(Foto: Studio Incendo) |
Como viver em tempos
de pandemia
por Pedro Marin |
Revista Opera
A crise do
coronavírus tem avançado. Na China, o surto começa a dar sinais de estar sob
controle. Ao mesmo tempo, na Itália e na Espanha, o número de mortos cresce dia
após dia.
Apesar de sua
letalidade relativamente baixa – com exceção para os grupos de risco,
constituídos por aqueles com problemas respiratórios, idosos e pessoas com
problemas prévios (cardíacos e diabéticos, por exemplo) -, o vírus parece ter
efeitos alarmantes, para além dos pulmões, no tecido social e econômico das
nações.
É que seu tratamento,
nos casos mais graves, exige internação, e não temos leitos hospitalares
suficientes para todos. A estratégia para seu combate portanto é atrasar o
número de infectados para que o sistema de saúde não seja sobrecarregado, até
que uma vacina seja desenvolvida.
Além disso, os
efeitos econômicos podem ser devastadores. Primeiro porque, na medida em que
avança, as empresas deverão colocar seus funcionários em quarentena, em casa. A
primeira pergunta é se o governo tomará medidas para garantir que esses dias
não sejam descontados.
Segundo porque, em um
cenário de quarentena ampla, é de se esperar que boa parte dos 38 milhões de
trabalhadores informais tenham no mínimo uma redução na sua renda. São camelôs,
“marreteiros”, pessoas que vendem bolos e cafés nos pontos de ônibus e estações
de trem. Não terão clientela por algum tempo.
Por fim, o efeito
psicológico da pandemia leva cada um a tentar se proteger como pode. Em São
Paulo já se constata dificuldade em adquirir álcool gel e máscaras cirúrgicas.
Nesta segunda-feira, era possível ver famílias realizando grandes compras nos
supermercados. O cenário portanto é de aumento da demanda, com previsão de
redução na produção e possível paralisação. Os produtos podem simplesmente
sumir das prateleiras – como já ocorre em outros países – ou, ainda, aumentar
de preço. Soma-se a isso a incerteza sobre os salários, e temos um aumento dos
preços com redução da renda.
Tomando em conta
esses efeitos econômicos e sociais da pandemia, muito menos comentados do que
os aspectos infectológicos – ainda que estejam intimamente interligados -,
decidimos reunir aqui algumas dicas sobre como se comportar nesses tempos. Elas
não têm como objetivo fazer com que você individualmente fique na melhor
situação possível, mas que nós, como sociedade, o façamos. Seriam
responsabilidades de um governo apontá-las, bem como garantir que a quarentena
se realizasse sem prejuízo às famílias, mas o presidente parece não crer que o
vírus seja coisa séria.
1 – Álcool gel,
máscaras e luvas
Se você tem água e sabonete à disposição nos locais de trabalho e em casa, não
se desespere por álcool gel. Lavar bem as mãos, esfregando as palmas, os dedos,
as unhas e o pulso são coisas mais importantes e efetivas. Isso é importante
porque muitas outras pessoas – inclusive profissionais da saúde – precisam do
álcool gel, e à medida que a demanda pelo produto avança ao ponto dos preços
triplicarem na mão de especuladores (isso quando são encontrados), a tendência
é que ele falte para aqueles que precisam dele.
Não se desespere por
máscaras. Não é preciso fazer missões para adquiri-las como algo indispensável.
Elas são mais importantes para os profissionais de saúde. Elas podem ser
cruciais, no entanto, se você está doente e convive com outras pessoas em sua
casa.
Quanto às luvas, elas
definitivamente não ajudam. A infecção não se dá pelas palmas das mãos, mas sim
pela mucosa, olhos e boca. Não ajuda absolutamente nada cobrir suas mãos com
uma luva para depois tocar o rosto. Mas elas são fundamentais para os
profissionais de saúde.
2 – Os grupos
vulneráveis
Os idosos, diabéticos, hipertensos e quem tem insuficiência renal ou doença
respiratória crônica fazem todos parte dos grupos mais vulneráveis à infecção
do coronavírus. Não custa nada oferecer ir ao mercado por aquela senhora que
mora em seu prédio, pelo vizinho diabético ou por aquele parente hipertenso.
3 – Os estoques
Já muitos se adiantam para estocar tudo o que for possível nesses tempos. No
meio do mês, é possível testemunhar famílias com dois ou mais carrinhos de
supermercado cheios. Apesar desse tipo de ação nos garantir proteção ao aumento
de preços e possível escassez em um cenário de quarentena, é precisamente ela,
em efeito manada, que tem capacidade de elevar os preços e a especulação,
fazendo os produtos sumirem dos mercados. O governo deveria já ter um plano de
ação para combater a especulação e escassez, mas tendo em vista que é representante
de especuladores – ainda que de outro tipo – é improvável que faça muito para
combatê-las. O hiperconsumo é também uma forma de especulação; não o faça. Se
tiver comprado mais do que o necessário, se disponha a repassar produtos a
pessoas próximas em um cenário de quarentena.
4 – A aglomeração
Não vá a lugares cheios se não for estritamente necessário. Ainda que você não
faça parte do grupo de risco, há uma responsabilidade coletiva em jogo. Você se
torna mais um vetor de infecção, além de um possível ocupante de leitos, ainda
que provavelmente não vá morrer em decorrência do vírus.
5 – O direito à
quarentena
Converse com companheiros de trabalho e se organizem também por meio dos
sindicatos para garantir seu direito à quarenta. Ela é a melhor medida para
impedir a proliferação do vírus, e deve ser garantida sem descontos nos
salários. Caso seja possível trabalhar de casa, o faça.
*Esse texto deve ser
expandido ao longo dos dias.
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