeita nas rede sociais sobre os motivos da operação.
"O que está acontecendo é algo que qualquer um
desconfie que seja proposital. Querem incentivar rachaduras diante de inquérito
inconstitucional, político e ideológico sobre o pretexto de uma palavra
politicamente correta? Você que ri disso não entende o quão em perigo
está", escreveu sua conta do Twitter.
EM TEMPO: Por esse e outros motivos o Bolsonaro quer mandar na PF. Agora durmam com essa bronca.
EM TEMPO: Por esse e outros motivos o Bolsonaro quer mandar na PF. Agora durmam com essa bronca.
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