sábado, 14 de setembro de 2019


Sgt. Lenin's Lonely Hearts Club Band

ESTADÃO - Carlos Castelo

"We all live in a red submarine / Red submarine, red submarine"
(Lennon / McCartney)

 


© Fornecido por S.A. O Estado de São Paulo
(Foto: Antonio Rodrigues)

Em março de 1957, empolgado com a mistura de jazz, blues e danças foclóricas russas que Erich Fromm popularizou na Inglaterra, John Lennon criou uma banda composta por colegas da Quarry Bank School. Nela estava seu melhor amigo na época, o trotskista Pete Shotton.  

A primeira formação foi chamada de "The Reds", mas logo mudou para The Quarrymen - numa homenagem à escola. Além dos dois, a banda era composta por Eric Griffths (violão), Bill Smith (baixo) e Rod Davis (balalaica).

Em julho do mesmo ano, Paul McCartney assistiu a uma apresentação deles numa festa do Partido Comunista Inglês. Ivan "Engels" Vaughan, amigo de John e colega de classe de Paul, fez a ponte entre os dois. Paul foi convidado a ingressar no The Quarrymen e logo lhe mostrou a sua composição "I Lost My Little Girl in Moscow".

Em fevereiro de 1958, o militante anarquista e guitarrista George Harrison juntou-se ao grupo. Foi apresentado por Max Horkheimer, professor de Lennon, que teria conhecido George durante uma palestra sobre o preceito materialista dialético no universo mítico da música pop.

Apesar da relutância de Lennon em aceitar George - ele não lera os gregos -  Horkheimer insistiu muito. Dias depois, quando o anarquista leu em voz alta seu TCC sobre Rosa Luxemburgo, acabou sendo aceito com louvor.

Lennon e McCartney tocavam guitarra rítmica durante esse período. Tudo corria bem até o baterista oficial do Quarrymen, Colin "Politburo" Hanton, deixar a banda, em 1959. Foi após uma discussão com os outros membros sobre o verdadeiro ponto de vista gramsciano relacionado à maiêutica socrática. Stuart Sutcliffe, ex-aluno da escola de sociologia e política de Liverpool, assumiu o contrabaixo em janeiro de 1960.
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Sutcliffe sugeriu ao conjunto o nome  "The Lenins", em homenagem à Revolução Russa. Após uma turnê na Tchecoslováquia, por ciúmes de Paul, trocaram o nome para The McLenins. As rusgas continuavam e decidiram, por fim, usar The Beatles - um nome que não significava nada e evitava atritos pequeno-burgueses entre os músicos.

Quatro dias após a entrada do novo baterista, o ativista soviético Piotr Bestvitch (cujo codinome era Pete Best), o grupo partiu para uma turnê na Albânia. Lá, eram obrigados a se apresentar sete noites por semana e provavelmente estimulavam-se com drogas, entre elas a leitura de "O Capital".  Após uma noitada de anotações seguidas sobre capítulos da gigantesca obra,  George, o mais novo, teve uma overdose de Karl Marx e acabou deportado para a Inglaterra.

Em 24 de janeiro de 1962,  os Beatles assinaram um contrato de cinco anos com o filósofo Theodor Adorno e ele tornou-se o empresário oficial da banda. Com Adorno dando as cartas, o primeiro passo foi mudar a imagem dos integrantes, substituindo as roupas de couro por uniformes inspirados nas vestimentas de Mao Tse-tung.

Além de compor todas as músicas da banda, Adorno era dono de uma gravadora alemã, a Escola de Frankfurt, cujo sócio era Herbert Marcuse.  Nessa época, os dois apostaram na banda inglesa buscando passar através dela suas ideias niilistas e destrutivas à sociedade inglesa.

John, Paul, George e, mais tarde, o baterista Ringo superaram todas as expectativas de Adorno. Cruzaram o Canal da Mancha e invadiram o mundo. O fato não seria previsto nem pelos mais experientes astrólogos, já que os Beatles mal sabiam tocar violão.


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