ESTADÃO - Fabio Leite, Marcelo Godoy e Roberta Jansen
© Reprodução/SBT Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL) |
Relatórios do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf) enviados ao Ministério Público do Rio
apontam que Fabrício Queiroz,
ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj),
sacou R$ 661 mil em dinheiro durante um período de 18 meses, entre janeiro de
2016 e junho de 2018.
As movimentações
consideradas atípicas – detectadas originalmente pelo sistema de compliance do
Banco Itaú, onde Queiroz é correntista – foram anexadas pelos promotores ao
pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal de Flávio, do ex-assessor e de
outras 93 pessoas e empresas no âmbito do inquérito que investiga o hoje
senador por peculato (desvio de dinheiro público por servidor) e lavagem de
dinheiro.
Até agora, os dois
principais documentos conhecidos da investigação envolvendo o filho mais velho
do presidente Jair Bolsonaro eram
relatório que apontava movimentações (saques e depósitos) atípicas de R$ 1,2
milhão na conta de Queiroz ao longo de 2016, revelado pelo Estado em dezembro de 2018, e
outro que reportava 48 depósitos fracionados de R$ 2 mil na conta de Flávio
entre junho e julho de 2017.
Os novos registros
mostram, segundo o MP, que Queiroz “movimentou enormes volumes de créditos e
saques em espécie”. Só em retiradas de dinheiro foram R$ 146,4 mil entre
janeiro e abril e de outubro a dezembro de 2016; R$ 324,8 mil entre janeiro e
março de 2017; e R$ 190 mil entre novembro de 2017 e junho do ano passado. Nos
mesmos períodos, de acordo com o documento, a conta de Queiroz recebeu R$ 628,2
mil em créditos ou depósitos.
Para os promotores,
“as centenas de depósitos e saques em espécie realizados de forma fracionada na
mesma conta corrente” de Queiroz “evidencia” a suspeita de que o ex-assessor de
Flávio recebia mensalmente parte do salário dos demais assessores, e
“distribuía parte do dinheiro a outros integrantes da organização criminosa”,
através da prática conhecida no meio político como “rachadinha”.
Os promotores
lembram que o próprio Queiroz admitiu em manifestação enviada por escrito – ele
faltou aos depoimentos presenciais – que arrecadava dinheiro dos demais colegas
de gabinete, mas não conseguiu provar até agora a versão de que usava esses
recursos para contratar assessores externos por fora, prática proibida pela
Alerj. “Não há evidências de que quaisquer pessoas tenham sido remuneradas
pelos valores desviados para a conta de Fabrício Queiroz”, afirmam os
investigadores.
O primeiro
relatório do Coaf revelado pelo Estado apontou
que Queiroz recebeu depósitos de outros nove assessores de Flávio e ainda
emitiu um cheque de R$ 24 mil para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Segundo relato do presidente, o cheque serviu para quitar um empréstimo feito
por ele a Queiroz. Único assessor a prestar depoimento ao MP, o policial
militar Agostinho Moraes da Silva admitiu que repassava R$ 4 mil do salário (de
R$ 6 mil) a Queiroz, mas que seria para investir na compra e venda de carro
intermediada pelo colega.
Segundo os
promotores, somente a quebra de sigilo de Flávio e seus assessores permitirá
“desvendar os mecanismos utilizados para branquear os valores de origem
ilícita”, “quantificar o volume de recursos desviados dos cofres públicos pelo
esquema das rachadinhas” e “identificar todos os coautores e partícipes”.
Mãe.
Outro relatório do Coaf anexado pelo MP revela que o policial
militar Jorge Luis de Souza, também ex-assessor de Flávio na Alerj, fez um
depósito de R$ 90 mil em espécie na conta bancária de sua mãe, Nicelma Ferreira
de Souza, em 23 de março de 2018, em Rio das Ostras, na Região dos Lagos. Souza
era um dos policiais requisitados da corporação para assessorar Flávio na
Alerj.
Em nota, Flávio
Bolsonaro disse que lamenta que “algumas autoridades do Rio de Janeiro
continuem a vazar ilegalmente à imprensa informações sigilosas querendo
conduzir o tema publicamente pela imprensa e não dentro dos autos” e reiterou
que seus mandatos “sempre foram pautados pela legalidade” e “tudo será provado
em momento oportuno dentro do processo legal”.
Procurado nesta
quinta-feira, 16, o advogado de Queiroz, Paulo Klein, não respondeu o contato.
O ex-assessor sempre negou as acusações de desvio de recursos da Alerj. O Estado não localizou os demais
citados, nem seus advogados.
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