Grupo de indígenas entra em Quito. Cerca de 20 mil rumaram para a
capital.
Presidente que traiu
o mandato, para somar-se aos EUA e FMI, foge da capital para Guayaquil. Dezenas
de milhares de indígenas chegam a Quito. Nas ruas, população enfrenta Estado de
Emergência e centenas de prisões
Outras Palavras
Por Antonio Martins
Os protestos da
população do Equador, contra um pacote de medidas neoliberais imposto pelo
governo e FMI, assumiram caráter semi-insurrecional nesta segunda-feira (7/10).
Em Quito, multidões continuaram desafiando o Estado de Emergência e a prisão de
mais de 500 pessoas. A greve geral nos transportes prosseguiu. Além disso,
centenas de vias continuam interrompidas, há protesto permanente nas ruas e
houve tentativa de tomar a sede do Legislativo. A revolta tomou as ruas das
principais cidades do país desde quinta-feira (2/10), quando o Executivo
anunciou um vasto leque de ações. O aumento (de 123%) preço dos combustíveis,
com a retirada de subsídios, é apenas a mais vistosa delas. O pacote inclui uma
contrarreforma trabalhista (bastante semelhante à vivida pelo Brasil em 2018),
privatizações generalizadas e cortes dos gastos sociais.
População, nas ruas,
desafia Estado de Emergência e mais de 500 prisões
O presidente Lenin
Moreno fugiu à tarde, do palácio de Carondelet, que estava cercado, e rumou
para a cidade portuária de Guayaquil, onde está. Num pronunciamento em rede de
TV – ladeado simbolicamente pelo ministro de Defesa e chefes militares, além de
seu vice – acusou os que se manifestam de “vandalismo” e “golpe”.
Mas seu principal
pesadelo se concretizou. Cumprindo o que havia anunciado na sexta-feira, a
Confederação Nacional Indígena do Equador (Conaie) começou a mobilizar dezenas
de milhares de indígenas para a capital – repetindo processo idêntico ao que
levou à deposição de quatro presidentes, entre 1997 e 2005. Jaime Vargas, líder
da organização, anunciou que 20 mil pessoas estavam rumando para Quito – muitas
delas em carrocerias de caminhão.
Na Amazônia equatoriana,
manifestantes ocuparam as instalações do campo petrolífero de Sacha,
interrompendo sua produção de 70 mil barris por dia – cerca de 15% da extração
total do país. Os indígenas também retiveram – para em seguida liberar,
pacificamente, 50 soldados, que haviam sido interceptados.
Lenin Moreno foi
eleito no rastro da “Revolução Cidadã” de seu antecessor, Rafael Correa. Porém,
contrariou seu programa desde o primeiro dia de mandato e aproximou-se, em
especial, dos Estados Unidos. Reverteu as políticas de resgate dos direitos
sociais – culminando agora com o pacote ultracapitalista. Cancelou o asilo
político a Julian Assange, na embaixada do Equador em Londres, e o entregou à
polícia britânica. Apoiou as tentativas de desestabilizar a Venezuela. Retirou
Quito da União das Nações da América do Sul (Unasul) e até da Organização dos
Países Exportadores de Petróleo (OPEP). A quase-insurreição dos equatorianos e
a fuga do presidente são mais um sinal da fragilidade de tais políticas, quando
eficazmente enfrentadas.
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