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© João Fortes Praias, como a de Leça da Palmeira, em
Matosinhos, na região do Porto, foram interditadas desde 18 de março para
evitar avanço da doença
Aos poucos os
portugueses conseguem mirar o que parece ser um horizonte, em meio à pandemia
provocada pelo Sars-Cov-2. A cada dia que
passa, fica mais claro o resultado positivo das medidas adotadas pelo país na
contenção da transmissão do novo coronavírus. A esperança do
governo é que a partir de maio seja possível dar os primeiros passos em direção
à reabertura da economia e saída do isolamento social.
Nesta quinta-feira
(16) a Assembleia da República aprovou, pela segunda vez, a renovação do estado
de emergência. Após a discussão, o primeiro-ministro, António Costa, disse que
é o momento de olhar para o futuro e que os próximos 15 dias serão decisivos
para aprender a conviver com o vírus de forma segura. "De forma a
que maio seja o mês em que de um modo gradual, progressivo, seguro, possamos
retomar, não a normalidade - que só poderemos retomar quando houver vacina -,
mas a capacidade de viver em condições de maior normalidade, com a garantia de
que a pandemia se mantém controlada", afirmou.
Apesar do otimismo,
cautela segue como a palavra de ordem em Portugal. As autoridades de saúde e
especialistas pedem à população para não relaxar nas recomendações sanitárias e
de convívio social. Até porque, foi o que possibilitou ao país evitar o pior
até agora. A exemplo do que
ocorreu em várias nações da Europa, a covid-19 tinha tudo para provocar o caos
no Serviço Nacional de Saúde de Portugal. Mas com 19.022 casos confirmados e
657 mortes, de acordo com o último balanço oficial, o país não chegou nem perto
da tragédia vivida pela vizinha Espanha que acumula 188.068 casos e 19.478
óbitos.
Mesmo considerando
a diferença populacional entre as duas nações (Portugal tem 10,28 milhões de
habitantes e Espanha tem 46,94 milhões), a proporção de espanhóis infectados é
mais que o dobro do número de doentes portugueses. "Aquele
aumento muito rápido do número de casos e que levaria à ruptura da resposta de
saúde, de fato não está a acontecer e tem permitido que as unidades de saúde
estão a conseguir resolver as situações com alguma capacidade de resposta e de
alguma forma todo o sistema tem funcionado", afirma o epidemiologista
Ricardo Mexia, que é presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde
Pública (ANMSP) de Portugal.
Pico já passou
E mais do que o
êxito em evitar índices altos de transmissão e letalidade, a nação agora vive
uma fase de decréscimo da curva epidemiológica. Se em meados de março, o
aumento diário no número de casos passava facilmente dos 20%, desde o início de
abril que não chegou a 11%. Entre quinta (16) e esta sexta-feira (17), por
exemplo, o aumento foi de apenas 1%. Para a matemática
especialista em epidemiologia Gabriela Gomes, tudo indica que Portugal já
ultrapassou o pico de transmissão da doença. "[O pico foi]
entre o fim de março e início de abril, quando esta curva atinge seu máximo e
depois tem vindo a decrescer de uma maneira geral", afirma Gabriela, que é
pesquisadora da Escola Superior de Medicina Tropical de Liverpool.
A cientista vem
estudando a evolução da doença em diversos países e traçando modelos gráficos
que traduzem o comportamento da pandemia de acordo com as medidas adotadas. Sobre os dados
diários que são divulgados ela dispõe de três curvas. A preta representa uma
situação em que nada seria feito, a verde com 40% de restrição entre a
população e a laranja com 75%.
É com a terceira
que Portugal está mais alinhado, levando a perspectiva de que até o final de
maio, a linha torne-se reta, ou seja, chegue ao final da primeira onda de
transmissão. "Enquanto as medidas de contenção continuarem isto vai
continuar a decrescer", reitera Gabriela. Não é à toa que o
país vem sendo citado como um exemplo e até exceção no combate à doença, se
comparado com a "vizinhança" europeia.
