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CORREIO BRASILIENSE - Andreia Castro
O embaixador da
China no Brasil, Yang Wanming, não esconde o incômodo com a teoria que está se
disseminando no governo de Jair Bolsonaro de que a pandemia do novo coronavírus
foi a forma que o país asiático encontrou para “dominar” o mundo.
Esse
pensamento, por sinal, foi expressado pelo filho 03 do presidente, o deputado
Eduardo Bolsonaro, em uma rede social. Ele comparou a atuação do regime chinês
no combate à Covid-19 ao episódio do acidente nuclear de Chernobyl, na antiga
União Soviética. Imediatamente, Wanming respondeu. Disse que as declarações do
parlamentar são “um insulto” e “vão ferir a relação amistosa entre o Brasil e a
China”. E exigiu um pedido formal de desculpas de Eduardo, pedido que ele
reforçou em entrevista por e-mail ao Correio.
“As palavras dele ferem não só a nação chinesa
como o sentimento do povo chinês, e não condizem com o bom ambiente vivido pelo
nosso relacionamento. Por isso, cabe a ele pedir uma desculpa. Estou convicto
de que tal narrativa não represente a posição do governo brasileiro. Vamos
fazer esforços junto ao lado brasileiro para que o relacionamento bilateral
continue se desenvolvendo de forma saudável”, reforçou.
O embaixador
afirmou que tomou ciência do pensamento anti-China dentro governo pela primeira
vez por meio de uma reportagem. Na mesma hora, pediu a seus colegas que
acionassem o Itamaraty, que descartou tal possibilidade. Mas o próprio ministro
de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, saiu em defesa de Eduardo Bolsonaro, ao
classificar como “inaceitável” a forma como o diplomata chinês cobrou o
deputado. Wanming disse que “jamais acreditaria que o presidente Bolsonaro”
pudesse ter “uma ideia dessa”.
Ele reconhece,
porém, que a teoria da conspiração contra a China está espalhada por vários
países, inclusive nos Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump se refere
ao coronavírus como o “vírus chinês”. “É uma lógica ridícula, que exubera preconceitos
contra a China e passou o limite ético do bom senso humano. Seu único propósito
é desacreditar o país e arruinar o seu relacionamento com a comunidade
internacional. Tenho certeza de que a sociedade brasileira está bem ciente
disso”, destacou Wanming.
Apesar de tentar
manter a serenidade, ele foi além: “Gostaria de salientar que será inútil
qualquer tentativa de difamar ou desprestigiar a China por parte de qualquer
indivíduo ou grupo. Isso jamais será aceito pelo governo ou pelo povo chinês”.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Segundo uma reportagem, o presidente
Jair Bolsonaro está convencido de que coronavírus é um plano do governo chinês
para recuperar a economia da China. Apesar de não se manifestar oficialmente, o
chefe do Planalto já teria dividido suas impressões com assessores, políticos e
com os próprios filhos. Como o senhor vê a teoria de Bolsonaro e o que pode
comentar a respeito?
Fiquei chocado com
o conteúdo dessa reportagem e meus colegas, de imediato, foram verificar isso
com o Itamaraty. A resposta veio rápida e clara: trata-se de uma pura e absurda
fofoca, que nem merece ser refutada. A parte chinesa também jamais acreditaria
que o presidente Bolsonaro teria uma ideia dessa. O fato é que, logo no início
do surto epidêmico na China, o presidente Bolsonaro encontrou-se comigo para
transmitir a sua solidariedade ao presidente Xi Jinping e ao povo chinês.
A
imprensa da China e do Brasil publicou a mensagem de solidariedade do
presidente brasileiro para a China no seu Twitter. Ministros, líderes de
partidos e outros amigos brasileiros manifestaram, de diversas formas, seu
apoio ao povo chinês no combate à epidemia. São esses os testemunhos do alto
nível das relações sino-brasileiras e dos preciosos laços de amizade entre os
dois povos.
O vírus é inimigo comum da Humanidade e o mundo inteiro está se
unindo para combatê-lo. É lamentável ver que certos países ocidentais não só
não deram apoio substancial à China no início do surto, como também atacaram,
sem fundamentos, as medidas de prevenção e controle que a China adotou. E,
quando essas medidas surtiram efeitos, fabricaram teorias irresponsáveis de que
“a China manipulou a situação e se aproveitou dela para alavancar sua
economia”.
É uma lógica ridícula, que exubera preconceitos contra a China e
passou o limite ético do bom senso humano. Seu único propósito é desacreditar o
país e arruinar o seu relacionamento com a comunidade internacional. Tenho
certeza de que a sociedade brasileira está bem ciente disso.
O senhor reagiu de forma imediata às
acusações do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da
República, de que a pandemia do novo coronavírus teria sido criada pelo China
para assumir o comando da economia global. Quais as consequências desse tipo de
declaração para as relações entre China e Brasil? De onde surgiu essa teoria da
conspiração?
As palavras dele
ferem não só a nação chinesa como o sentimento do povo chinês, e não condizem
com o bom ambiente vivido pelo nosso relacionamento. Por isso, cabe a ele pedir
uma desculpa. Estou convicto de que tal narrativa não represente a posição do
governo brasileiro. Vamos fazer esforços junto ao lado brasileiro para que o
relacionamento bilateral continue se desenvolvendo de forma saudável.
