ESTADÃO - Giovana Girardi
© Divulgação ABC O presidente da Academia Brasileira de
Ciências, Luiz Davidovich
SÃO PAULO - O novo
ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, terá necessariamente de seguir as políticas de
isolamento que Luiz Henrique Mandetta vinha adotando, de isolamento
horizontal, como determina a Organização Mundial da Saúde, sob o risco de ter
de arcar com a responsabilidade de ver um número enorme de mortos no Brasil.
O alerta é do
físico Luiz Davidovich,
presidente da Academia Brasileira de Ciências, ao comentar a troca de comando
da Saúde do País quando estamos chegando próximo ao pico da epidemia de covid-19.
“Nossa avaliação é que Mandetta estava
apresentando um desempenho de acordo com as recomendações da OMS e dos
profissionais de saúde e que era um desempenho adequado para a tragédia que
vivemos, para o enfrentamento da pandemia, com a defesa do isolamento horizontal
e tentando organizar o sistema de saúde nacional, que está muito ameaçado”,
afirma.
“Qualquer pessoa
que viesse a substituí-lo, por melhor que seja, terá de necessariamente seguir
a mesma política. É o que está sendo feito em outros países. É só olharmos para
o que aconteceu com países que tinham uma visão diferente no começo e depois
deram uma guinada, que são Inglaterra e Estados Unidos. Hoje a situação deles
poderia ser melhor se eles tivessem tomado uma atitude mais rígida desde o
começo.”
Davidovich é
incisivo: “Não faltam simulações sobre o que vai acontecer se abandonarmos o
isolamento. Não faltam experiências internacionais que mostram que o isolamento
vertical não funciona. Não imagino um ministro da Saúde que não siga isso, que
não siga a ciência. Se não fizer, será pesada sua responsabilidade quando
ocorrer a saturação dos hospitais”. Para o pesquisador,
o cenário não deixa margem para tentativas que não se baseiem na ciência. “Ai
do governo que tiver de assumir a responsabilidade pelo grande número de mortos
que podem ocorrer com isso.”
Para Davidovich, a
definição sobre se e quando começará a redução do isolamento também virá da
ciência. “O novo ministro tem de ter como plano a testagem massiva. É isso que
vai orientar como vamos sair dessa situação.” O pesquisador
lamenta que parte do drama brasileiro diante do novo coronavírus se deva ao
sucateamento da ciência nos últimos anos. “O País paga o preço de cortes
sucessivos em ciência e na saúde. A Alemanha passou mais tranquilamente pela
pandemia porque tinha equipamentos hospitalares, sistema de saúde adequado. Não
faz sentido termos de comprar tudo de fora, insumos da Índia, máscaras e
respiradores da China”, lamenta.
“O Brasil precisa
se conscientizar que temos de ter desenvolvimeno de alta tecnologia no País.
Não podemos depender de coisas essenciais. Espero que o que está acontecendo
sirva de motivação para uma guinada na política economia e industrial do País”,
complementa.
E defende: “A chave
para a solução dessa crise sanitária está na ciência. Repito, na ciência, na
ciência. As formas de sair do isolamento também estão sendo examinadas por
cientistas no País e no mundo. Isso tem de ser considerado. Não vamos sair de
forma apressado, baseados no achismo de que é preciso sair. É claro que uma
hora temos de sair, mas tem de ser da maneira mais apropriada possível. E para
tomar essas providências, precisamos de muito mais testagem”.
Ele lembra que
diversos laboratórios de universidades brasileiras estão testando novas formas
de diagnóstico e defende que mais dinheiro seja colocado nesses esforços. “O
investimento em pesquisa é o que pode nos salvar. Tanto as vidas quanto a
economia.”
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