FABIANO MAISONNAVE, Folhapress
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede)
criticou a declaração do ministro Paulo Guedes (Economia) em Davos (Suíça)
que vinculou a degradação ambiental à pobreza. Para
ela, são políticas públicas do governo Bolsonaro, como a regularização de áreas
griladas, que incentivam o desmatamento na Amazônia.
"O que gera maior critica o maior desmatamento
e crime ambiental são os governos", disse Marina, em entrevista por
telefone. "Eles desmontam a governança ambiental, apoiam formas predatórias
de uso da floresta e dos recursos naturais, negam o problema das mudanças
climáticas, cortam o orçamento do Ministério do Ambiente e ainda têm a falta de
noção de dizer que o maior inimigo são os pobres."
Filha de seringueiros e natural do Acre, Marina foi
ministra de 2003 a 2008, no governo Lula. Na pasta, promoveu a criação de
unidades de conservação na Amazônia e conseguiu reduzir o desmatamento por meio
do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal
(PPCDAm), extinto pelo governo Bolsonaro.
"É muito cômodo culpar a pobreza pela
degradação do meio ambiente. Eles enfraquecem o Ibama, o ICMBio e o Inpe,
propõem uma medida provisória pra quem roubou terra pública e aí dizem que os
pobres são os inimigos do meio ambiente?", questionou.
No final de dezembro, Bolsonaro assinou a Medida
Provisória 910, que abre espaço para a privatização de terras públicas
invadidas ilegalmente até o final de 2018. Para se tornar lei, o texto precisa
ser aprovado pelo Congresso.
"É claro que há ações feita por pequenos
produtores, mas, se continuássemos com a política de correr atrás dos pequenos
enquanto os grandes derrubam mais de mil hectares, nunca teríamos reduzido o
desmatamento", afirma.
Para a ex-ministra, os pobres na Amazônia sofrem
com a devastação da floresta. "Eles são vítimas de violência, de perda de
suas áreas, de todo o rastro de destruição que tem lá."
Levantamento do Ipam (Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia) mostra que 35% do desmatamento ocorrido entre agosto de
2018 e julho de 2019 (Prodes 2019) ocorreu em terras públicas não destinadas,
um processo de grilagem. Em segundo lugar, estão os assentamentos, com
27%.
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