Timing das ações
de isolamento
Tudo indica que a
nação vem se beneficiando por ter agido cedo diante do novo coronavírus. Os
primeiros casos de covid-19 foram registrados no dia 02 de março. Já no dia 15
as fronteiras com a Espanha estavam fechadas e as aulas nas escolas públicas,
todas suspensas. O decreto que determinou
o estado de emergência veio logo a seguir, no dia 18 de março, com restrições
de circulação, convívio social e cultos religiosos, interdição de praias,
fechamento de atividades não essenciais, determinação de trabalho "home
office" nos casos possíveis e novas regras sanitárias aos serviços que
permaneceram em atividade.
"A intervenção
tem que ser feita cedo e ter a intensidade suficiente. Alguns países começaram
com essas medidas relativamente cedo, mas a intervenção não foi tão intensa e é
preciso as duas coisas", avalia Gabriela Gomes. É claro que a
questão geográfica favoreceu Portugal. Além de ter apenas fronteira com apenas
uma nação, o país localizado no extremo oeste da Europa teve a chance de
visualizar tudo o que aconteceu na Itália, Espanha e França e escolher um
caminho diferente. Mas a disciplina
dos portugueses também pode ter desempenhado um papel fundamental.
Recentemente, uma pesquisa feita pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião
(Cesop) da Universidade Católica Portuguesa, encomenda pelo jornal Pública e
pela rede RTP, aponta que durante duas semanas, 14% da população simplesmente
não saiu de casa. A coleta de
informações foi feita com uma amostragem de 1.700 pessoas, entre os dias 06 e
09 de abril e referiu-se às duas semanas anteriores a esses dias. Entre os
outros entrevistados, 6% saíram de casa menos de uma vez por semana e 25%
apenas uma vez por semana. 22% ainda disseram que saíram de casa uma vez por
dia. A maioria das pessoas (62%) afirmou sair de casa apenas para comprar bens
essenciais.
Cautela e mais testes para elevar precisão
Mas embora os
gráficos e números tragam otimismo aos portugueses, o Ministério da Saúde e
especialistas pedem cautela e instigam a população a não relaxar nas
recomendações de convívio social.
Por enquanto,
afrouxar as medidas de restrição não está nos planos do governo. Uma das grandes
preocupações em Portugal é que, ao conseguir achatar a curva epidemiológica, o
país também criou um cenário onde não há a chamada imunidade de grupo. Ou seja,
a grande maioria das pessoas não são imunes ao vírus. "Sabemos que é
uma fração da população que não é de perto nem de longe suficiente para a
imunidade de grupo", afirma o epidemiologista Ricardo Mexia.
Por isso, a direção
geral de saúde já anunciou que serão feitos testes de imunidade na população
para descobrir com maior exatidão, qual a fração dos portugueses que está imune
ao covid-19. A expectativa é que
um plano de saída gradual seja feito, para que a vida em Portugal, aos poucos
vá se normalizando, mas sem correr o risco de perder o controle sobre a curva
de transmissão. "Temos que
relançar ou permitir o funcionamento da economia, mas assegurar que esse
relançamento não comprometa o esforço que foi feito até agora", reitera
Mexia.
Além de um
planejamento para retomar as atividades gradualmente, o epidemiologista destaca
que é importante não abrir mão das medidas que já estão em vigor, como etiqueta
respiratória, higienização das mãos e distanciamento físico. Além disso, ele
defende que medidas complementares, como o uso generalizado de máscaras, pode
ser positivo. "Não há ainda
muita evidência robusta neste sentido, mas face a algumas experiências em
outros países podemos avançar com uma solução deste gênero de utilização
disseminada de máscaras por parte da população sem esgotar aquilo que são os
dispositivos necessários para quem está na prestação de cuidados", declara
o médico.
EM TEMPO: Enquanto
isso aqui no Brasil, o Presidente é o primeiro a descumprir as regras.
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