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Bolsonaro
ao lado de Abraham Weintraub, ministro da Educação (REUTERS/Adriano Machado)
Por Nathan
Fernandes
Cheryl acredita
que reptilianos controlam o mundo, e que toda nota de 100 dólares tem um
microchip que grava o que a pessoa tem dentro da bolsa. Ao ser questionada
sobre se é “aquela que acha que os bancos querem nos matar”, ela responde:
“Não, eu sou aquela que sabe que os bancos querem nos matar”. Cheryl é
personagem da série “Disjointed”, da Netflix — comédia em que Katy Bathes
interpreta a dona de uma loja de maconha medicinal.
Em um dos
episódios, Cheryl questiona por que a personagem de Bathes não procura um
médico, já que está visivelmente doente. Ao responder que “a medicina ocidental
é golpe e conspiração”, Bathes leva uma bronca da personagem que acredita nos
Illuminati:
— Os EUA têm os
melhores médicos do mundo. A medicina alternativa tem o seu lugar, mas ela deve
ser integrada a uma abordagem científica responsável, incorporando tratamentos
orientais e ocidentais, tá certo?
Para Bathes,
surpreendentemente, está certo.
O que sobra em
racionalidade no argumento da personagem mais paranoica da série parece faltar
a grupos que vêm inflando as redes sociais com notícias falsas e teorias da
conspiração, como o movimento antivacinação.
A preocupação é
tanta que, em 2019, a Organização Mundial da Saúde incluiu o problema no
relatório em que destaca os dez maiores riscos à saúde global. Segundo o
documento, o movimento antivacinação “ameaça reverter o progresso feito no combate
às doenças evitáveis por meio de vacinação. Ela atualmente evita de 2 a 3
milhões de mortes por ano, e outro 1,5 milhão poderia ser evitado se a
cobertura vacinal fosse melhorada no mundo".
Mesmo assim,
continuam circulando na internet ideias como a de que o vírus zika teria sido
criado pela família Rockefeller e que Bill Gates teria lucrado com a vacina,
enquanto ambos estariam mais próximos de seu objetivo máximo que é a redução da
população mundial.
Todos os homens do presidente
É possível
enxergar essa falta de crença na ciência refletida nos vidros do Palácio do
Planalto. Em agosto, o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), Ricardo Galvão, foi exonerado do cargo depois que Bolsonaro e o
Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, rejeitaram dados do instituto que
mostravam um aumento preocupante no desmatamento. Segundo o presidente, o
diretor fazia “propaganda negativa” do Brasil e deveria estar a "serviço
de alguma ONG".
“Ele fez acusações
indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo
só eu, mas muitas outras pessoas", retrucou Galvão, antes de ser
exonerado. "Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um
presidente da República fazer."
Bolsonaro e Salles
não foram os primeiros a questionar dados de estudos que contrariavam suas
crenças. Em maio, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, impediu a divulgação de
uma pesquisa da Fiocruz, encomendada pelo próprio governo, que levou três anos
e 7 milhões de reais para ser realizada. Isso porque o documento não confirmava
a convicção do ministro de que há uma epidemia de drogas no Brasil — ideia que
ele usa para embasar políticas questionadas pela comunidade científica, como a
lei que permite a internação forçada de dependentes químicos.
“Eu andei nas ruas
de Copacabana, e estavam vazias. Se isso não é uma epidemia de violência que
tem a ver com as drogas, eu não entendo mais nada. Temos que nos basear em
evidências”, justificou Osmar Terra.
Já o ministro das
Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em um arroubo “osmarterraplanista”,
questionou o aquecimento global afirmando: “Fui a Roma em maio e havia uma onda
de frio”. Segundo a revista Época, a afirmação constrangeu colegas do
Itamaraty, que participavam de uma reunião com diplomatas da Secretaria de
Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania.
