A presidenta Dilma
Rousseff dá posse ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como
ministro-chefe da Casa Civil (Foto: Agência Brasil)
Quem acompanha, mesmo de longe, a
história política recente do Brasil vai se lembrar do dia 16 de março de 2016,
quando milhares de pessoas foram às ruas em protesto contra a suposta tentativa
do ex-presidente Lula e escapar da guilhotina da 13º Vara da Justiça Federal do
Paraná, em Curitiba (PR), para buscar abrigo e foro especial como ministro da
Casa Civil.
A nomeação era articulada por Dilma
Rousseff no auge da crise perfeita de seu governo, e só melou porque, naquele
dia, o então juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça de Jair Bolsonaro,
retirou o sigilo de interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal
entre a presidenta e seu padrinho político.
Na ligação, Dilma informava ao
antecessor que estava encaminhando o termo de posse – através do (quem não se
lembra?) Bessias. Foi a deixa para que, na versão oficial da
história e das investigações, fosse denunciada a tentativa de blindar o
ex-presidente de uma possível prisão por ordem da primeira instância.
Com a pressão, e a fragilização do
governo petista, a posse foi suspensa por ordem da Justiça, e mudou a história
do país. Dilma caiu, Lula acabou preso, Bolsonaro assumiu e hoje se rebela
quando a mesma PF faz seu trabalho contra aliados – mas essa é outra história.
Ou não.
O que poucos sabiam, porém, é que
muitas outras conversas do ex-presidente também foram grampeadas pela
força-tarefa. E a análise desses diálogos, conforme mostrou reportagem da Folha
em parceria com o site The Intercept Brasil, que teve acesso ao material,
mostra que a versão oficial dos fatos não era bem assim.
É certo que Lula, nomeado ministro,
teria foro especial, mas nada garantia que teria vida fácil nas instâncias
superiores. Basta lembrar que, dois dias depois da divulgação do diálogo, quem
suspendeu sua posse foi o ministro do Supremo Gilmar Mendes.
Trazidos à luz no último domingo,
08/09, os novos diálogos permitem concluir, três anos depois, que a principal
missão de Lula era a de bombeiro de um governo em frangalhos, que começou a ir
para o espaço graças à inabilidade de sua sucessora em conter a crise de sua base
de apoio no Congresso.
A tempestade perfeita era alimentada
pela crise fiscal, econômica, política e moral – esta, potencializada, claro,
pela Lava Jato.
Lula, como mostram as conversas,
relutava em assumir o posto. E, uma vez aceito, passou a articular uma saída
política à crise, inclusive tentando reconstruir as pontes com Michel Temer,
então vice-presidente, que em um dos diálogos citou o bom relacionamento com o
líder petista.
O ex-presidente manifestava também a
intenção de conversar com o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), o detonador do impeachment que mais tarde foi também preso e
condenado pela Lava Jato.
A tese de Lula, para convencer as
bases do PMDB a não saltarem do barco, como saltaram, era a de que, com o
impeachment, estava em jogo a “negação da política”. Segundo ele, a classe
política teria de se unir para recuperar o seu espaço. Como se sabe, foram
todos derrotados.
Se a classe política conseguiria
recuperar seu espaço nunca saberemos. A articulação foi abortada com os
diálogos gravados ilegalmente. Dilma caiu. Lula e Cunha estão presos. Temer,
denunciado, também já passou pela cadeia.
E, de ilegalidade em ilegalidade, a suposta vitória
contra a corrupção tem como troféu a tentativa aberta de um procurador de
enriquecer com a operação, enquanto escolhia quem deveria ser poupado das
investigações, e um ex-juiz que agora serve a um presidente que ignora a lista tríplice do Ministério Público Federal e
bate no peito para dizer que quem manda na polícia é ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário