Freixo conta com maioria para rejeitar excludente
de ilicitude mais branda
Veja.com - Leonardo Lellis
© Luis Macedo/Câmara
dos Deputados O deputado
federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
O deputado
federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) acredita
que o grupo de trabalho da Câmara que analisa o projeto anticrime, proposto
pelo ministro Sergio Moro (Justiça), não terá dificuldades em suprimir da
proposta original um dispositivo que amplia as hipóteses de excludente de
ilicitudade, quando um crime é cometido em legítima defesa.
O colegiado vota
nesta terça-feira, 24, seu relatório final. O tema ganhou especial relevância
depois que a estudante Ágatha Felix, de oito anos, foi morta durante uma ação
policial no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira.
Seguindo uma
promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que pretende dar
“segurança jurídica” para evitar a condenção de policiais que matarem em
serviço, a proposta prevê que uma eventual pena pode até deixar de ser aplicada
se o excesso na abordagem “decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta
emoção”. Para Freixo, o texto abre brecha para uma avaliação subjetiva do
Judiciário e o Código Penal já é suficiente para que os policiais possam fazer
seu trabalho.
“O grupo tem ampla
maioria para aprovar a supressão [do dispositivo sobre excludente de ilicitude]
porque não há necessidade alguma de alterar o texto da lei, aumentando ou
flexibilizando a legítima defesa. O texto já é muito confortável para garantir
ao policial agir dentro da lei e sua alteração pode levar a uma situação de
maior risco para toda a sociedade”, afirma. Ele alerta que a lei não vale só
para policiais e, como exemplo, cita que um crime cometido por ciúmes pode ser
enquadrado na hipótese de “violenta emoção” para que a pena do infrator seja
abrandada.
Freixo contabaliza
cerca de 10 votos no grupo de trabalho, formado por 16 parlamentares, para
apoiar alterações que adequem o projeto às garantias constitucionais e aos
direitos humanos. “Este é um debate que a maioria se forma a partir de opinião
técnica. Tem deputado do PRB, PSDB, PSOL , PT e PSB votando juntos. O que há em
comum? Convicção no tema.”
Em funcionamento
desde julho, o grupo de trabalho já retirou do texto que será apresentado à
Comissão de Constituição e Justiça a possibilidade de prisão em segunda
instância — algo que só pode ser feito por meio de uma Proposta de Emenda à
Constituição — e criou a figura do juiz de garantias no Código de Processo
Penal, responsável por supervisionar a legalidade das investigações e do
inquérito policial. Os deputados também removeram a possibilidade de réus que
confessarem seus crime receberem em troca uma pena menor, o chamado “plea bargain”.
Na semana passada,
o PSL, partido da base de Bolsonaro, abandonou o grupo. “Fizemos audiências
públicas, ouvimos dezenas de especialistas para, na penúltima reunião, dizerem
que o grupo de trabalho não vale porque não foi aprovado tudo o que queriam. Isso
é desrespeitoso, autoritário e imaturo, coisa de gente mimada”, diz Freixo.
O deputado,
entretanto, não acredita que o assunto se dê por encerrado amanhã, já que os
dispositivos podem voltar a ser apreciados em Plenário — o deputado Felipe
Francischini, presidente da CCJ, já adiantou que o colegiado tentará retomar os pontos
derrubados no grupo de trabalho. “Espero que o Plenário tenha bom senso
depois do que aconteceu com a Ágatha. Não é possível que se flexibilize esse
tipo de coisa”, afirma Freixo.
EM TEMPO: Esta é que é a função do parlamentar. Votar na Direita é votar contra si próprio.
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