© Reuters/REMO CASILLI. Papa Francisco participa do sínodo da Amazônia no
Vaticano
O papa Francisco
disse nesta segunda-feira a uma assembleia de bispos convocada para debater a
região da Amazônia que a sociedade moderna não deveria tentar impor suas regras
aos povos indígenas, mas respeitar sua cultura e deixá-los planejar o próprio
futuro.
Francisco, que é
argentino, discursou na abertura da primeira sessão de trabalho de um sínodo de
três semanas sobre o futuro da Igreja Católica na Amazônia, incluindo a
possibilidade de ordenar padres casados. O papa disse que os
povos da Amazônia não deveriam ser "abordados com um tipo de anseio
empresarial que procura lhes dar programas preconcebidos que visam
discipliná-los" e às suas história e cultura. "A colonização
ideológica é muito comum hoje... (vamos dizer) 'não' a esse anseio de
domesticar povos originais", disse.
Francisco, que já
pediu perdão em nome da Igreja pelos erros de missionários europeus que
acompanharam os primeiros colonizadores, disse que, durante muito tempo, muitos
da Igreja tiveram uma atitude "depreciativa" em relação a povos
nativos e suas culturas, e que alguns ainda têm. "Fiquei muito
triste de ouvir, bem aqui, um comentário debochado sobre aquele homem pio que
trouxe oferendas com penas na cabeça", contou, falando de um nativo da
Amazônia que participou de uma missa papal no domingo.
"Digam-me: que
diferença existe entre ter penas na cabeça e o chapéu de três pontas usado por
algumas autoridades dos nossos (departamentos do Vaticano)?"
O sínodo de três
semanas debaterá a disseminação da fé na Amazônia, um papel maior para as
mulheres, a proteção ambiental, a mudança climática, o desmatamento, os povos
indígenas e seu direito de manter suas terras e tradições. Ele acontece no
momento em que a Amazônia está sob os holofotes de todo o mundo por causa dos
incêndios devastadores no Brasil. Na missa de abertura de domingo, Francisco
disse que os incêndios foram ateados intencionalmente por grupos de interesse.
Presente ao
encontro, o cardeal brasileiro Claudio Hummes disse em seu discurso à reunião
de cerca de 260 pessoas --a maioria bispos de países amazônicos-- que a Igreja
tem que estar aberta à mudança.
"A Igreja não
pode permanecer inativa dentro de seu próprio círculo fechado, focada em si
mesma, cercada por muros de proteção, e ainda menos olhar nostalgicamente para
o passado", afirmou.
Papa critica "interesses" que provocaram incêndios
devastadores na Amazônia
© (Foto: Reuters)
Para
o papa Francisco, incêndios como os que recentemente devastaram a Amazônia
foram provocados por "interesses destrutivos". A declaração foi feita
neste domingo (6) na missa de abertura do Sínodo da Amazônia, que começa
oficialmente hoje no Vaticano. "O
fogo causado por interesses destrutivos, que devastaram a Amazônia, não vem do
Evangelho", disse o papa aos religiosos de nove países da região
amazônica. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade.
Alimenta-se com a partilha, não com os lucros.” Segundo ele, “esse fogo
devastador se alastra quando a intenção é apenas defender ideias próprias,
constituir um grupo e queimar a diversidade para uniformizar tudo e
todos", criticou o pontífice.
Entre
janeiro e 19 de setembro desde ano, o Brasil registrou um aumento de 56% dos
focos de incêndio florestais em relação ao mesmo período do ano passado,
segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Cerca de
metade deles, 47%, atingem a Amazônia. O alastramento das
queimadas, que desencadeou protestos em todo o mundo, foi atribuída em parte à
política do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que chegou ao poder em
janeiro. Ele é acusado de facilitar a expansão das terras dedicadas à criação
de gado e plantações para atividades comerciais, contribuindo desta forma ao
desmatamento.
Novo colonialismo
Na
sua homília, o papa reconheceu que a igreja participou ao longo da história de
“várias formas de colonização violenta em nome da evangelização”, mas alertou
para a o risco de um novo colonialismo. Ele também pediu aos bispos que “não
sejam apenas funcionários” da igreja, e se dediquem mais à ação missionária
concreta. O pontífice
espera que o Sínodo, que discutirá propostas inovadoras mas controversas,
“renove os caminhos da igreja na Amazônia.”
O
documento de trabalho de 80 páginas da assembleia de bispos latino-americanos
alerta sobre os problemas ecológicos e humanos da região, crucial para o
equilíbrio do planeta. As discussões, que começam hoje, terminam no dia 27 de
outubro.
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