CORREIO BRASILIENSE - Jorge Vasconcellos
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Os fantasmas das
eleições de 2018 ainda devem assombrar muita gente graúda do PSL, partido do
presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, a crise na legenda mudou de
patamar e escalou a rampa do Palácio do Planalto.
As atenções voltadas às
candidaturas de fachada em Pernambuco e Minas Gerais agora se voltam também
para as suspeitas de que a estrutura da sede do governo esteja sendo usada para
comandar um batalhão de perfis falsos nas redes sociais, com a missão de
espalhar difamações e mentiras.
Em entrevista ao Correio, o presidente da CPI
mista das Fake News, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), disse que “a comissão de
inquérito não foi criada para servir de arena de disputa política, mas adotará
todo o rigor nas investigações e na responsabilização dos envolvidos”.
“A CPMI aprovou requerimento de convocação de
pessoas que trabalharam na campanha do presidente Jair Bolsonaro para que
esclareçam denúncias de disseminação de fake news. Vamos apurar com todo o
rigor, mas não vou permitir que a CPMI seja transformada em palanque para quem
queira se vingar”, afirmou o senador, assegurando não ser governista nem de
oposição. “Nosso objetivo é deixar um grande legado para o país, com uma
legislação mais dura contra as fake news e uma maior proteção para a sociedade.
Afinal, as fake news destroem reputações, ofendem famílias, e não podemos mais
permitir que pessoas mal-intencionadas se sintam seguras por trás de um
computador para continuar a fazer isso”, afirmou.
Impulsionada pelas
investigações sobre o uso de candidaturas fantasmas nas eleições passadas, a
crise no PSL se transformou em uma disputa interna entre partidários do
presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), e de Bolsonaro. O
presidente da República virou alvo de ameaças e acusações de ex-aliados. A
revelação da deputada Joice Hasselmann (SP), retirada por Bolsonaro da
liderança do governo no Congresso, de que a difusão de fake news iniciada na
campanha continua a todo vapor dentro do Planalto abalou em Brasília.
Nos próximos dias,
a CPMI vai agendar os depoimentos de seis assessores de Bolsonaro que tiveram a
convocação aprovada na semana passada. Os requerimentos foram apresentados pela
oposição, que tem maioria no colegiado e imposto sucessivas derrotas à ala governista.
Entre os convocados estão integrantes do chamado “gabinete do ódio”, uma
expressão usada internamente no governo para se referir ao grupo formado pelos
assessores especiais da Presidência Tércio Arnaud Tomaz e José Matheus Sales
Gomes, além de Mateus Diniz, lotado na Secretaria de Imprensa. Eles são ligados
ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente.
A lista de
convocados inclui também duas assessoras que trabalharam na AM4 Inteligência
Digital, empresa contratada pela campanha de Bolsonaro. São elas Rebecca Félix
e Taíse Feijó, trazidas para o governo pelo ex-ministro da Secretaria-Geral da
Presidência Gustavo Bebianno, demitido em fevereiro depois de se desentender
com Carlos Bolsonaro. Rebecca foi demitida do cargo que ocupava no Palácio no
último dia 17. Durante a campanha, ela coordenou a equipe de comunicação
digital, encarregada das redes sociais. Chegou a prestar depoimento no Tribunal
Superior Eleitoral em processo que investiga o disparo de mensagens em massa
por WhatsApp.
Taíse, lotada na
Secretaria de Modernização do Estado, entrou no governo na assessoria do
Bebianno, que coordenou a campanha de Bolsonaro. Na AM4, ela ajudou a operar a
estratégia de comunicação digital do então candidato. Outros convocados pela
CPMI são o secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o assessor especial
da Presidência Filipe Martins.
As expectativas
para esta semana na CPI giram em torno do depoimento do deputado Alexandre
Frota (PSDB-SP), ex-aliado e agora desafeto de Bolsonaro, marcado para
quarta-feira. Em agosto, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ao
ser questionado sobre o suposto impulsionamento de fake news pela campanha
presidencial do PSL, Frota respondeu que sabia de todo o método. Como o parlamentar
foi convidado, ele não é obrigado a comparecer
Os movimentos em
Brasília indicam que a crise do PSL poderá trazer ainda mais dores de cabeça
para Bolsonaro. Há um sentimento grande de revolta entre deputados contra o
presidente e seu filho e deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que se tornou
líder da legenda na Câmara em substituição a Delegado Waldir (GO), após uma
conturbada disputa.
Apesar de Eduardo
insistir que a poeira baixou e a crise está debelada, uma forte tensão ainda
está no ar. “Eles desmoralizaram o partido publicamente de uma maneira
desumana, disseram que não há transparência, deram um golpe para tomar o
controle, ofenderam o presidente Bivar e vários deputados, e agora querem dar
uma de bonzinhos dizendo que a crise acabou? Nada disso, eles vão ter que
reparar todas essas difamações que cometeram”, disse o deputado Júnior Bozella
(PSL-SP).
O retorno de Queiroz
Em áudios de
WhatsApp, publicados pela Folha de S. Paulo, Fabrício Queiroz, ex-assessor do
senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), se queixa de ter sido abandonado pelo grupo
político que elegeu Jair Bolsonaro no enfrentamento da investigação que o
Ministério Público move contra ele e o senador. Queiroz e Flávio são
investigados por supostas práticas de lavagem de dinheiro, peculato e organização
criminosa na época em que o filho do presidente era deputado estadual no Rio.
“O MP está com uma p* do tamanho de um cometa para enterrar na gente. Não vi
ninguém agir”, diz Queiroz. Em outro trecho, ele revela ter planos para o
diretório regional do PSL no Rio de Janeiro, até agora comandado por Flávio.
“Resolvendo essa p* que está vindo na minha direção, vamos ver se a gente
assume esse partido aí. Eu e você de frente aí. Lapidar essa p*”, afirma ele ao
interlocutor, que não foi identificado.
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