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ESTADÃO - Thiago Faria e Patrik
Camporez
BRASÍLIA – Os
gastos sigilosos da Presidência da República com cartão corporativo, usado
para bancar
despesas do presidente Jair Bolsonaro, aumentaram nos
primeiros quatro meses do ano, mesmo quando descontado o valor da operação que
resgatou brasileiros em Wuhan, na China. Após o Estadão revelar que a fatura de janeiro a abril havia
dobrado, o presidente justificou a alta com os custos da
viagem, que utilizou aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB).
Segundo o
presidente afirmou nesta segunda-feira, foram utilizados R$ 739.598, via cartão
corporativo, com os três voos enviados ao país asiático em fevereiro deste ano.
Como mostrou a reportagem no domingo, as despesas sigilosas vinculadas a
Bolsonaro foram de R$ 3,76 milhões neste ano, segundo informações do Portal da Transparência. O valor
representa um aumento de 98% em relação à média dos últimos cinco anos no mesmo
período.
“3 aviões da
@fab_oficial, vinculados à Presidência, foram à China buscar brasileiros em
Wuhan. Na operação foram gastos R$739.598,00 com cartão corporativo. Ao
contrário do noticiado, retirando despesas extraordinárias, nossos gastos
seguem abaixo da média de anos anteriores”, postou o presidente no Twitter.
Diferentemente do
que diz Bolsonaro, ao abater o valor citado por ele com os voos para a China,
os R$ 3 milhões relacionados a outros gastos sigilos ainda assim representam
uma alta de 59% em relação à média do que gastaram Dilma Rousseff e Michel Temer, seus antecessores no
cargo.
Desde domingo,
quando a reportagem foi publicada, o presidente tem citado os voos para a China
como justificativa para o aumento dos gastos sigilosos com cartão corporativo,
mas, até então, ele não havia revelado o valor.
“O que eu posso
falar da China é que ontem (domingo) a imprensa, como sempre, dá licença
aí, a imprensa como sempre criticando o cartão corporativo”, afirmou o
presidente ontem pela manhã, em frente ao Palácio da Alvorada, ao responder uma
mulher que o questionou se o país asiático escondia dados sobre o coronavírus.
“Parte da operação da China, três aviões da FAB, por ser avião militar, foi
financiada com cartão corporativo meu. Apareceu eu usando o cartão para fazer
festa. Falta de caráter e de responsabilidade dessa imprensa aí.”
Os gastos com a
operação que trouxe de volta ao País 34 brasileiros até então estavam em
sigilo. A hashtag “MostraAFaturaBolsonaro” ficou na lista de assuntos mais
comentados do Twitter ontem.
Parlamentares de
diferentes partidos – desde Kim
Kataguiri (DEM-SP) a Jandira
Feghali (PCdoB-RJ) – cobraram de Bolsonaro que revele como gastou o
dinheiro público via cartão corporativo. Vinicius Poit (Novo-SP) apresentou um requerimento de
informações para a Presidência da República.
Em resposta à
reportagem na semana passada, o Palácio do Planalto deu uma versão diferente do
que afirmou Bolsonaro como principal motivo do aumento.
Sem dar detalhes, a
assessoria de imprensa da Secretaria-Geral da Presidência – órgão responsável
pela gestão dos cartões corporativos – informou que a maior parte das despesas
neste ano está relacionada às viagens presidenciais em território nacional e
viagens internacionais. Neste ano, o presidente esteve na Índia em janeiro,
participou da posse do presidente do Uruguai, no início de março e, no mesmo
mês, viajou com uma comitiva de 31 pessoas aos Estados Unidos.
O cálculo que
aponta o gasto de R$ 3,76 milhões leva em conta apenas os valores vinculados à
Secretaria Especial de Administração, que é responsável por despesas do
presidente e de sua família, das residências oficiais e demais gastos
corriqueiros – material de escritório do gabinete presidencial, por exemplo.
Quando considerados outros órgãos vinculados à Presidência da República, como o
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), o valor salta para R$ 7,55 milhões neste início de ano –
aumento de 91% em relação à média do mesmo período.
Na mesma resposta
dada na semana passada, a Secretaria-Geral chegou a citar o aumento a despesas
com a operação na China, mas sem detalhar qual órgão foi o responsável pelos
gastos. Questionado novamente ontem, o Palácio do Planalto não se manifestou
até a conclusão desta edição.
Em dezembro do ano
passado, o Estadão revelou
que o governo passou a ignorar uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e
se recusa a explicar como tem usado o dinheiro público via cartões
corporativos. A Presidência afirma que a abertura dos dados e notas fiscais
poderiam colocar em risco a segurança do presidente.
Antes de ser
eleito, Bolsonaro foi um crítico ferrenho dos gastos com cartões corporativos
e, principalmente, do sigilo dos extratos. Em 2008, em discurso na Câmara,
ainda como parlamentar (na época filiado ao PP) desafiou o então presidente
Luiz Inácio Lula da Silva a “abrir os gastos” com o cartão.
Em 2018, durante o
governo de transição, o então coordenador do grupo e atual ministro da
Cidadania, Onyx Lorenzoni, chegou a afirmar que a gestão Bolsonaro acabaria com
o meio de pagamento. A ideia, contudo, nunca foi levada adiante.
EM TEMPO: São coisas que habitam no Sistema Econômico Capitalista. Todas essas mazelas só serão extintas quando construirmos uma nova Sociedade Igualitária e Socialista.
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