Imagem, postada no
Facebook com que o comando da PM anunciou início de operações em Paraisópolis |
Foto: Reprodução/Facebook
Por Arthur Stabile e Fausto Salvadori
A ação da Polícia Militar que
terminou com nove jovens mortos na madrugada deste domingo
(1/12) na favela de Paraisópolis, na zona sul da cidade de São Paulo, deixou os
moradores chocados, mas não chegou a ser uma surpresa. Conforme relatos de mais
de uma dezena de moradores ouvidos pela Ponte, as mortes ocorreram após um mês em que policiais militares
fizeram ameaças diárias aos
habitantes da favela, por conta da morte do sargento
da PM Ronald Ruas Silva, ocorrida em 1º de novembro de 2019.
Ruas, de 52 anos, morreu após ser
baleado na barriga durante uma troca de tiros na avenida Professor Alcebíades
Delamare, nas imediações de Paraisópolis. No dia seguinte, sem mencionar a
morte do sargento, o comandante geral da PM, coronel Marcelo Vieira
Salles, postou nas redes
sociais que a comunidade seria alvo de “uma Operação Saturação”, como são
chamadas ações com a presença massiva de policiais. No comunicado, Salles dizia
que “centenas de policiais militares” de diferentes unidades intensificariam o
policiamento no bairro, “sem previsão de término”.
Desde então, as operações da PM no
local passaram a ser diárias, com bloqueios de ruas, revistas de pessoas,
entradas em casas e comércios, além de ameaças. “Vamos tocar o terror em
Paraisópolis” passou a ser um refrão usado por muitos deles, segundo falas dos
moradores.
O músico Marcos Forlan, o MC Sacana,
conta que foi abordado por dois policiais, há duas semanas, quando entrava num
supermercado de camiseta e chinelo. “Eles perguntaram o que eu fazia e eu fui
falando. Quando eu falei que era ator e MC, eles já me ameaçaram naquele tom:
‘MC também morre de vez em quando'”, conta. Segundo o músico, os policiais
deixavam claro que sua atitude era uma vingança contra a favela por causa da
morte do colega. “A polícia é assim: quando morre um policial, a polícia toda
para para resolver isso, mas quando morre um favelado, nem liga.”
A reportagem da Ponte esteve em Paraisópolis em
10 de novembro e ouviu diversos relatos de ameaças e agressões feitas por
policiais. Um morador entregou um vídeo de uma das abordagens feitas neste
período, que mostra pelo menos quatro PMs agredindo uma pessoa em plena rua até
serem contidos por um oficial.
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As operações violentas da Polícia
Militar fazem parte da história de Paraisópolis, segunda maior favela da
capital paulista, geralmente como um “revide” por conta de alguma violência
praticada contra a corporação. Em 2009, após três policiais terem sido baleados
num tumulto, a PM deu início a uma Operação Saturação que durou 82 dias e
deixou relatos de práticas de tortura feitas
até em crianças e idosos, segundo O Estado de S.Paulo. Quando a PM Juliane dos
Santos Duarte foi sequestrada, torturada e morta por
membro do PCC (Primeiro Comando da Capital), em agosto de 2018, policiais
também foram denunciados por abusos, inclusive o de
“apontar uma arma para a cabeça de uma menina negra” sem justificativa, segundo
a União dos Moradores da Favela do Jardim Colombo.
A violência nas operações contra os
bailes funk também é constante. A Ponte relatou
em duas ocasiões a história da estudante Dayane de Oliveira, que, em janeiro de
2013, aos 17 anos, perdeu um olho ao
ser atingido por um estilhaço de bomba, lançado pela PM durante uma operação
contra os pancadões do bairro. Sem amparo do Estado e vítima de depressão por
conta da perda do olho, Dayane tornou-se moradora de rua.
Outro lado
Procurada, a PM afirma que “faz
rondas diárias na região da ocorrência para aumentar a sensação de segurança da
população e como medida de prevenção às práticas criminosas” e que “a
Corregedoria da Polícia Militar está à disposição para receber denúncias em
caso de atuação imprópria dos policiais militares”.
Em coletiva de imprensa neste domingo, o porta-voz
da PM Emerson Massera negou que a ação policial que terminou com a morte de
nove jovens pisoteados tenha relação com operações anteriores. Segundo o porta-voz,
quatro policiais da Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) estavam
em patrulhamento pela área e abordaram dois homens numa motocicleta, que teriam
atirado contra eles. Os homens teriam entrado atirando no baile funk, segundo a
versão policial, e provocado o pânico que levou às mortes. Já moradores dizem
que foram encurralados pelas bombas da polícia nas vielas de Paraisópolis.
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