Por Ítalo Andrade (Membro do CC e do CR/Ceará do PCB)
Enviadas à Assembleia
Legislativa do Estado do Ceará na terça-feira (10/12), as Mensagens de Lei que
tratam da Reforma da Previdência Estadual, remetidas pelo Governador Camilo
Santana (PT), foram aprovadas durante sessão legislativa realizada na última quinta-feira
(19.12.2019).
Com 34 votos a favor
e 8 votos contrários, a Reforma da Previdência Estadual amplia a idade mínima
para aposentadoria, taxa os servidores aposentados e corta a pensão por morte.
Vale destacar que, dentre os 34 deputados que votaram a favor da maldita
reforma, contam os nomes de parlamentares vinculados ao Partido dos
Trabalhadores (PT), ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), ao Partido
Democrático Trabalhista (PDT) e ao Partido Social Liberal (PSL).
Ao evidenciarmos o
posicionamento político do PT, PCdoB e PDT, favoráveis à Reforma da Previdência
Estadual, buscamos chamar atenção para o descompasso entre um aparente discurso
de combate à retirada de direitos e a prática nefasta de ataque aos
trabalhadores.
Lembremos que,
recentemente, quando da aprovação da reforma da previdência proposta por
Bolsonaro (PSL) e Paulo Guedes, todas estas organizações fecharam posição
contrária à proposta do Governo Federal. Em termos de discurso, PT, PCdoB e PDT
sempre apareciam como “defensores dos direitos conquistados historicamente”,
todavia, nos bastidores da arena política e dos meandros das casas
legislativas, a situação era diferente.
De acordo com
informações publicadas pelos grandes veículos de informação do Ceará, Camilo
Santana (PT), assim como outros governadores petistas, atuou diretamente pela
aprovação da reforma de Bolsonaro (PSL). Enquanto diversos deputados federais
do PDT votaram abertamente a favor da reforma. Como diz um famoso provérbio
italiano: “Vá a praça e peça um
conselho, vá pra casa e faça como você quer”.
Como todos sabíamos,
era questão de tempo para que Camilo Santana (PT) apresentasse sua proposta de
reforma da previdência e, a toque de caixa, aprovasse a matéria, com auxílio,
evidentemente, de sua base aliada, que inclui PCdoB, PDT, Cidadania, PSB, PP e
outros.
O aparente
descompasso entre uma deliberação nacional e o modo de governar petista também
não deve ser causa de grande espanto. Afinal , este não é o primeiro e,
certamente, não será o último ataque promovido pelo Governador e sua ampla base
de apoio.
A reforma da reforma
Ainda em 2016, também
no apagar das luzes, o Governador Camilo Santana apresentou e a Assembleia
Legislativa aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 03/2016, que
congelou o investimento em áreas sociais e limitou gastos públicos por 10 anos,
seguindo a PEC do Congelamento, do então Presidente Michel Temer.
Não satisfeito em
congelar os investimentos públicos em áreas de interesse social, o Governador
foi além e aprovou aquilo que nem mesmo Michel Temer conseguiu: o aumento da
alíquota previdenciária, que saltou de 11% para 14%.
Junto a isto,
considerando apenas o período de 2016 a 2019, os servidores públicos estaduais
têm acumulado sucessivas perdas salariais, que já chegam à marca de 25%, e diversos
deles aprovados em concursos públicos aguardam homologação e/ou convocação até
o momento não realizadas sob a falsa justificativa de respeito à
responsabilidade fiscal e busca do equilíbrio das contas públicas.
Em nome da política
de “equilíbrio fiscal” e da transferência (in)direta de recursos públicos para
o grande capital, Camilo Santana (PT) e sua base aliada aplicaram a segunda
etapa da Reforma da Previdência Estadual. Em um Estado em que, ano após ano, se
alcançam índices de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima da média
nacional, em que ano após ano quebram-se recordes de arrecadação e
investimentos, o Governo Camilo Santana (PT) nos envia uma mensagem muito
clara, qual seja: não faltam e não faltarão ataques aos direitos dos trabalhadores,
enquanto que para os grandes capitalistas, em especial do setor logístico,
tecnológico, aéreo e portuário, não sobram e não sobrarão isenções e benefícios
fiscais e outras tantas regalias.
Bolsonaro e Paulo Guedes x Camilo e Mauro Filho
Vejamos abaixo um quadro comparativo entre a reforma da previdência nacional e a estadual:
.BOLSONARO ANTES REF. DO CAMILO (PT)
Idade mínima (servidor) .Mulheres: 62 .M: 55 .Mulheres: 62.
.H: 65. .H: 60. .H: 65.
.H: 65. .H: 60. .H: 65.
Idade mínima (professor) .Mulheres: 57 .M: 50 .Mulheres: 57.
.H: 60. .H: 55. .H: 60.
.H: 60. .H: 55. .H: 60.
Além disso, assim
como na reforma de Bolsonaro, a reforma da previdência estadual estipula a
contribuição previdenciária obrigatória para aposentados e pensionistas, que
antes não eram taxadas e agora serão tributadas em 14%.
Organizar a resistência e avançar na luta contra a
retirada de direitos!
Para aprovar a
Reforma da Previdência, Camilo Santana (PT) fez uso não somente
de manobras
políticas, mas também usou do aparato policial para reprimir os traba-
lhadores
que protestavam contra a retirada de direitos.
Bombas de efeito
moral, gás lacrimogêneo e muita pancadaria foram registrados
do lado de fora
da Assembleia Legislativa, tendo em vista a ordem expressa de
impedir a
entrada daqueles que ousavam lutar pela manutenção de seus direitos.
Os fatos acima relatados
apontam para a necessidade de superação de qualquer
ilusão com governos de
coalizão da ordem. Ainda que do ponto de vista do discur-
so os governos
petistas busquem se apresentar como governos progressistas,
a prática –
critério da verdade – revela uma outra realidade, qual seja, que estes
governos não hesitam quando o que está em jogo é a manutenção do
establischment,
mesmo que isto custe os direitos dos trabalhadores.
Uso aqui de outro
provérbio, onde a sabedoria popular nos ensina que: “Nenhum
pássaro aprende a voar dentro de
uma gaiola”. É hora de romper com o cerco da
conciliação de classes, é
hora de organizar a resistência e avançar na luta contra
a retirada de
direitos!
Lembremos aqui de
uma das mais famosas de cartas de Engels, quando em
setembro do longínquo ano
de 1871, durante a Conferência da Primeira Internacional,
ressaltava
que: “a política que é preciso
fazer é a política operária; é preciso que
o partido operário seja
constituído não como a cauda de qualquer partido burguês,
mas como partido
independente que tem o seu objetivo, a sua política própria”.
Neste sentido, a
brava militância do Partido Comunista Brasileiro (PCB), junto a
todas outras
organizações políticas, entidades de classe, movimentos sociais e
estudantis,
fez-se presente na luta contra a Reforma da Previdência Estadual,
denunciando
a retirada de direitos, ecoando nossas palavras de ordem e
apontando para a
necessidade de constituição de um bloco unitário da
esquerda socialista,
capaz de contribuir para a reorganização da classe
trabalhadora e, assim,
barrar os retrocessos em curso.
Como dito pelo
grande poeta e dramaturgo Bertolt Brecht, em seu poema Elogio
da Dialética:
Os caídos que se
levantem!
Os que estão
perdidos que lutem!
Quem reconhece a
situação como pode calar-se?
Os vencidos de
agora serão os vencedores de amanhã.
E o “hoje” nascerá
do “jamais”.
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