Foto: REUTERS/Adriano Machado |
Redação: Yahoo Finanças, 20 de agosto de 2019
A força-tarefa da Operação Lava-Jato
aparentemente ignorou o envolvimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, com
uma empresa de fachada investigada por lavagem de dinheiro, revelou nesta
terça-feira (20) o jornal Folha de S.Paulo.
Guedes era sócio-administrador de uma
empresa chamada GPG Consultoria que, em 2007, repassou R$ 560,8 mil a uma
empresa operada por um secretário do ex-governador do Paraná, Beto Richa
(PSDB).
A empresa em questão, chamada Power
Marketing Assessoria e Planejamento, foi acusada pelos procuradores da
Lava-Jato de emitir notas fiscais frias para justificar a lavagem de dinheiro
que seria usado no pagamento de propina a políticos.
A Power Marketing era operada por
Carlos Felisberto Nasser, falecido em 2018, e que na época trabalhava na Casa
Civil do governo paranaense. A empresa de fachada teria sido criada para lavar
o dinheiro que o Grupo Triunfo usava para pagar propinas de políticos, em troca
das quais era beneficiado na concessão de rodovias do Paraná.
Segundo uma denúncia apresentada pela
Lava-Jato à Justiça em abril de 2018, a Power Marketing não tinha funcionários,
não contratava serviços nem tinha qualquer indício de operar como uma empresa normal.
Mesmo assim, ela emitia notas fiscais como maneira de justificar os pagamentos
que recebia de empresas do Grupo Triunfo.
Esses rapsses, segundo os
procuradores, eram propinas pagas a Nasser para garantir que o Grupo Triunfo
fosse beneficiado em licitações do governo paranaense.
Além do Grupo Triunfo, outra empresa
que fez pagamentos à Power Marketing foi a empresa de Paulo Guedes, a GPG. Mas
na denúncia feita à Justiça em 2018, a Lava-Jato não incluiu o nome de Guedes
entre os investigados. Na época, ele atuava na campanha de Jair Bolsonaro (PSL)
à presidência da República.
Três executivos da Triunfo foram
denunciados pela Lava Jato por conta do esquema, mas Guedes e a GPG só aparecem
em uma nota de rodapé do documento de 138 páginas encaminhado pelos
procuradores à Justiça.
Guedes chegou a ser convocado para
depor sobre o caso na condição de testemunha de Nasser, o operador da Power
Marketing e secretário de Beto Richa. Mas três dias antes da audiência, o
depoimento foi cancelado porque o réu desistiu de trazê-lo para ser ouvido pelo
então juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública e colega
de Guedes no governo Bolsonaro.
O pagamento
O repasse de R$ 560,8 mil da empresa
de Guedes à empresa de fachada operada por Nasser foi registrado em 14 de
agosto de 2007. Na época, além de sócio-administrador da GPG, o futuro ministro
era acionista e integrante do Conselho de Administração de uma das empresas do
Grupo Triunfo.
Sete dias após o repasse da GPG para
a Power Marketing, Nasser sacou R$ 500 mil da conta da empresa fictícia. A
quebra de sigilo bancário anexada pela Lava-Jato aos autos mostra que Nasser
sacava todo dinheiro que as empresas do Grupo Triunfo repassavam à Power
Marketing em questão de dias. Ou seja, o expediente era o mesmo com a empresa
de Guedes.
A defesa de Nasser declarou que a GPG
pagou R$ 560,8 mil à Power Marketing em troca de uma indicação de Guedes à
posição de assessor econômico do processo de abertura de capital (IPO) da
Triunfo. A Justiça diz que nunca conseguiu averiguar o caso porque a GPG nunca
foi localizada.
A Folha descobriu, porém, que a GPG
foi extinta ao ser citada na Lava-Jato, e no endereço, hoje se encontra uma
empresa chamada BR Corporate Advisory. O diretor desta empresa é Gustavo
Guedes, irmão de Paulo Guedes e ex-sócio da extinta GPG.
Por que a empresa de Guedes pagou R$
560 mil para uma empresa de fachada? Foi mesmo em troca de uma indicação para
um cargo de confiança numa empresa que pagava propina ao governo do estado do
Paraná? Essas perguntas nunca foram respondidas oficialmente por Guedes, e a
Lava-Jato nunca cobrou explicações na Justiça.
O que dizem os
citados
Em nota, a defesa de Guedes não
informou que serviços foram prestados pela Power Marketing à GPG em troca dos
R$ 560 mil, mas destacou a “correção da atuação” das empresas das quais o
ministro foi sócio antes de assumir cargo público no governo Bolsonaro.
Já a Lava-Jato afirmou que não
envolveu Guedes entre os suspeitos por não haver “prova robusta” de
envolvimento em crimes. Além disso, a força-tarefa diz que as investigações em
relação ao esquema do Grupo Triunfo no governo do Paraná ainda estão em
andamento e que “sempre que há indícios de crimes sujeitos a foro privilegiado,
as informações são enviadas para a PGR [Procuradoria Geral da República] ou o
STF [Supremo Tribunal Federal]”.
Vale lembrar que Guedes, por ser hoje ministro, tem
direito a foro privilegiado e só pode ser investigado pela PGR ou pelo STF, não
mais pela Lava-Jato. Mas quando a denúncia envolvendo sua empresa foi feita à
Justiça de primeira instância, em abril de 2018, ele não tinha direito ao foro
privilegiado.
EM TEMPO: A corrupção habita no Sistema Econômico Capitalista.
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