Correio Braziliense - Fernando Jordão
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Suamy Beydoun/Agif/Folhapress.
''Fraco desempenho de Bolsonaro em resposta
à pandemia o enfraqueceu até agora'', avalia Steven Levitsky.
A
escalada autoritária das manifestações a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) —
com agressões a
jornalistas e pedidos de intervenção
militar e de fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal
Federal (STF) — despertou em parte da população a dúvida sobre as chances de o
Brasil viver uma nova ditadura. Para Steven Levitsky, porém, as chances são pequenas.
Professor
de ciência política na Universidade
Harvard, nos Estados Unidos, com uma pesquisa focada na América Latina e
em países em desenvolvimento, Levitsky, que é autor do best-seller Como as democracias morrem,
conversou com o Correio sobre
a atual situação do Brasil. Na avaliação dele, Bolsonaro representa, sim, um
risco, mas esbarra na baixa popularidade e na falta de habilidade política. O
docente se diz preocupado, contudo, com a proximidade de apoiadores do
presidente com grupos armados e com alas militares, que, recentemente, chegaram a falar
em "guerra civil" — assim como em 1964.
Confira a
entrevista:
Como o senhor
avalia o cenário atual do Brasil? Bolsonaro é um risco à democracia?
Sim,
Bolsonaro é um risco. O Brasil tem instituições democráticas bastante fortes,
mas sempre que uma sociedade elege uma figura abertamente autoritária como
presidente (e isso é verdade também nos Estados Unidos), a democracia está em
risco.
Em Como as
democracias morrem, o senhor apresenta quatro indicadores de comportamento
autoritário. Bolsonaro se encaixa em algum deles? Quais?
Os
quatro indicadores são (1) rejeição das regras democráticas do jogo; (2)
negação da legitimidade dos oponentes políticos; (3) propensão a restringir
liberdades civis básicas de rivais ou da mídia; (4) encorajamento ou tolerância
à violência. Bolsonaro se encaixa nos quatro. Isso ficou claro durante a
campanha de 2018 e é por isso que era tão perigoso elegê-lo.
Bolsonaro tem 25% de
aprovação. O senhor disse que políticos autoritários de outros
países, como Hugo Chávez na Venezuela, chegavam a contar com 70% de apoio
popular. Apesar disso, a minoria que apoia Bolsonaro é radical — tendo
promovido, inclusive, ataques a jornalistas.
Quais os riscos disso?
Em
termos de proteção à democracia, é melhor ter um presidente com 25% de
aprovação do que um com 70%. Como (Alberto) Fujimori, (Hugo) Chávez, (Rafael)
Correa, (Evo) Morales e (Rodrigo) Duterte nas Filipinas mostraram, um presidente
com 70% de aprovação pode provocar diversos danos muito rapidamente à
democracia. Com 25% é mais difícil. Bolsonaro é mais fraco. Ele não pode
convocar um plebiscito e fechar o Congresso. Ele não pode reescrever a
Constituição. Ainda há riscos, é claro. O Brasil está polarizado e os
apoiadores de Bolsonaro têm laços perigosos com grupos armados e alas
militares. Então, certamente, Bolsonaro pode provocar danos. Mas é mais difícil
para ele — e ele pode, facilmente, falhar e cair do poder.
Como as instituições
brasileiras têm agido diante das ameaças à democracia? Nosso sistema de freios
e contrapesos seria eficiente para evitar uma ditadura?
Eu
penso que o Brasil tem uma boa chance de evitar uma ditadura, em parte porque
Bolsonaro é fraco, impopular e politicamente inábil, mas também porque o
Congresso e os tribunais continuam sendo instituições fortes. Nada é garantido,
especialmente durante essa crise, mas eu acho que o Brasil pode atravessar.
A pandemia do novo
coronavírus pode contribuir de alguma maneira para uma escalada
antidemocrática?
Pode.
As crises às vezes permitem que os líderes eleitos concentrem o poder
autocrático — como vimos na Hungria e talvez em El Salvador. E crises
econômicas prolongadas frequentemente minam democracias frágeis. Mas as crises
geralmente também enfraquecem governos autocráticos. O fraco desempenho de
Bolsonaro em resposta à pandemia o enfraqueceu até agora.
Esta semana, um
grupo de militares divulgou uma carta que falava em "guerra civil". O
senhor vê algum risco de guerra civil no Brasil?
Dado
o nível de desigualdade e o crime organizado, há, certamente, um risco de
escalada da violência no Brasil. Uma guerra civil de verdade parece menos
provável. O que mais me preocupa são as autoridades militares usarem uma
suposta ameaça de guerra civil para justificar um maior envolvimento militar na
política — como aconteceu em 1964.
Algum país passou
por trajetória parecida com a que estamos vivendo? Qual foi o desfecho?
Nada
como isso, não.
O que deve ser
feito para evitar que o Brasil entre em uma nova ditadura?
Os
políticos democratas, da esquerda à direita, devem se unir em defesa das
instituições democráticas e isolar os atores antidemocráticos. Os políticos
brasileiros falharam em fazer isso em 2018. Não devem falhar novamente.
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