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Veja.com - Marcela Mattos
A inesperada
aliança entre o presidente Jair Bolsonaro e os partidos de centro alimenta um
duplo jogo de sobrevivência. A avaliação é feita por Antônio Augusto Queiroz,
analista político e fundador do Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar (Diap), entidade que acompanha o Congresso Nacional há 35 anos.
Para Toninho, como é conhecido, a aliança com os quadros da “velha política” –
como o próprio Bolsonaro os chamava – é um movimento do presidente para evitar
ver aprovado um processo de impeachment contra ele ou a cassação de dois de
seus filhos – Eduardo, o Zero Três, é deputado federal, e Flavio, o Zero Um, é
senador. Por outro lado, os partidos do Centrão, conhecidos nos noticiários do
mensalão e do petrolão, garantem cargos estratégicos no governo, a execução de
suas emendas parlamentares e os recursos públicos para as eleições mesmo em
tempos de pandemia e de crise econômica. Todos saem ganhando.
“Quando o
presidente aceita ter o Roberto Jefferson [delator e beneficiário do mensalão]
como interlocutor, é porque o negócio está feio. Ou o Bolsonaro se socorre no
Centrão para reunir os 172 votos para impedir pedidos de impeachment ou de
afastamento, ou ele cai. Só com os aliados dele não é suficiente”, afirma
Toninho.
Confira a íntegra
da entrevista.
Como se define o chamado
Centrão?
O Centrão sempre
foi associado ao núcleo fisiológico do Congresso, aquele que viveu de
patronagem e de favores governamentais. Podemos dizer que o grupo hoje é
composto principalmente por esses partidos: Progressistas, PL, PSD, MDB, PSC,
DEM, PTB, PRB, SD e uma parte do PROS.
Como o senhor avalia a atuação desse
grupo no governo Bolsonaro?
Para se blindar da acusação de ser a velha política, eles tentaram se
blindar perante a opinião pública dizendo: ‘Não somos fisiológicos. O que
interessa é o Brasil e voto de acordo com a consciência’. Isso pôde ser
percebido na votação da Reforma da Previdência, que acabou aprovada. Mas esse
foi o único momento de o Centrão agir nessa perspectiva. Na maioria das vezes,
ele está ali para fazer algum tipo de composição.
E agora o Bolsonaro
finalmente se rendeu?
O problema do Centrão é o seguinte: ele vai para onde? Se
não tem candidaturas viáveis no centro, e só tem na extrema direita e na esquerda,
não tem alternativa a não ser ir para a direita. Por mais que os partidos sejam
hostilizados por essa extrema direita, eles recebem os recursos no final e têm
uma identidade programática e de afinidades. Fica mais confortável se aliar a
um governo com as características do Bolsonaro do que ir para a oposição e
favorecer os partidos de esquerda.
É um jogo de ganha-ganha, portanto?
Exatamente. Estão indo para a base do governo
Bolsonaro com vantagem dupla agora. O governo está com o Orçamento liberado,
pode gastar o que quiser – o que é o melhor mundo para o Centrão. E está às
vésperas de uma eleição. Então, eles garantem recursos para as bases eleitorais
elegerem os seus prefeitos, enquanto o governo faz as concessões que eles
exigirem para evitar um eventual processo de impeachment ou mesmo a cassação de
um dos filhos do presidente. Lá na frente, os partidos podem dizer que só
socorreram o governo porque era um momento de pandemia e eles foram ajudá-lo
republicanamente. Tem álibi para isso.
E qual argumento o governo poderá
usar?
Para o governo, é questão de
sobrevivência. Ou ele põe o centrão do lado dele, ou ele cai. Quando o
presidente aceita ter o Roberto Jefferson [delator e beneficiário do mensalão]
como interlocutor, é porque o negócio está feio. Ou o Bolsonaro se socorre no
Centrão para reunir os 172 votos para impedir o pedido de impeachment ou de
afastamento, ou ele cai. Só com os aliados dele não é suficiente.
O senhor vê um risco real de
impeachment?
O risco
existe. São quatro fatores que justificam o impeachment: a crise econômica, que
está presente; a crise política, também presente; o problema sanitário, que
considero como um elemento novo neste processo; a crise de popularidade. Esse
último é o único ponto em que o presidente está blindado. Mas, se a
popularidade cair para 12%, o apoio ‘voa’ rapidinho. E eu avalio que o Rodrigo
Maia topa [o pedido de impeachment]. Só não faz isso agora porque não tem um
pedido de centro, de gente com credibilidade, e a popularidade do presidente
está alta.
A aliança, portanto, vai durar
enquanto o fantasma do impeachment estiver rondando?
Exatamente. O Centrão quer se blindar em
relação a duas coisas: a garantia de que ninguém vai mexer com as emendas
impositivas, tenha pandemia ou não, e que não haja mudança nos fundos eleitoral
e partidário, que é o que garante o recurso para viabilizar a eleição deles. No
meio dessa pandemia, eles estão morrendo de medo de perder isso. O Bolsonaro,
por outro lado, quer que não seja autorizado seu processo de impeachment nem
que seus filhos sejam cassados. Esse é o objetivo dos dois. Quando o Bolsonaro
se livrar dessa condição, ele próprio vai chutar o Centrão. Do mesmo modo, se o
Bolsonaro cair em popularidade, o Centrão, depois de receber esses recursos,
vai pular fora. Não vai ter aquela história de que namora, fica noivo, depois
casa, como o presidente gosta de falar. Eu acho que com o Centrão vai ter
divórcio antes de casar.
Há quanto tempo existe o tal Centrão?
Desde a redemocratização, ele não ficou fora
de nenhum governo. Foi mudando de perfil, mas sempre buscando sobreviver.
Durante a Constituinte, por exemplo, ele foi originalmente financiado pelo
poder econômico para combater uma Constituição tida como socialista e para
defender uma economia de mercado. O Centrão geralmente é um grupo de
parlamentares que utilizam a força do mandato para arrancar concessões dos
governantes. Eles escolhem lideranças com esse perfil, que não têm problema em
se expor defendendo esse tipo de demanda, e, em troca, conseguem emenda, fundo
eleitoral e liberação de projetos. Em troca disso, votam sob a orientação,
indicam gente para cargos e conseguem liberar emendas para obras.
Mas isso é errado? Não seria esse um
ato de simplesmente fazer política?
Olhando por essa ótica, sim. Acontece que geralmente associam esse
repasse de recursos a esquemas que já têm empreiteiros definidos para fazer
obras, esquemas em que o desvio é assustador. Esses parlamentares, quando levam
recursos para essas regiões, exigem como contrapartida a garantia de recursos e
de cabo eleitoral para sua eleição. Isso não vem de forma espontânea, tem custos.
E esse é o problema.
EM TEMPO: Não existe "nova" e nem "velha política", uma vez que o que existe é um jogo de interesses na Democracia Burguesa. Além do mais a maioria dos parlamentares estão ali no Congresso para explorar e oprimir a Classe Trabalhadora. Mas, Bolsonaro atua em duas frentes, ou sejam: a primeira através da aliança com o Centrão e a outra através de um contra-golpe onde o próprio Centrão seria atingido. Portanto é um jogo de "raposas políticas, de ditadura e fascismo". Lembrando que o PTB, partido do prefeito Izaías Régis, é do Centrão. Agora durmam com essa bronca. Pior é conseguir dormir com a pandemia do COVID 19. Votar errado só dar nisso.
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