Como ativista, logo
no início de meus vinte anos de idade, eu não sabia muita coisa sobre o que era
realmente o comunismo; tudo que ouvia era que os comunistas eram pessoas "más,
que faziam mal a você e a seus entes queridos".
Atuando no movimento estudantil
de Chicago, conheci um membro do MECHA (Movimento Estudantil Chicano de Aztlan)
que me falou que o Partido Comunista dos Estados Unidos estava promovendo um
curso de Marxismo e perguntou-me se eu tinha interesse em frequentá-lo.
No primeiro dia, o
professor explicou por que havia pessoas ricas e pessoas pobres. Esclareceu que
existiam pobres porque os donos de empresas fabris, negócios e recursos
naturais (os "meios de produção", como entendi naquela tarde),
exploravam os que alugavam sua capacidade de trabalho, pagando-lhes salários
baixos ao mesmo tempo em que acumulavam, consequentemente, montões de dinheiro
ao venderem as mercadorias produzidas pelos trabalhadores.
Como exemplo claro e
simples, explicou empregar 50 centavos de dólar para fazer um par de sapatos, e
vender logo após o mesmo par de sapatos por dois, três ou mais vezes o valor
inicial. Esse novo valor representava a origem do lucro. "Isto faz sentido",
pensei imediatamente.
No segundo dia de
aula, o professor explicou como as sociedades se modificaram no decorrer do
tempo. Na sociedade humana primitiva, o comunismo primitivo, todos partilhavam
o disponível, mas havia muito pouco para repartir. Ao enfrentarem a escassez,
as pessoas eram forçadas a aprender como domesticar animais, a prendê-los nas
proximidades a fim de conseguirem alimentos. Nesse período, alguns indivíduos
tornavam-se necessários para ajudar a manter os rebanhos, lavrar a terra e
assim surgiu a escravidão. Dessa forma, as
pessoas começaram a ser separadas por classes.
Alguns passaram a controlar os
excedentes produzidos, enquanto outros executavam o trabalho para produzi-los.
O conflito surgiu por causa das horríveis condições de trabalho suportadas
pelos escravos, todavia, crescia a tal ponto que estes passaram a exigir mudanças.
E, assim, surgiu a sociedade feudal. Os escravos adquiriram um pouco de liberdade.
Sob o sistema
feudal, os proprietários fundiários encarregavam outros, os servos no amanho da
terra que possuíam, a fim de aumentarem a produção de alimentos. Em regra, os
proprietários exigiam mais do que os servos eram capazes de produzir para a
própria subsistência. Estes, por sua vez, começaram a impor mudanças, enquanto
nos centros urbanos nova classe surgia, e esta já não extraia sua riqueza da
terra e sim da produção e venda de mercadorias.
Este grupo de mercadores e manufatureiros era o que
conhecemos como a classe capitalista. Diante dos senhores feudais e do conflito
entre estes e a classe capitalista, um novo sistema – o capitalismo – gerou-se.
E a gente que saia da
lavra da terra para trabalhar nas fábricas e demais indústrias formava a classe
operária hoje conhecida. Da maneira como a história parecia
desenvolver-se diante de nós, eu sentia como se fossem peças de um quebra-cabeça
flutuando em minha cachola e logo após juntando-se logicamente.
Há uma ciência que
pode explicar as razões que conduzem a essas mudanças, como eram fundamentadas,
como se baseavam na desigualdade entre os indivíduos e firmadas nas posições
que mantinham na economia – fincadas na classe a que pertenciam. Isto lançava luz sobre a exploração de uma
classe por outra, e também mostrava que quando uma classe explorada realiza
seus interesses e age em conjunto, ela pode abolir a classe dominante.
Se outros grupo explorados podiam agir assim então os trabalhadores podiam agir
da mesma forma. “Pensei, busca-se uma explicação científica”. Logo cheguei à expectativa coerente de que
uma sociedade melhor é possível e também conclui que se necessita de uma
organização para efetuar as mudanças.
O que aprendi
naqueles primeiros dias é que podemos construir uma sociedade melhor, uma
sociedade em que não existam pobres. E que partilhemos nossos talentos em
benefício de todos. Também aprendi que os detentores do poder deste não se
desfazem facilmente; que tudo farão para que você acredite que não pode mudar as
coisas, e sinta-se impotente ao mesmo tempo dizendo-lhe mentiras. Nessas
mentias incluem coisas que a mim e a muitos outros são ditas sobre o comunismo.
Na década de 1950,
os comunistas eram de tal forma demonizados que chegava ao ponto de afugentar as
pessoas, e as famílias temiam falar abertamente de assuntos importantes de suas
vidas. Mas como isso acontecia? É por que a abolição do capitalismo, do
colonialismo, do imperialismo, segundo as idéias de Marx, de Engels e de Lenine atraem muita
gente em inúmeras partes do mundo.
Os povos buscam solução para seus
problemas e isto tornava os capitalistas temerosos de perderem seu poder. Assim
eles, os capitalistas, não podiam tergiversar e levar as pessoas a pensarem que
as idéias socialistas e comunistas não lhes favoreciam.
São coisas que os
porta-vozes governamentais ainda fazem hoje em dia. O senador Lindsay está chamando
o agrupamento de mulheres progressistas de “A Turba”. Segundo sua
classificação, os representantes Ocasio Cortez, Ilham Omar, Ayanna Pressley e
Rashida Tlaib são comunistas, na tentativa de empregar a mesma tática dos anos
1950. Os que ocupam o poder
fazem qualquer coisa que julguem possível com o objetivo de manter seus bilhões
e explorar os trabalhadores mantendo-os divididos, atemorizados e culpando uns
aos outros pelas desigualdades sociais.
Seja isso anticomunismo,
racismo, sexismo, homofobia ou ódio aos imigrantes – a finalidade é a mesma. Os
membros progressistas do Congresso falam claramente e apontam as injustiças a
fim de que não sejamos vítimas de mais uma lavagem cerebral. Agora, vivemos uma
oportunidade em que podemos facilmente entender o que é e o
que não é o comunismo. Estou atenta às palavras do arcebispo
brasileiro Dom Helder Câmara, que afirmou “Quando dou pão aos pobres
chamam-me de santo. Quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de
comunista”.
Tradução do artigo Call me a communist, de Rossana Cambron,
vice-presidente do Partido Comunista dos Estados Unidos, publicado pelo
People´s World em 08.07.2019. Tradutor: Odon
Porto (Tradutor, Militante Político e Ex-Gerente do BB, Agência Garanhuns/PE).
Excelente texto.
ResponderExcluirMuito bom.