Texto divulgado por
Bolsonaro é estratégia populista e cria cortina de fumaça para denúncias contra
Flávio, dizem analistas
Presidente compartilhou em uma de suas redes sociais texto
anômimo que diz que o Brasil está 'ingovernável'
Gustavo Schimitt e Tiago Aguiar – O Globo
Ao compartilhar em uma rede social um texto
de autor desconhecido que diz que o Brasil está "ingovernável" ,
o presidente Jair Bolsonaro , segundo analistas políticos,
adota estratégia populista , cria uma cortina de fumaç a para tirar do foco denúncias
contra seu filho Flávio e ainda alimenta as críticas da sociedade ao Congresso e a
diferentes instituições.
Num dos trechos, a carta diz: "Se
não negocia com o Congresso, é amador e não sabe fazer política. Se negocia,
sucumbiu à velha política. O que resta, se 100% dos caminhos estão errados na
visão dos "ana(lfabe)listas políticos? A continuar tudo como está, as
corporações vão comandar o governo Bolsonaro na marra e aprovar o mínimo para
que o Brasil não quebre, apenas para continuarem mantendo seus
privilégios".
Ainda de acordo com o texto, Bolsonaro
representaria uma quebra de padrões não aceita por grandes corporações e outros
atores sociais.
— Ele (Bolsonaro) está testando elevar
uma polarização para ver como a população reage. Vai culpar o Congresso e as
instituições por tudo que não consegue fazer — afirmou o cientista político da
Unicamp Oswaldo Amaral. — Parece um balão de ensaio para ver quantas
pessoas vai arregimentar com esse tipo de discurso. Está colocando a figura
dele contra as instituições democráticas e quer o apoio do povo para isso, o
que é típico do populismo.
Para o professor de Ciência Política da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira, a carta
compartilhada pelo presidente é um "ataque frontal" contra as
instituições e o sistema político brasileiro. Segundo ele, as atenções agora
estarão voltadas para a reação dos chefes dos outros poderes.
— Ele é um soberano que não aceita
questionamentos e não está apto para exercer o cargo e respeitar as
instituições e os limites que elas impõem no exercício da governabilidade. E
acima de tudo, o texto é contra o Congresso Nacional — diz Oliveira, que emenda:
— Ele segue não confiável para atender
as demandas dos colegas da política. Está chegando em uma situação limite, ele
chancelou um ataque frontal. Resta saber como Davi Acolumbre (presidente do
Senado), Rodrigo Maia (presidente da Câmara) e Dias Toffoli (ministro do STF)
reagirão.
O professor emérito de Cência Política
da Universidade de Brasília, David Fleischer, avalia que a tática do presidente
seria também uma reação ao caso do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que está
na mira de uma investigação do Ministério Público do Rio e teve seu sigilo
quebrado pela Justiça.
— Parece uma estratégia de se colocar
como vítima para defender o filho Flávio das investigações, que podem
comprometer o governo — diz o professor, acrescentando que o presidente teria
intenção de fragilizar as acusações ao dizer que elas fazem parte de uma
estratégia de corporações e atores políticos que querem impedi-lo de governar.
Para Fleischer, a divulgação da carta
fragilizaria o presidente Bolsonaro porque revela a falta de coalização do
governo:
- No curto prazo, considero
que fragiliza porque fica claro que ele (Bolsonaro) não tem
coalização para governar. Tampouco tem apreço pela democracia e pelas
instituições. Há quem acredite que é burrice, que trata-se de inabilidade política,
mas pode ser que haja uma grande estratégia por trás. E que esse caso da carta
faça parte da criação de uma narrativa para justificar um eventual golpe - diz
o professor.
Uma das preocupações é quanto aos
reflexos políticos que a divulgação deste texto terá na gestão de Bolsonaro.
Para Amaral, reações são previsíveis.
- Acredito que isso deve levar o
congresso e a tocar uma agenda própria. Tanto o congresso, como o judiciário
tendem a reagir, sobretudo no caso do decreto de porte de armas, que está sob
questionamento e pode ter inconstitucionalidades apontadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário