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Encurralado por
uma relação desgastada com o Congresso, suspeitas que atingem um de seus filhos
e manifestações populares contra seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL)
compartilhou nesta sexta (17) um texto sobre as dificuldades de seu mandato
dizendo que o Brasil "é ingovernável" sem os "conchavos"
que ele se recusa a fazer.
A mensagem,
distribuída pelo presidente em grupos de WhatsApp dos quais faz parte e
atribuída por ele a um autor desconhecido, diz que o mandatário estaria
impedido de atuar por não concordar com os interesses das corporações.
O compartilhamento
do texto por Bolsonaro elevou a tensão dentro do governo, entre aliados e
representantes de outros Poderes, com interpretações divergentes sobre as
intenções do presidente ao endossar a mensagem --publicada no sábado (11) em
rede social por um filiado ao Novo-RJ e replicada em outros grupos.
Parte dos
auxiliares do presidente no Palácio do Planalto diz que ele se deixa levar por
teorias da conspiração espalhadas pelo grupo que segue o escritor Olavo de
Carvalho e por influência de seus filhos - o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ)
já havia exposto conceitos do tipo em rede social.
A mensagem chegou
a motivar boatos acerca de eventual renúncia do presidente --alguns aliados
viram nela um arcabouço narrativo para uma saída do cargo por culpa de resistências
à suposta agenda antiestablishment de Bolsonaro.
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Seria, para eles,
uma espécie de "cenário Jânio Quadros" no mundo político, segundo o
qual Bolsonaro poderia emular o presidente que renunciou em 1961 após oito
meses de inação, colocando a culpa em supostas "forças ocultas".
Um auxiliar direto
do presidente, porém, negou tal versão, considerando uma "plantação de
militares" interessados em enfraquecer o presidente e seu núcleo duro.
Segundo ele,
Bolsonaro só expressou o que sempre disse desde a campanha: que não governaria
baseado nos preceitos que levaram a casos de corrupção em outras gestões.
Integrantes do
Judiciário e do Legislativo dizem que o presidente recorreu à estratégia do
ataque ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar "sair
das cordas" naquele que é considerado o pior momento de seu governo.
Também viram no
gesto dele uma tentativa de "jogar para a plateia" e se eximir da
responsabilidade de governar, transferindo para os demais Poderes a causa dos
problemas enfrentados pelo país.
A distribuição do
texto por Bolsonaro foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada
depois pela Folha de S.Paulo.
Ao compartilhá-lo,
o presidente escreveu que ele era "no mínimo interessante" para os
que se preocupam em antecipar os fatos, apontando como "leitura
obrigatória".
"Em
Juiz de Fora (06/set/2018), tive um sentimento e avisei meus seguranças: Essa é
a última vez que me exporei junto ao povo. O Sistema vai me matar. Com o texto
abaixo cada um de vocês pode tirar suas próprias conclusões", escreveu
Bolsonaro ao distribuir a mensagem.
Após confirmá-la,
o porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, divulgou
outro recado do presidente também sobre as dificuldades do mandato.
"Venho
colocando todo meu esforço para governar o Brasil. Os desafios são inúmeros e a
mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se
beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para
juntos revertermos essa situação e colocarmos o país de volta ao trilho do
futuro promissor. Que Deus nos ajude!", afirmou.
O porta-voz não
soube informar para quantas pessoas o texto sobre o Brasil "ingovernável
sem conchavos" foi distribuído. Sobre a autoria do texto, disse que
Bolsonaro a recebeu de grupos dos quais participa e que "entendeu que a
mensagem estaria em consonância com pensamento de momento dele".
Sobre o objetivo
do presidente em replicar a mensagem, falou que Bolsonaro foi eleito por
"defender um governo decente, diferente de tudo aquilo que nos jogou no
abismo de uma crise ética, moral e fiscal".
AUTOR
Professor de
finanças, escritor de livros na área, funcionário na CVM (Comissão de Valores
Imobiliários) e filiado ao Novo-RJ, Paulo Portinho, 46, disse que o texto
compartilhado por Bolsonaro é de sua autoria --e ficou assustado com a
repercussão. "Já disseram que eu escrevi a carta de renúncia do Bolsonaro,
que sou da CIA, que sou aluno do Olavo [de Carvalho]", brincou.
A postagem foi
replicada pelo presidente ao fim de uma semana marcada por notícias ruins para
o seu governo.
A gestão monitora
com atenção a possibilidade de novas manifestações nas ruas. Preocupou a
realização de atos em ao menos 170 cidades na quarta (15), organizados por
alunos e professores contra o bloqueio de 30% das verbas do Ministério da
Educação.
Também pesou
negativamente sobre o governo o avanço das investigações do Ministério Público
contra o senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), primogênito do presidente.
Desde que assumiu
o governo, em janeiro, Bolsonaro tem mantido uma postura de distanciamento em
relação aos poderes Legislativo e Judiciário. Seus auxiliares próximos veem em
seu gesto uma tentativa de se manter longe do que avalia como "velha
política".
Com isso, sua
gestão acumula uma série de derrotas no Congresso. Exemplos mais recentes são a
convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, ao plenário da Câmara
para explicar os cortes dos recursos da pasta e as mudanças feitas pelos
parlamentares no texto de reestruturação do governo.
Entre militares da
reserva que integram o governo, cresceu a dúvida sobre a conveniência de ficar
com Bolsonaro.
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