Bolsonaro divulga texto que cita País ingovernável
Presidente
reforça discurso de que é vítima do ‘Sistema’ ao compartilhar mensagem que
afirma que ele sofre pressão das corporações e Brasil está ‘disfuncional’
Tânia
Monteiro, O Estado de S.Paulo
O
presidente Jair
Bolsonaro reforçou nesta sexta-feira, 17, o
discurso de que é vítima de um sistema corrompido ao compartilhar, por
WhatsApp, um texto que afirma “que o Brasil, fora desses conchavos, é
ingovernável”. A mensagem foi interpretada no Congresso como mais um ataque do
presidente ao que ele chama de “velha política”. O
texto diz que o presidente sofre pressões de todas as corporações, em todos os
Poderes, e que o País “está disfuncional”, mas não por culpa de Bolsonaro. “Até
agora (o
presidente) não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e
fracassou”..
Procurado
pelo Estado para
comentar a mensagem, o presidente afirmou, por meio do porta-voz, Otávio
do Rêgo Barros, esperar apoio da sociedade para “reverter essa
situação”. “Venho colocando todo meu esforço para governar o Brasil.
Infelizmente, os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não
agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco
republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa
situação e colocarmos o País de volta ao trilho do futuro promissor”, disse
Bolsonaro, em nota, sem detalhar a quais grupos se referia.
Mais
tarde, em entrevista no Palácio do Planalto, o porta-voz afirmou que a intenção
do presidente foi apenas compartilhar uma mensagem recebida, que está “em
consonância com o pensamento dele”. O autor do texto é o analista da Comissão de Valores Mobiliários, Paulo
Portinho.
A
avaliação de auxiliares do presidente é a de que, ao convocar a sociedade para
uma solução, Bolsonaro tenta manter ativas suas redes de apoio, após
manifestações contrárias ao governo tomarem as ruas do País. Como resposta,
aliados de Bolsonaro planejam uma marcha em apoio a ele, no
dia 26.
O
tom do texto compartilhado por Bolsonaro em grupos de WhatsApp também vai ao
encontro do discurso adotado nos últimos dias por aliados de que há uma
conspiração para “derrubar o capitão”, como escreveu nesta semana o vereador Carlos Bolsonaro (PSC),
filho do presidente, em sua conta no Twitter.
O
próprio Bolsonaro, ao comentar o contingenciamento de verba para educação, em
visita aos Estados Unidos, disse que opositores querem tirá-lo da Presidência.
“Quem decide corte não sou eu. Ou querem que eu responda a um processo de
impeachment no ano que vem por ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal?”,
perguntou.
O
movimento também coincide com o avanço das investigações contra o senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do
presidente. Flávio teve o sigilo bancário e fiscal quebrado pelo
Tribunal de Justiça do Rio. Na quinta-feira, o presidente disse entender
que ele e seu governo são os alvos dos investigadores.
Interlocutores
de Bolsonaro ouvidos pelo Estado afirmaram
não saber quantas pessoas receberam a mensagem, mas relataram que ele próprio
pediu para que cada um replicasse o conteúdo. Ao compartilhar o texto,
escreveu: “Um texto no mínimo interessante. Para quem se preocupa em se
antecipar aos fatos, sua leitura é obrigatória. Em Juiz de Fora (6/set/2018),
tive um sentimento e avisei meus seguranças: Essa é a última vez que me exporei
junto ao povo. O Sistema vai me matar. Com o texto abaixo cada um de vocês pode
tirar suas próprias conclusões.”
Sob
reserva, parlamentares criticaram o que consideraram intenção do presidente de
expor a classe política “como corrupta” para se fortalecer, o que foi mal visto
no Congresso. “O Brasil está precisando de moderação”, disse o líder do DEM,
Elmar Nascimento (BA).
Aliados
do presidente, porém, elogiaram a manifestação. “O texto é um grito de alerta
para toda a população quando diz que, do jeito que são as coisas, nunca a
vontade daqueles que votam será respeitada. Bolsonaro foi transparente e
verdadeiro. Este é o sentimento”, disse o senador Major
Olímpio (SP), líder do PSL na Casa. O
presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), se esquivou de comentar.
“Pergunta pra ele”, respondeu Maia ao ser questionado pelo Estadão/Broadcast se
saberia quem está pressionando o presidente.
Em
discurso no Rio, sem citar o texto publicado por Bolsonaro, Maia afirmou que a
polarização política e o uso das redes estão levando a contestações ao modelo
de democracia representativa liberal em vários países. (Colaboraram
Mariana Haubert, Rafael Moraes Moura, Denise Luna e Vinicius Neder)
Nenhum comentário:
Postar um comentário