Giorgia Cavicchioli, Yahoo Notícias
“Tempos
difíceis”, diz professora em vídeo publicado em página de sindicato.
Depois de ter sido
detida nesta segunda-feira (15) dentro do campus do IFG (Instituto Federal de
Goiás) em Águas Lindas, a professora Camila Marques fez um vídeo para se
pronunciar sobre a ação policial que resultou na sua prisão por desobediência.
Segundo ela, o episódio mostra que estamos vivendo “tempos difíceis” no Brasil.
“Eu fui presa no
meu local de trabalho. Eu fui presa na defesa dos meus alunos que estavam
sofrendo violência policial”, diz a educadora que também é coordenadora geral
do Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica,
Profissional e Tecnológica).
No vídeo, ela
aparece com um dos braços imobilizado. Segundo ela, o procedimento foi
necessário depois de ter sido agredida por um dos policiais que fizeram parte
da ação. De acordo com o relato da professora, os agentes abordaram três de
seus alunos, que são menores de idade, e teriam começado a agir de forma
truculenta.
Para documentar a
ação, ela diz que começou a filmar. Porém, foi informada de que ela não poderia
gravar o rosto dos policiais. Mesmo assim, ela continuou. Depois, ela teria
sido alertada que a revista era para evitar uma suposta tentativa de atentado
como o que aconteceu em Suzano. Ela, então, teria questionado os agentes sobre
a postura deles.
Após isso, ela
teria sido informada de que seria presa e que teria seu celular apreendido. Em
seguida, teria sido dito para a professora que ela precisaria ir para a
delegacia como testemunha. Segundo Camila, ela foi obrigada a entrar em uma
viatura descaracterizada, foi algemada e impedida de falar com seu advogado.
“Você não vai ligar pra advogado coisa nenhuma”, teriam dito os policiais, de
acordo com a versão da educadora.
Ainda de acordo
com a professora, os policiais foram extremamente truculentos. “Falavam que eu
tinha que calar a boca”, disse Camila em outro vídeo publicado pelo sindicato.
Em outro momento, os agentes teriam dito que ela seria “tratada do jeitinho que
merece”.
A Polícia Civil de
Goiás, no entanto, negou que os agentes tenham machucado a professora e disse
que ela foi advertida por três vezes de que não poderia filmar a ação por conta
da idade dos alunos. De acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente), menores de idade precisam ter suas identidades preservadas.
Por meio de nota,
a reitoria do IFG disse que a presença dos policiais no campus estava
relacionada a uma investigação em andamento que “trata de suposta articulação
de pessoas para realização de grave atentado”. O comunicado continuou dizendo
que, se essa ideia fosse colocada em prática, colocaria em risco a vida de
estudantes e de servidores.
Ainda de acordo
com a reitoria, os fatos sobre a prisão da professora e dos alunos estavam
sendo apurados para que fossem tomadas “as providências cabíveis no âmbito da
administração pública”. Por fim, a nota diz que tem um posicionamento “em
defesa da integridade física, da liberdade, da pluralidade de pensamento dos
professores, dos técnico-administrativos e dos estudantes”.
Ainda na tarde
desta segunda-feira, a professora assinou um termo circunstanciado na delegacia
e irá responder em liberdade. Segundo ela, sua luta agora é contra os ataques
que vem sofrendo de pessoas que estão questionando o conteúdo de suas aulas.
Para ela, essa é mais uma tentativa de culpabilização da vítima. Mesmo assim,
Camila diz que continuará “firme na luta”.
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sugestões ou denúncias? Mande um e-mail para giorgia.cavicchioli@gmail.com.
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