Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (DENEM)
São Paulo está entre as 10 cidades com o maior número de bilionários do
mundo, com o décimo maior PIB do planeta, circulando mais de 500 bilhões de
reais em bens e serviços por ano. Quando se trata da região metropolitana, esse
valor ultrapassa os 600 bilhões.
Na segunda, dia 10/02/2020, ao menos 12 pessoas morreram porque choveu
em São Paulo.
Num raio de poucos quilômetros da avenida que é o cartão postal
paulistano, barracos e moradias em situação irregular foram destruídos por uma
forte chuva. Ruas, avenidas e diversos pontos da cidade ficaram alagadas,
ilhando famílias sobre o telhado de suas casas.
Como uma mesma cidade responsável pela movimentação de centenas de
bilhões de reais por ano ainda tem gente que morre por causa de chuva?
A forma como um povo habita o espaço geográfico é reflexo direto da
organização social do seu tempo. No Brasil, o processo de industrialização na
primeira metade do século XX e seu consequente êxodo rural resultou na formação
das favelas e periferias nos grandes centros urbanos. Sem a casa própria e com
aluguéis caros próximos aos locais de trabalho, restam ao trabalhador duas
alternativas: morar em regiões extremamente distantes de onde trabalham ou
morar de forma irregular em locais intermediários. Assim, o ambiente urbano, crescendo
de forma não planejada e sem amparo do Estado, passa a ter casas e habitações
em locais sem estrutura adequada, como saneamento básico, água encanada ou,
pior, em locais com risco de desabamento.
A reserva de imóveis vazios, esperando pelo aumento do seu valor, também
tem papel central nessa realidade. Essa prática, chamada de especulação
imobiliária, trata o imóvel – um prédio, um terreno ou uma casa – como um
investimento, ignorando seu papel social. Muitas vezes os proprietários desses
imóveis são, também, donos de empresas que influenciam diretamente na política
municipal, como sobre onde serão abertas estações de metrôs ou quais vias
passarão por reformas que valorizarão a região.
A iniquidade do acesso à cidade e à moradia e suas consequências não são
características exclusivas de São Paulo. O Rio de Janeiro sofre hoje com um
quadro alarmante de incidência de tuberculose em suas favelas. Recife tem o
maior número de crianças com microcefalia após o surto de Zika de 2015. Em
Manaus, um incêndio em 2018 atingiu cerca de 700 casas no bairro do Educando,
sendo a maioria de palafitas (casas de madeira construídas no leito de rios ou
igarapés), causando grandes perdas aos moradores. Outro incêndio destruiu
dezenas de casas de madeira no bairro de Canudos, no mês passado, em Belém.
Apesar de parecerem problemas distintos, todos trazem em comum a relação
com como se organiza a produção e a moradia nos grandes centros urbanos.
Outro ponto comum são as vítimas: principalmente pessoas negras e
pobres.
O extermínio da população negra tem como sua maior arma a política de
guerra às drogas, estratégia proibicionista que há décadas mostra-se ineficaz
no combate ao tráfico na América Latina. Mas não se encerra nisso: mortes por
questões de saúde pública, epidemias e tragédias “naturais” também têm como
principais vítimas o povo negro.
A essa realidade se dá o nome de racismo ambiental: as iniquidades do
espaço urbano e rural resultam em uma conformação em que poluentes, patologias
ou situações de risco atingem de forma específica populações marginalizadas.
Pensar a forma como produzimos, o modelo de desenvolvimento e a forma
como ocupamos os espaços urbano e rural é fundamental para entender as
diferentes formas de nascer, viver e morrer do nosso povo.
“Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns
países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder.
Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce:
especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do
Renascimento se lançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta.”
Eduardo Galeano – As veias abertas da América Latina
Leia mais sobre racismo ambiental:
Da escravização da população negra ao racismo ambiental – https://bit.ly/2NZLIOx
Racismo ambiental: derivação de um problema histórico – https://bit.ly/2u8cbA9
Leia mais sobre a questão da moradia:
Por que ocupamos? Uma introdução à luta dos sem-teto – https://bit.ly/2CgYTGa
Leia a cartilha da DENEM sobre Determinação Social do Processo
Saúde-Doença:
https://drive.google.com/open…
Leia o dossiê da DENEM sobre Saúde da População Negra:
https://drive.google.com/open…
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