Terra plana à vista
“O negacionismo de
hoje se vale de uma retórica da conspiração e se volta contra a ciência em
geral”, explica o historiador da Unicamp Luiz Marques, autor de “Capitalismo e
Colapso Ambiental”. Segundo Marques, não se trata apenas de desqualificar os
cientistas, mas a ciência em si. “O negacionismo climático é parte de uma
tendência geral. Ele está na mesma trincheira do criacionismo, do
terraplanismo, do movimento antivacinação, dos que afirmam que o homem nunca
foi à Lua... Há uma desqualificação da autoridade da ciência em benefício das
crenças mais absurdas possíveis.”
Não à toa um
estudo da Escola de Sociologia e Política de São Paulo mostrou um paralelo
entre eleitores radicais de Bolsonaro e pessoas que acreditam na teoria da
Terra plana. Ao acompanhar militantes de direita, desde as eleições, através de
entrevistas regulares, a doutora em antropologia social Isabela Kalil constatou
que, assim como os terraplanistas, a parte do eleitorado que considera
Bolsonaro “frouxo” (ou seja, que cobra mais radicalização em seu discurso) não
confia na ciências, nem nas instituições. A maioria é formada por homens, entre
40 e 45 anos, que vive com a permanente sensação de estar sendo enganado.
Como afirmou Kalil
ao jornal Valor Econômico, estes eleitores justificam suas opiniões com
mentiras da internet. “Percebemos um imbricamento entre fake news e teorias
conspiratórias. À medida que nos aprofundamos nessa escuta, identificamos um
pano de fundo de ideias de conspiração não só na política”, disse. “Esse
fenômeno que a gente tem nomeado de bolsonarismo transcende o próprio
Bolsonaro. Está presente, por exemplo, no terraplanismo.”
Um exemplo pode
ser observado no discurso de Olavo de Carvalho, o guru da família Bolsonaro,
que, em maio, atiçou o Twitter ao afirmar: “Não estudei o assunto da terra
plana. Só assisti a uns vídeos de experimentos que mostram a planicidade das
superfícies aquáticas, e não consegui encontrar, até agora, nada que os
refute”. É possível que ele não tenha considerado a presença do astronauta
Marcos Pontes na base do governo.
“As conspirações
se acasalam”, afirma o psicanalista Christian Dunker, da USP, “A pessoa que
pensa conspiratoriamente imagina que todo o problema está no outro, que quando
ele for eliminado tudo vai ficar em paz. A hora que você pronuncia isso acaba
criando um campo de alianças quase que automático.”
Logo, o ódio
inflamado à esquerda não é sem razão. Segundo Dunker, esse fenômeno já pôde ser
analisado na obra “Psicologia das massas e análise do eu”, de Sigmund Freud, no
qual o pai da psicanálise afirma que, em momentos de falta de esperança com o
futuro e desencanto com as instituições, nosso sentimento de pertencimento se
fragiliza. Por segurança, torna-se tentador reforçar os laços com grupos de
pessoas que lutam contra o inimigo que estaria causando essa situação.
“Aquele sentimento
de esperança, de que as coisas vão mudar, se transformou num ódio”, afirma o
psicólogo Antonio Euzébios Filho, do Instituto de Psicologia da USP. “E aí
temos figuras simbólicas, como o ministro Moro, que dá um sentido de unidade
contra a corrupção, uma ideia de limpos contra sujos. Existem essas pessoas no
governo que não são adeptas ao negacionismo e ao terraplanismo, que ajudam a
formar essa unidade, mas com pautas totalmente abstratas, como essa da
anticorrupção.”
Christian Dunker
ressalta ainda duas questões psíquicas que o negacionismo se aproveita para se
instalar: a primeira é o próprio mistério do mundo. “Isso se confunde com a
indeterminação dos fatos históricos e as conspirações que habitam a todos nós,
que é uma coisa fascinante, porque ela nos informa que nem toda lei está
escrita, a ciência não sabe tudo, e você usa isso para ficar na subjetividade
das pessoas, infiltrando uma negação da história”, afirma.
A segunda questão
é a dificuldade das próprias pessoas lidarem com suas culpas. “Existem coisas,
como a descoberta dos campos de concentração, que implicam em consequências
dramáticas, aceitar requer um trabalho não só cognitivo, de concordar ou não,
mas moral e ético”, explica o psicanalista. Para ele, seria mais fácil para
alguém que apoiou o golpe militar, por exemplo, negar o fato a fazer um
trabalho de reelaboração. “Assim, a gente se protege de entrar em contato com
aquilo que nos causa conflito.”
