Andréa
Martinelli, HuffPost Brasil
Durante seu
primeiro ano de mandato, o presidente Jair Bolsonaro realizou políticas ambientais que “deram
carta branca às redes criminosas que praticam extração ilegal de madeira na
Amazônia” e minou o poder de agências ambientais, afirma a Human Rights Watch
em seu relatório mundial sobre violações de direitos humanos, divulgado nesta
terça-feira (14.01.2020).
O estudo, que está
em sua 30ª edição e analisa a situação dos direitos humanos em mais de 100
países, seria apresentado inicialmente na quarta-feira (15), mas a divulgação
foi antecipada em um dia devido à decisão do governo chinês de barrar a entrada
de Kenneth Roth, diretor-executivo da ONG, em Hong Kong. No texto, o
diretor-executivo afirma “que o governo chinês, que depende da repressão para
permanecer no poder e está realizando o ataque mais intenso ao sistema global
de direitos humanos em décadas”.
No
que se refere ao Brasil, a ONG destaca que o governo Bolsonaro, em seu primeiro
ano, não só enfraqueceu as agências ambientais ao reduzir orçamentos, remover
servidores experientes e restringir a capacidade dos fiscais ambientais de
atuarem no campo, como também indicou que não cumprirá os compromissos do
Brasil em relação às mudanças climáticas. A ONG cita
declaração do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ao jornal Folha de S. Paulo de que o “desmatamento ilegal zero não
deve acontecer”. Em entrevista, porém, o ministro disse que defende a adoção de
meta para reverter a tendência de alta do desmatamento em 2020.
Dados preliminares
destacados pela HRW apontam que, de janeiro a outubro de 2019, o desmatamento
da Amazônia aumentou em mais de 80%, em comparação com o mesmo período de 2018.
Dados atualizados
pelo sistema Deter-B ― que gera informações em tempo real para auxiliar
operações do Ibama ― foram divulgados nesta terça-feira (14) pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e trazem
número maior do que o destacado pela HRW.
A área com alertas de desmatamento na Amazônia Legal, em 2019,
aumentou 85,3%, na comparação com o consolidado de 2018. Caso a comparação seja
feita entre os meses de dezembro de 2018 e dezembro de 2019, o crescimento é de
183%.
O uso de dados do
Deter, que produz informações em tempo real e tem a função de atualizar as
ações do Ibama no combate ao desmatamento, é considerado impreciso. Devido à
resolução das imagens dos satélites, o sistema captura apenas parte das
alterações. Em dias nublados, por exemplo, a precisão do sistema diminui. Este
detalhe é divulgado pelo próprio Inpe.
De acordo com o
Inpe, as estimativas do sistema Prodes, que é responsável por monitorar
via satélites as taxas anuais de desmatamento na região, são consideradas mais
confiáveis. O sistema tem precisão próximo a 95%.
ENTENDA OS DADOS
DE MONITORAMENTO:
Estudo da HRW
enfatiza que, sob Bolsonaro, as redes que promovem o desmatamento na Amazônia
estão envolvidas em crimes como a extração ilegal de madeira, grilagem,
fraudes, lavagem de dinheiro e corrupção.
A HRW diz que
esses grupos usam homens armados para intimidar e atacar “defensores da
floresta”, inclusive agentes federais e indígenas ― e destaca o assassinato, em
novembro de 2019, do “guardião da floresta”, Paulo Paulino Guajajara. Ele foi morto em emboscada feita por madeireiros na Terra Indígena Arariboia, em Bom Jesus das Selvas, no
Maranhão.
O relatório
destaca que a destruição da Amazônia não é “meramente uma questão ambiental,
mas um problema de segurança pública e justiça”, e diz considerar urgente que o
Ministro da Justiça, Sérgio Moro, se manifeste sobre o tema e “assuma sua
responsabilidade de combater a ilegalidade na região.”
“O Ministro Sérgio
Moro determinou como prioridade de sua gestão o combate ao crime organizado e à
corrupção. Esses crimes são elementos centrais da dinâmica que está
impulsionando a destruição desenfreada da Amazônia”, afirma Maria Laura
Canineu, diretora da Human Rights Watch no Brasil.
A HRW afirma que,
nos próximos dias, tem uma reunião marcada com o ministro para discutir as
ações do governo federal de combate à criminalidade na Amazônia. Há também
reuniões agendadas com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e outras
autoridades não especificadas.
“O que o Brasil
precisa urgentemente para enfrentar essa crise é que seu Ministro da Justiça
lidere uma resposta enérgica, em coordenação com as demais autoridades federais
e estaduais, para desmantelar as redes criminosas que lucram com o desmatamento
ilegal e que intimidam e atacam os defensores da floresta.”
Ainda sobre meio
ambiente, a HRW destaca que o governo aprovou 382 novos agrotóxicos restritos
ou proibidos na Europa e Estados Unidos pelo nível de toxicidade. E aponta que
o governo não monitora adequadamente a exposição a estas substâncias e a
presença de resíduos na água e em alimentos.
Dentro do tópico
sobre “Liberdade de expressão e de associação”, o relatório também destaca que
“Bolsonaro tem sido abertamente hostil às organizações não-governamentais
particularmente aquelas que defendem o meio ambiente e os direitos dos povos
indígenas”.
Em janeiro, o
governo conferiu à Secretaria de Governo o poder de supervisionar, coordenar,
monitorar e acompanhar” ONGs, mas o Congresso revogou esse poder.
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