© Jose Caldas/Brazil Photos/LightRocket/Getty Images Desmatamento na Floresta Amazônica |
Estadão Conteúdo
Acusado pelo
presidente Jair Bolsonaro de estar agindo “a serviço de alguma ONG”,
o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus
Osório Galvão, disse que ficou escandalizado com as declarações que, para ele,
parecem mais “conversa de botequim”. O diretor afirmou ainda que o presidente
tomou uma atitude “pusilânime e covarde”.
Galvão, que dirige
o instituto desde setembro de 2016, se manifestou neste sábado, 20, sobre os
comentários feitos na sexta-feira 19 por Bolsonaro em café da manhã com a
imprensa estrangeira. Na ocasião, o presidente questionou os dados fornecidos
pelo Inpe sobre as taxas de desmatamento da Amazônia e
disse que eles são mentirosos.
“Se toda essa
devastação de que vocês nos acusam de estar fazendo e ter feito no passado, a
Amazônia já teria sido extinta seria um grande deserto”, disse Bolsonaro.
“A questão do Inpe,
eu tenho a convicção que os dados são mentirosos”, afirmou. “Até mandei ver
quem é o cara que está à frente do Inpe para vir se explicar aqui em Brasília,
explicar esses dados aí que passaram na imprensa”, disse. “No nosso sentimento,
isso não condiz com a realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma
ONG, que é muito comum.”
As declarações do
presidente ocorreram um dia depois de a imprensa destacar que dados do sistema
Deter-B, do Inpe, que faz alertas em tempo real de focos de desmatamento para
orientar a fiscalização, mostraram que a área perdida de floresta até meados
deste mês já é a segunda maior da série histórica, medida desde 2015.
Galvão optou por
não responder na própria sexta para primeiro “arrefecer o estado de ânimos”,
mas hoje deu sua posição. “A primeira coisa que eu posso dizer é que o sr. Jair
Bolsonaro precisa entender que um presidente da República não pode falar em
público, principalmente em uma entrevista coletiva para a imprensa, como se
estivesse em uma conversa de botequim. Ele fez comentários impróprios e sem
nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas
que trabalham pela ciência desse país”, afirmou.
“Ele tomou uma
atitude pusilânime, covarde, de fazer uma declaração em público talvez
esperando que peça demissão, mas eu não vou fazer isso. Eu espero que ele me
chame a Brasília para eu explicar o dado e que ele tenha coragem de repetir,
olhando frente a frente, nos meus olhos”, continuou o engenheiro, que iniciou a
carreira no Inpe em 1970, fez doutorado em Física de Plasmas Aplicada pelo
Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é livre-docente em Física
Experimental na USP desde 1983.
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