Matheus Pichonelli,Yahoo
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Anunciada
por Davi Alcolumbre (DEM-AP), a CPI das Fake News investigar ataques
cibernéticos que atentem contra a democracia e o debate público, além da
criação de perfis falsos para influenciar as eleições de 2018 (Jefferson Rudy/Agência
Senado)
Na última
quarta-feira, 3 de julho, enquanto Jair Bolsonaro discursava sobre os perigos
da Venezuela em evento para celebrar, em Brasília, o 243º aniversário da
Independência dos EUA, e deputados acertavam os detalhes finais do Dia D para
votar a nova Previdência, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP),
anunciava, sem muito alarde, a criação da CPI Mista das Fake News.
Segundo nota do
Senado, uma vez definidos os integrantes da comissão (15 deputados e 15
senadores), o grupo terá 180 dias para investigar “ataques cibernéticos que
atentam contra a democracia e o debate público, além da criação de perfis
falsos para influenciar as eleições do ano passado”. Vai apurar também a
“prática de ciberbullying contra autoridades e cidadãos vulneráveis e o
aliciamento de crianças para o cometimento de crimes de ódio e suicídio”.
Atenção para o
termo “ataques contra a democracia” – uma referência óbvia às mensagens que há
cerca de um ano brotavam da terra, e das telas do WhatsApp das melhores
famílias.
Daquela enxurrada
surgiu um clássico que acusava Fernando Haddad e o PT de distribuírem
mamadeiras com bico de pênis para criancinhas das creches de todo o Brasil. No
vídeo, que teve mais de 3 milhões de visualizações, um rapaz afirmava que o
objeto era parte de um plano para acabar com a homofobia.
Não foi a única
Fake News da eleição, mas a história da “mamadeira de piroca”, como ficou
conhecida, se tornou símbolo de uma disputa manchada por suspeitas até agora
não respondidas.
Detalhe é que o
requerimento para a CPI é do deputado federal Alexandre Leite (DEM-SP), e acontece
no momento em que o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também do DEM,
passa por um processo clássico de fritura e desidratação. É ele o responsável,
ou deveria ser, pela articulação política entre o governo e o Congresso, de
onde saiu a bomba.
A CPI, como é
possível imaginar, não foi bem digerida na base bolsonarista. Deveria?
O receio é tal que
o deputado Filipe Barros (PSL-PR) correu para o Supremo Tribunal Federal com um
pedido de mandado de segurança para barrar a criação da comissão. Segundo ele,
a CPI tem como alvo o presidente Bolsonaro e seus filhos.
Ora, ora, mas quem
poderia imaginar coisa parecida quando alguém como Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)
usa uma sessão com Sergio Moro no Senado para repercutir a fake news
relacionada à “venda” do mandato do deputado Jean Wyllys para David Miranda,
companheiro de Glenn Greenwald, do The Intercpet?
Se trabalhar
direitinho, a CPI tem tudo para jogar luz sobre o envio, pago por empresários,
de mensagens contra o PT no WhatsApp nas eleições de 2018, para explicar por
que uma agência responsável pela campanha de Bolsonaro usou um sistema de
disparos em massa que depois foi deletado e como companhias brasileiras
contrataram uma empresa espanhola para espalhar “notícias” favoráveis ao então
candidato do PSL – o que, se confirmado, configuraria uso de caixa 2.
Isso foi
suficiente para definir o resultado das urnas? Difícil dizer. Afinal, não é
todo dia, nem em toda eleição, que um maluco resolve entrar em cena e esfaquear
o então candidato azarão – dando ao sobrevivente a exposição espontânea, em
entrevistas e na cobertura, que seu partido jamais alcançaria pela propaganda
eleitoral gratuita ou mesmo pelas redes sociais.
Embora tenha um
potencial imenso de acabar em pizza, já que ninguém a essa altura imagina que o
resultado da eleição será de alguma forma arranhado pela CPI, a criação da
comissão deve, por si, ajudar a trincar alguns mitos de cristal produzidos na
última eleição do tipo Davi venceu Golias, o homem simples contra os poderosos,
a honestidade contra a corrupção, etc.
Derrotado
no segundo turno, Fernando Haddad declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
R$ 35,4 milhões, enquanto Bolsonaro, que atribuiu o sucesso ao engajamento
(gratuito) das redes, informou ter levantado apenas R$ 4,3 milhões – e prometeu
doar o que sobrou.
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