EL PAÍS - Joana Oliveira
© UESLEI MARCELINO
(Reuters) O senador
Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, acompanha pronunciamento
do pai.
O senador Flávio Bolsonaro (PSL), filho mais velho do
presidente Jair Bolsonaro financiou com dinheiro público a
construção de prédios da milícia no Rio de Janeiro e lucrou com esquema ilegal,
aponta o Ministério Público Federal (MPF) do Rio.
O site The Intercept publicou neste sábado documentos e
dados sigilosos aos quais teve acesso que mostram que os empreendimentos de
três construtoras (São Felipe Construção Civil Eireli, São Jorge Construção
Civil Eireli e ConstruRioMZ) de Rio das Pedras foram feitos com dinheiro de “rachadinha”, coletado no antigo gabinete de Flávio
Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O MPF
chegou a essa conclusão depois de cruzar informações bancárias de 86 pessoas
suspeitas de envolvimento no esquema ilegal.
De acordo com os
investigadores, que falaram com The Intercept em condição de
anonimato, Flávio Bolsonaro estaria recebendo atualmente o lucro do
investimento dos prédios por meio de repasses feitos pelo ex-capitão do
Bope Adriano da Nóbrega —executado em fevereiro na Bahia— e pelo
ex-assessor Fabrício Queiroz.
O andamento dessas
investigações que fecham o cerco contra o filho do presidente teria sido um dos
motivos que fizeram com que Bolsonaro pressionasse no ano passado o agora ex-ministro Sergio Moro pela troca do comando da
Polícia Federal no Rio, que também investiga o caso, e em Brasília. Moro
deixou, na sexta-feira, o cargo no Ministério da Justiça e Segurança Pública, acusando o presidente de interferir politicamente na PF.
Bolsonaro negou a acusação, mas disse que pretende colocar alguém no cargo “com quem possa interagir”.
De acordo com The
Intercept, Flávio pagava os salários de seus funcionários com a verba do
seu gabinete na Alerj, e Queiroz —apontado como articulador do esquema de “rachadinhas”—
confiscava cerca de 40% dos vencimentos dos servidores e repassava parte do
dinheiro ao ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime,
uma milícia especializada em assassinatos por encomenda.
A organização
criminosa, que, além de Rios das Pedras, atua também em Muzema, cobra “taxas de
segurança”, ágio na venda de botijões de gás, garrafões de água, exploração de
sinal clandestino de TV, grilagem de terras e na construção civil nas duas
favelas, que ficam em Jacarepaguá (zona oeste do Rio) e onde vivem mais de 80
mil pessoas. A região teve um boom de construções irregulares nos últimos anos
e, em abril de 2019, duas delas desabaram, deixando 24 mortos e 10 feridos. As investigações
apontam que o lucro com a construção e vendas desses prédios seria dividido com
Flávio Bolsonaro, já que ele era o financiador do esquema, usando dinheiro
público.
De acordo com o
MPF, os repasses da rachadinha para o capitão Adriano acontecia por meio das
contas da sua mãe, Raimunda Vera Magalhães, e sua mulher, Danielle da Costa
Nóbrega. Ambas tinham cargos comissionados no gabinete do deputado na Alerj
entre 2016 e 2017 e foram nomeadas por Queiroz. A mãe e a mulher de Adriano
movimentaram ao menos 1,1 milhão de reais durante esse período e teriam
repassado dinheiro para algumas empresas, entre elas dois restaurantes, uma
loja de material de construção e três pequenas construtoras, que teriam sido
registrados em nomes de “laranjas” do Escritório do Crime.
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