Marcha das Margaridas. Dias 13 e 14.08.2019 em Brasília/DF
A Quem serve a opressão feminina?
A classe trabalhadora tem dois sexos!
Coordenação Nacional
do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
É preciso destacar
que as relações sociais de gênero são por nós entendidas como relações que se
estabeleceram antes da sociedade industrial capitalista, ou seja, já se
presenciavam dicotomias que estabeleciam relações desiguais entre homens e
mulheres no patriarcado, mas é com o advento da sociedade capitalista burguesa
que tais fenômenos ganham robustez, vigor e força, conforme demonstram as
discriminações, opressões e a subordinação do gênero feminino ao masculino.
É, pois, com o
fortalecimento da sociedade capitalista em sua fase monopolista que estes dois
sistemas se articulam e se consubstanciam. No contexto do capitalismo
mundializado, se intensificam as transformações no mundo do trabalho, cujos
processos de flexibilização engendram novas formas de gestão e organização do
processo produtivo e de mobilização das/os trabalhadoras/es. Neste sentido,
sofismando a participação da mulher.
Quando se articula
essa reestruturação com formações de economias periféricas, como no caso do
Brasil, é possível verificar que a reestruturação produtiva que insere a mulher
no mercado de trabalho também a insere na “privatização” das responsabilidades
domésticas, pois, de acordo com a PNAD ( 2018), somos nós quem mais chefiamos
as famílias monoparentais. Reforça-se a presença no mercado de trabalho com a
acumulação do trabalho doméstico – não remunerado e o trabalho assalariado,
quando não combinando as duas formas, de modo ainda mais precário e
desregulamentado.
A experiência de
pertencer a um país de economia periférica e dependente, com ausência do Estado
social, pesa sobremaneira na nossa vida e organização, em nossas lutas e
conquistas. A precariedade, a informalidade e a instabilidade sempre reafirmam
um padrão de legislação e de organização do sistema produtivo que reforça
econômica e historicamente o patriarcado, que nos subordina, inferioriza e
domina. As próprias estruturais legislativas, sociais, políticas e sindicais
têm comprovado a “marginalização” a que estamos submetidas no mundo do
trabalho. A reforma trabalhista, ao expor as mulheres grávidas às condições de
mais precariedade, insalubridade e periculosidade evidencia mais ainda isso.
Assim, transformar o
pessoal em político é um dos pressupostos da emancipação política e da relativa
autonomia econômica das mulheres. Entretanto, é preciso que as instituições
compreendam e apliquem práticas sociais que superem as hierarquias entre homens
e mulheres, pois os conflitos, tensões, oposições e assimetrias das relações
sociais de gênero só serão superadas com a superação do modelo vigente de
divisão sexual do trabalho.
É preciso que a
classe trabalhadora compreenda que este modelo não nos representa, pois, embora
os homens possam se identificar imediatamente com os pseudoprivilégios de ser
macho, são rapidamente apanhados pela realidade de sua condição de explorado e
também muitas vezes de oprimido.
Considerando que,
apenas por meio da luta anticapitalista e anti-imperialista, mulheres e homens
terão maior autonomia e relativa emancipação, é que, nós do Coletivo Feminista
Classista Ana Montenegro (CFCAM) saudamos a Marcha das Margaridas* e a 1°
Marcha de Mulheres Indígenas, compreendendo que a luta das mulheres
trabalhadoras, indígenas, quilombolas, camponesas, assentadas e acampadas,
participantes da luta pela reforma agrária, pelo desenvolvimento sustentável,
pela agricultura familiar, corroboram para o fortalecimento da luta pela
superação da sociedade capitalista.
Em face do modelo
anticivilizatório implementado pelo governo de Jair Bolsonaro, que gerencia a
violência, a militarização da vida e a mercantilização dos direitos como a
previdência social e a ganância sobre educação, defendemos a luta unitária como
forma de enfrentamento à barbárie.
* “É melhor morrer na
luta do que morrer de fome!”
Em 12 de agosto de
1983 era brutalmente assassinada Margarida Maria Alves. Sindicalista rural e
defensora dos direitos humanos, foi assassinada na porta de casa, diante do
filho e do marido. O assassinato foi considerado um crime político, o executor,
um assassino de aluguel.
Margarida Maria Alves
foi presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande na
Paraíba, onde defendeu e lutou pelos direitos trabalhistas de trabalhadores
rurais, o que gerou um conflito direto com latifundiários e usineiros.
Margarida Maria Alves,
presente!
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