O historiador Luiz
Marques, da Unicamp, ressalta a influência que esse obscurantismo tem no
sistema político. “A descrença na ciência caminha pari passu com uma descrença
na democracia, uma descrença num saber compartilhado, uma descrença no valor da
solidariedade com os mais vulneráveis, uma descrença na capacidade humana de
priorizar uma agenda voltada para a diminuição da desigualdade”, afirma.
Para Marques
alguns dos impactos dessa negação da ciência poderão ser sentidos em breve.
“Estamos dançando à beira do abismo. Dentro de poucos anos, mantido o atual
sonambulismo, será tarde demais para evitar um aquecimento médio global de 2ºC
acima do período pré-industrial. E então teremos perdido completamente o
controle sobre as mudanças climáticas.”
Uma
saída apontada por Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP, é o
pensamento crítico. “Alguns gostam de impor a ideia de que não existe um
conflito, de que, na verdade, você tem uma espécie de tendência à
irracionalidade das pessoas, de que elas não aceitam fatos científicos, o que
não acho uma análise correta”, diz. “Você tem um embate de interesses muito
claro e as pessoas assumem seus lados. A questão que deve ser feita é: qual é o
interesse em negar essas informações que embasam políticas públicas. Quem ganha
com isso?”
EM TEMPO:
1 - O presidente Bolsonaro e alguns dos seus auxiliares, negam as informações da ciência segundo os seus interesses de preservarem o lucro dos capitalistas e a dominação da burguesia. Nada é dito á toa. Afinal, o avanço tecnológico serve para aumentar a produtividade, reduzir a mão-de-obra, aumentar o lucro do capital e do poderio bélico, dentre outros, como também pode criar outros mecanismos de trabalho;
2 - Mas, convém lembrar que a população está sempre sujeita a ideologia das Classes Dominantes do país. Portanto, não é de se estranhar que a maioria da população brasileira é conservadora, a qual é susceptível as idéias da direita e ultra-direita. É a onde reside o voto no presidente Bolsonaro, o qual nunca demonstrou ser capaz de dirigir o Brasil, sendo membro, na época que exercia o mandato de Deputado Federal, inconteste do "Baixo Clero" no Congresso Nacional;
3 - Daí se explica o ódio que ex-Lulistas têm ao próprio Lula. Na realidade as pessoas que antes o "amava", mas que hoje o "odeia", tiveram uma recaída ideológica, votando no pior candidato de "Direita". Em resumo: o material humano é muito oscilante de posicionamento político e cultural;
4 - Donde concluímos que quanto menos cultura mais fácil será para o governo dominar a população.
1 - O presidente Bolsonaro e alguns dos seus auxiliares, negam as informações da ciência segundo os seus interesses de preservarem o lucro dos capitalistas e a dominação da burguesia. Nada é dito á toa. Afinal, o avanço tecnológico serve para aumentar a produtividade, reduzir a mão-de-obra, aumentar o lucro do capital e do poderio bélico, dentre outros, como também pode criar outros mecanismos de trabalho;
2 - Mas, convém lembrar que a população está sempre sujeita a ideologia das Classes Dominantes do país. Portanto, não é de se estranhar que a maioria da população brasileira é conservadora, a qual é susceptível as idéias da direita e ultra-direita. É a onde reside o voto no presidente Bolsonaro, o qual nunca demonstrou ser capaz de dirigir o Brasil, sendo membro, na época que exercia o mandato de Deputado Federal, inconteste do "Baixo Clero" no Congresso Nacional;
3 - Daí se explica o ódio que ex-Lulistas têm ao próprio Lula. Na realidade as pessoas que antes o "amava", mas que hoje o "odeia", tiveram uma recaída ideológica, votando no pior candidato de "Direita". Em resumo: o material humano é muito oscilante de posicionamento político e cultural;
4 - Donde concluímos que quanto menos cultura mais fácil será para o governo dominar a população.
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