segunda-feira, 23 de março de 2020

‘Pobres morrerão nas portas dos hospitais’, diz professor da USP sobre coronavírus



Henrique Gomes Batista

O médico Miguel Sroug prevê um colapso do sistema hospitalar brasileiro no auge da pandemia

Aos 73 anos, Miguel Srougi, um dos cirurgiões mais celebrados do país, critica a forma como o governo federal tem conduzido a crise do coronavírus. Para o professor da USP, nossa infraestrutura hospitalar sinaliza que os mais vulneráveis ficarão sem atendimento no pico da pandemia.
Qual é a sua perspectiva com a pandemia?
Eu sou urologista, não sou um infectologista, não posso fazer uma revisão científica profunda. Mas vemos os dados quantitativos e eles se pautaram por curvas que vão sendo construídas por autoridades médicas do mundo inteiro, que acompanharam a evolução da disseminação do coronavírus no mundo. Eles mostram que, quando um país passa de cem casos, a curva que vinha subindo de forma lenta de repente empina e, a cada dois ou três dias, dobra os números dos casos. E nessas horas isso desorganizou todos estes países do ponto de vista de recursos e de capacidade para atender os doentes. Aqui no Brasil a gente está assistindo a este processo como espectador, no mundo inteiro morrendo gente, todo mundo assustado, e o Brasil otimista.
Quais exemplos podem servir para o Brasil?
As autoridades não estão falando mais em número de mortos, de casos, mas em arrumar hospital, leitos. Temos exemplos emblemáticos. Estas medidas de fazer o chamado lockdown (proibir as pessoas de saírem às ruas) não impedem o vírus de se difundir, ela apenas achata a curva dos casos, ela continua lentamente, e isso permite que o sistema de saúde vá se readequando e dando apoio aos doentes. Mas estas medidas não curam a pandemia, que só vai ser resolvida quando descobrirem remédio ou vacina. O Brasil pôde assistir ao que ocorria na China e na Itália, e perdeu tempo de se preparar, por exemplo, transformando fábricas para fazer respiradores.
A política atrapalha o combate ao coronavírus?
O problema do Brasil está muito claro: existem no governo federal pessoas que estão flertando com as trevas. O presidente, de forma incompetente e imoral, menosprezou a gravidade da pandemia, julgou que com palavras poderia desviar a atenção popular e impedir uma constatação óbvia: a ruína da assistência médica no Brasil, principalmente a dos mais necessitados. Os grupos mais bem posicionados socialmente vão sobreviver, pois têm mecanismos de defesa mais fortes.
EM TEMPO: Para piorar a situação o presidente Bolsonaro, em obediência ao Presidente dos EUA, Donald Trump, assinou recentemente um acordo militar,  correndo o risco de colocar o Brasil numa aventura militar contra a Venezuela.

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