domingo, 19 de janeiro de 2020

A Estética Nazista no Governo Bolsonaro



O filhote da serpente resolveu mostrar novamente sua mais nefasta face: Roberto Alvim, que até então ocupava o cargo de Secretário Especial da Cultura, a convite de Bolsonaro, não contente com as encenações de péssimo gosto, as declarações e ameaça da criação de uma “máquina de guerra cultural” contra o que ele chama de “arte e artistas de esquerda”, proferiu na tarde de quinta-feira (16/01), do alto da sua empáfia, um discurso com referências nazistas.

O Secretário, ex-diretor e encenador teatral de São Paulo, sentado em uma cadeira ao lado de uma bandeira do Brasil e abaixo do retrato de Bolsonaro envolto em faixa presidencial, iniciou o discurso com uma Opera de Wagner (compositor preferido de Hitler) ao fundo, dizendo: “a cultura é a base da Pátria. 
Quando a cultura adoece, o povo adoece junto. É por isso que queremos uma Cultura dinâmica, mas ao mesmo tempo enraizada na nobreza dos nossos mitos fundantes: a Pátria, a família, a coragem do povo e sua profunda ligação com Deus”. Sua fala, cheia de eufemismos, foi feita para anunciar o Prêmio Nacional das Artes, com um fomento ínfimo de 20.625 milhões de reais para todo o país, contemplando apenas 7 categorias divididas pelas 5 regiões do Brasil, porém, sem nenhuma atenção às culturas tradicionais e populares, desconsiderando as diversidades e regionalismos característicos da cultura brasileira, numa apologia à estética elitista e hegemônica burguesa.
No ápice do seu discurso, Alvim declara em bom tom os seguintes termos: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou não será nada”, parafraseando, num arremedo tosco, o discurso do Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista Joseph Goebbels: ”A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande pathos e igualmente imperativa e vinculante – ou então não será nada”.
Tal ousadia causou grande tumulto no governo e na sociedade. A Confederação Israelita, assim como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, pediram publicamente o afastamento do ex-secretário; diversas manifestações de repúdio de vários setores; publicações nas redes de Roberto Alvim e sua esposa Juliana Galdino, carregadas de desespero e dissimulações, tentando fazer acreditar que fora tudo uma “coincidência retórica”. 
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Até que, por volta das 10h da manhã, de sexta-feira, dia 17, Bolsonaro publicou em sua página do Twitter o afastamento de Roberto Alvim seguido de outra postagem em que dizia: “Reitero nosso repúdio às ideologias totalitaristas e genocidas, como o nazismo e o comunismo, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas (…)”. Sim, a mesma pessoa que homenageou o Coronel Ustra na Câmara dos Deputados, durante a sessão que decidiu pelo impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, agora querendo pousar de democrático, com um proselitismo tacanho, tenta associar novamente nazismo e comunismo, como se fossem uma coisa só. Bolsonaro se vale do momento para passar uma imagem de democrata, ao mesmo tempo que evidencia o discurso anticomunista.
Primeiramente é importante não nos atentarmos somente às formas desse discurso, mas onde e de que maneira ele se insere. Oras, até há bem pouco tempo, não haveria espaço possível para que um discurso com este tom fosse anunciado. O que mudou? A conjuntura que vivemos, a partir do recrudescimento da luta de classes que abriu espaço para o que de pior pudesse surgir no cenário nacional. A audácia de Alvim representa os interesses de uma burguesia decadente e desesperada que, diante de uma crise cíclica do capital, se agarra com unhas e dentes para manter seu status quo. 
É um discurso ideológico que obscurece a realidade vigente, ignora os interesses da classe trabalhadora e impõe uma cultura hegemônica, usando da velha alquimia – Família, Pátria e Religião – como solução para os problemas do povo brasileiro, como uma espécie de milagre, no qual o ex-secretário e o presidente se colocam, como heróis nacionais que irão salvar a Pátria e a família do fantasma do comunismo.
Ora, mas o que está por detrás dessas falas?
Esse arremedo nazista só entra em cena neste momento porque a conjuntura permite. A conjuntura é resultado das correlações de força e contradições presentes na luta de classes. O Nazismo não desapareceu com a morte do Füher, esses elementos não morrem, eles perdem ou ganham força de acordo com a conjuntura. Os elementos protofascistas sempre estiveram presentes na sociedade, porém, não de forma tão desmascarada como aparecem agora. Enquanto houver classe, haverá luta de classes e essas expressões são facetas dessas contradições. 
É bem conveniente para eles a associação do comunismo com o nazismo, já que o primeiro se situa como representante da luta da classe operária que tentam esmagar, é mais que óbvio que ao colocar lado a lado as duas expressões, têm em mente unicamente a intenção de criminalizar a luta dos trabalhadores contra os desmandos da burguesia, a quem eles representam.
Mas a estética nazista presente no vídeo e no discurso de Alvim não vieram da boca de um comunista, mas de um integrante do governo de Bolsonaro, que rapidamente de forma asséptica, tentou se libertar quando percebeu a reação em cadeia e o repúdio que causou a fala do ex-secretário. Teria ele demitido Alvim, caso seu discurso nazista passasse despercebido ou fosse bem aceito pela sociedade? 
Certamente não e ainda teria tido um papel de maior destaque em seu governo, assim como Goebbels cresceu ao lado da figura mitológica de Hitler que ele mesmo ajudou a criar. Como a emenda saiu pior que o soneto, então, melhor se livrar do membro necrosado antes que contagie todo o corpo e o leve à falência completa.
Porém, para nós trabalhadoras e trabalhadores, é necessário estarmos atentos ao momento de instabilidade do governo para agirmos rapidamente e avançar a passos largos na luta. Somente com a organização da classe trabalhadora em direção ao socialismo é que vamos conseguir transformar o cenário que vivemos e mudar os ventos da Revolução Proletária ao nosso favor e, dessa maneira, vencer a hegemonia cultural burguesa, que tenta a todo custo apagar e criminalizar a nossa luta e a nossa história.
Ousar, lutar. Ousar, vencer.
Alessandra Cavagna
Secretária Política do Coletivo Cultural Vianinha.


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