Existe cooperação contra epidemias
entre Brasil e China? Há canal direto entre os dois governos para tratar disso?
Como está a comunicação entre os dois países em época do novo coronavírus?
A China tem mantido
estreita comunicação e coordenação sobre o assunto com o Brasil e outros
países. Em apoio aos trabalhos mundiais de prevenção e controle, a China doou
US$ 20 milhões à OMS (Organização Mundial da Saúde), enviou especialistas
médicos e ofereceu materiais a países que os necessitam, como a Itália, além de
dividir com todos o protocolo de diagnóstico e tratamento e o programa de
contenção da Covid-19.
Estamos dispostos a prestar todo o apoio dentro do nosso
alcance, conforme as demandas da parte brasileira, e queremos intensificar a
nossa cooperação em matéria de resposta a epidemias e de pesquisa e
desenvolvimento de vacinas.
Como está sendo o plano de
recuperação econômica da China após a epidemia do novo coronavírus?
Enquanto trabalha
para controlar a epidemia, a China está adotando uma série de políticas
macroeconômicas para recuperar o crescimento socioeconômico. A produção já foi
retomada em mais de 91% das empresas estatais, e essa taxa aumenta para 95% em
setores como petróleo e petroquímica, telecomunicações, energia elétrica e
transportes. A economia chinesa está intimamente relacionada ao crescimento
global.
Com um grande senso de responsabilidade para com a comunidade
internacional, vamos nos valer de todas as políticas fiscais e monetárias que
forem necessárias para colocar a economia de volta nos trilhos do crescimento
sustentável e de alta qualidade, continuando a ser o estabilizador e a
locomotiva para a economia global.
Como a China conseguiu domar o novo
coronavírus? Quais medidas foram tomadas para conter a doença e conseguir
diminuir os danos provocados pelo vírus?
A epidemia na China
está sendo contida de forma efetiva e tende a melhorar daqui para frente. Mas
ainda não é hora de relaxar. Todas as medidas precisam ser seguidas à risca. O
vírus não tem fronteiras. A China, assim como outros países, está fazendo tudo
ao seu alcance para enfrentar a ameaça da pandemia.
Quanto às experiências, a
primeira é a grande importância atribuída pelo governo central. Sob o comando e
a coordenação do próprio presidente Xi Jinping, foram adotadas, de forma
resoluta, as medidas de contenção mais abrangentes, rigorosas e minuciosas. A
segunda é a seriedade das providências de prevenção e contenção. Todos os casos
confirmados no país inteiro foram hospitalizados e tratados, e os casos
suspeitos foram colocados em isolamento rigoroso.
E a terceira é rastrear todas
as pessoas que tiveram contato com o infectado e fazer todo o possível para
romper a cadeia de contágio e reduzir a transmissão comunitária. São medidas
extremamente necessárias, que permitiram uma contenção eficaz da propagação em
curto tempo. Cingapura, Japão, República da Coreia e outros países também
tomaram ações semelhantes e conseguiram resultados positivos.
Qual a opinião do governo chinês
diante das ações tomadas por Bolsonaro e de sua equipe frente à pandemia?
A parte chinesa
acompanha de perto a evolução epidemiológica no Brasil e tem confiança de que
as medidas proativas e responsáveis do governo brasileiro favorecerão a
contenção da doença e produzirão bons resultados.
A epidemia afetará as relações
sino-brasileiras? Por exemplo, a cooperação para a implantação do sistema de
internet 5G?
Estou convencido de
que a relação amistosa sino-brasileira vencerá qualquer turbulência. A China
tem uma parceira estratégica global com o Brasil e é seu maior parceiro
comercial deste país. As relações bilaterais têm uma base social sólida, com
interesses de desenvolvimento profundamente entrelaçados, e são amplamente
apoiadas pelos nossos povos e sociedades.
Estreitar ainda mais nossa cooperação
substancial em todas as áreas tem um importante significado para ambos os
lados. Há, de fato, retóricas esporádicas fabricadas para atrapalhar o bom
andamento das relações sino-brasileiras, até boatos mal-intencionados
disseminados por forças externas, como, por exemplo, politizar e militarizar a
questão do 5G, que é, aliás, uma parte normal na cooperação China-Brasil.
Todavia, gostaria de salientar que será inútil qualquer tentativa de difamar ou
desprestigiar a China por parte de qualquer indivíduo ou grupo. Isso jamais
será aceito pelo governo ou pelo povo chinês. Tenho certeza de que, entre China
e Brasil, a confiança política mútua é bem arraigada e nossos diálogos são
frutíferos. Por isso mesmo, nenhuma interferência externa perturbará o contexto
geral da nossa amizade e cooperação. Trabalharemos juntos para levar adiante
nossa parceria em todos os domínios a fim de realizar o crescimento conjunto e
trazer benefícios para nossos povos.
EM TEMPO: Quando será que a população brasileira vai aprender a votar em quem tem o que apresentar em termos de propostas? Votar no Clã Bolsonaro é um desastre. O pior é que o Clã Bolsonaro, está deslumbrado pelas funções que ocupam no contexto político.
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