O filhote da serpente resolveu mostrar novamente sua mais nefasta face:
Roberto Alvim, que até então ocupava o cargo de Secretário Especial da Cultura,
a convite de Bolsonaro, não contente com as encenações de péssimo gosto, as
declarações e ameaça da criação de uma “máquina de guerra cultural” contra o
que ele chama de “arte e artistas de esquerda”, proferiu na tarde de
quinta-feira (16/01), do alto da sua empáfia, um discurso com referências
nazistas.
O Secretário,
ex-diretor e encenador teatral de São Paulo, sentado em uma cadeira ao lado de
uma bandeira do Brasil e abaixo do retrato de Bolsonaro envolto em faixa
presidencial, iniciou o discurso com uma Opera de Wagner (compositor preferido
de Hitler) ao fundo, dizendo: “a cultura é a base da Pátria.
Quando a cultura
adoece, o povo adoece junto. É por isso que queremos uma Cultura dinâmica, mas
ao mesmo tempo enraizada na nobreza dos nossos mitos fundantes: a Pátria, a
família, a coragem do povo e sua profunda ligação com Deus”. Sua fala, cheia de
eufemismos, foi feita para anunciar o Prêmio Nacional das Artes, com um fomento
ínfimo de 20.625 milhões de reais para todo o país, contemplando apenas 7
categorias divididas pelas 5 regiões do Brasil, porém, sem nenhuma atenção às culturas
tradicionais e populares, desconsiderando as diversidades e regionalismos
característicos da cultura brasileira, numa apologia à estética elitista e
hegemônica burguesa.
No ápice do seu
discurso, Alvim declara em bom tom os seguintes termos: “A arte brasileira da
próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade
de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa posto que profundamente
vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou não será nada”,
parafraseando, num arremedo tosco, o discurso do Ministro da Propaganda na
Alemanha Nazista Joseph Goebbels: ”A arte alemã da próxima década será heroica,
será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será
nacional com grande pathos e igualmente imperativa e vinculante – ou então não
será nada”.
Tal ousadia causou
grande tumulto no governo e na sociedade. A Confederação Israelita, assim como
o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, pediram publicamente o
afastamento do ex-secretário; diversas manifestações de repúdio de vários
setores; publicações nas redes de Roberto Alvim e sua esposa Juliana Galdino,
carregadas de desespero e dissimulações, tentando fazer acreditar que fora tudo
uma “coincidência retórica”.
Até que, por volta das 10h da manhã, de
sexta-feira, dia 17, Bolsonaro publicou em sua página do Twitter o afastamento
de Roberto Alvim seguido de outra postagem em que dizia: “Reitero nosso repúdio
às ideologias totalitaristas e genocidas, como o nazismo e o comunismo, bem
como qualquer tipo de ilação às mesmas (…)”. Sim, a mesma pessoa que homenageou
o Coronel Ustra na Câmara dos Deputados, durante a sessão que decidiu pelo
impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, agora querendo pousar de
democrático, com um proselitismo tacanho, tenta associar novamente nazismo e
comunismo, como se fossem uma coisa só. Bolsonaro se vale do momento para
passar uma imagem de democrata, ao mesmo tempo que evidencia o discurso
anticomunista.
Primeiramente é
importante não nos atentarmos somente às formas desse discurso, mas onde e de
que maneira ele se insere. Oras, até há bem pouco tempo, não haveria espaço
possível para que um discurso com este tom fosse anunciado. O que mudou? A
conjuntura que vivemos, a partir do recrudescimento da luta de classes que
abriu espaço para o que de pior pudesse surgir no cenário nacional. A audácia
de Alvim representa os interesses de uma burguesia decadente e desesperada que,
diante de uma crise cíclica do capital, se agarra com unhas e dentes para
manter seu status quo.
É um discurso ideológico que obscurece a realidade
vigente, ignora os interesses da classe trabalhadora e impõe uma cultura
hegemônica, usando da velha alquimia – Família, Pátria e Religião – como
solução para os problemas do povo brasileiro, como uma espécie de milagre, no
qual o ex-secretário e o presidente se colocam, como heróis nacionais que irão
salvar a Pátria e a família do fantasma do comunismo.
Ora, mas o que está
por detrás dessas falas?
Esse arremedo nazista
só entra em cena neste momento porque a conjuntura permite. A conjuntura é
resultado das correlações de força e contradições presentes na luta de classes.
O Nazismo não desapareceu com a morte do Füher, esses elementos não morrem,
eles perdem ou ganham força de acordo com a conjuntura. Os elementos
protofascistas sempre estiveram presentes na sociedade, porém, não de forma tão
desmascarada como aparecem agora. Enquanto houver classe, haverá luta de
classes e essas expressões são facetas dessas contradições.
É bem conveniente
para eles a associação do comunismo com o nazismo, já que o primeiro se situa
como representante da luta da classe operária que tentam esmagar, é mais que
óbvio que ao colocar lado a lado as duas expressões, têm em mente unicamente a
intenção de criminalizar a luta dos trabalhadores contra os desmandos da
burguesia, a quem eles representam.
Mas a estética
nazista presente no vídeo e no discurso de Alvim não vieram da boca de um
comunista, mas de um integrante do governo de Bolsonaro, que rapidamente de
forma asséptica, tentou se libertar quando percebeu a reação em cadeia e o
repúdio que causou a fala do ex-secretário. Teria ele demitido Alvim, caso seu
discurso nazista passasse despercebido ou fosse bem aceito pela sociedade?
Certamente não e ainda teria tido um papel de maior destaque em seu governo,
assim como Goebbels cresceu ao lado da figura mitológica de Hitler que ele
mesmo ajudou a criar. Como a emenda saiu pior que o soneto, então, melhor se
livrar do membro necrosado antes que contagie todo o corpo e o leve à falência
completa.
Porém, para nós
trabalhadoras e trabalhadores, é necessário estarmos atentos ao momento de
instabilidade do governo para agirmos rapidamente e avançar a passos largos na
luta. Somente com a organização da classe trabalhadora em direção ao socialismo
é que vamos conseguir transformar o cenário que vivemos e mudar os ventos da
Revolução Proletária ao nosso favor e, dessa maneira, vencer a hegemonia
cultural burguesa, que tenta a todo custo apagar e criminalizar a nossa luta e
a nossa história.
Ousar, lutar. Ousar,
vencer.
Alessandra Cavagna
Secretária Política
do Coletivo Cultural Vianinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário