A LUTA DAS MULHERES E SEU CARÁTER REVOLUCIONÁRIO
Kate Paiva*
Nos últimos anos, o
aprofundamento da crise mundial do capital intensificou uma onda economicamente
conservadora, por um lado – defesa do Estado do mínimo, retirada de direitos
trabalhistas, desmonte dos serviços públicos, desvio de verba pública para
iniciativa privada – e politicamente reacionária, por outro – aversão à
democracia, à liberdade de expressão, xenofobia, racismo, machismo, homofobia.
No Brasil, a falta de
respostas dos governos de conciliação criou um terreno fértil para que a
extrema-direita crescesse e se apresentasse prontamente como alternativa para a
saída da crise. Impondo a agenda imperialista mundial, o governo Bolsonaro e
seu clã de milicianos seguem fazendo os trabalhadores e trabalhadoras pagarem
pela crise, com um reajuste do salário mínimo abaixo do previsto, enquanto os
banqueiros lucram bilhões ao ano. Sob a falácia do combate à violência e a
corrupção, aliada ao discurso moral da defesa da família, intensifica os
ataques às mulheres, à população negra, aos LGBTs, indígenas e quilombolas.
Cenários como este
não são novidades ao longo do desenvolvimento do capitalismo. Ao contrário, a
exploração e a opressão é parte estruturante desse sistema. Por isso, é
impossível falarmos em emancipação humana sem falarmos em ruptura com a ordem
capitalista e superação da sociedade de classes. Sem falarmos, portanto, em
revolução.
E aqui, é preciso
destacar o importante papel das mulheres na luta de classes. Se o capitalismo
impõe aos trabalhadores, em geral, péssimas condições de vida e trabalho, é
ainda mais cruel com as mulheres. Ao responsabilizá-las, quase que
exclusivamente, pelo trabalho doméstico e cuidado com os filhos, impõe uma
jornada dupla, por vezes, tripla, de trabalho – não remunerado -, que tem um
profundo impacto sobre a saúde física e mental das mulheres. Além disso, a
criação da família nuclear – pilar da formação capitalista – confinou as
mulheres como propriedades dos homens/maridos, destituindo-as de seus corpos,
desejos e vontades e abrindo espaço para naturalização da violência doméstica,
uma vez que os homens podiam fazer o que quisessem com sua propriedade – a
mulher – privada.
É preciso destacar
que pautas importantes, ainda hoje, para os diferentes movimentos feministas –
participação política, condições de trabalho, direito ao corpo – foram
conquistadas, pela primeira vez na história, com uma revolução socialista,
impulsionada por mulheres. Em 8 de março de 1917, uma greve de mulheres tomou
as ruas de Petrogrado, dando início ao processo que culminou na Revolução
Russa. As mulheres conquistaram direitos fundamentais para sua participação na
sociedade, como o direito ao voto, ao divórcio e ao aborto. Sendo este último,
um direito, até hoje, cento e dois anos depois, negado na maioria das mais
modernas democracias burguesas.
Cem anos após a
revolução Russa, em 2017, um movimento internacional de mulheres, 8M, se
iniciou na Europa e ganhou força na América Latina, com os atos argentinos #NiUnaMenos,
levando milhares de mulheres às ruas do mundo todo. No Brasil, as principais
pautas foram pela igualdade de direitos, contra a violência machista, pelo fim
da cultura do estupro, por liberdade sexual e igualdade salarial. Em 2018, o 8M
continuou ganhando força e as mulheres voltaram às ruas pela vida das mulheres,
em defesa das liberdades democráticas e a denunciando a contrarreforma da
Previdência.
Precisamos elevar o
patamar das lutas sociais diante da contraofensiva ultraliberal reacionária e
isso só poderá ser feito com a participação ativa das mulheres. Em que pesem as
diferenças táticas e estratégicas entre as diversas correntes do feminismo,
acreditamos que o 8M pode e deve ser um espaço para levarmos as pautas do
feminismo classista. Diante do cenário cada vez mais retrógrado que vivemos, é
preciso, mais do que nunca, resgatarmos o caráter revolucionário da luta das
mulheres. Não só como uma luta identitária, facilmente cooptada pela lógica
liberal burguesa, mas sobretudo, como uma luta classista que seja capaz de
impulsionar a reorganização da classe trabalhadora como um todo e da juventude
para enfrentar os ataques do capital neste novo ciclo de lutas.
Não à toa, os
diversos governos de direita e ultraliberais, disseminam o medo e do ódio ao
feminismo,ao socialismo e ao comunismo, porque sabem o quão perigoso é
organização da classe e das mulheres trabalhadoras que ousam sonhar e lutar
pelo fim de toda e qualquer forma de opressão e exploração. Sigamos juntas com
aquelas que ousaram se levantar por paz, pão e terra.
Outros marços virão.
Sem feminismo, não há
socialismo!
TODAS E TODOS AO 8M!
POR UM FEMINISMO
CLASSISTA! PELO PODER POPULAR!
Publicado em 23 de fevereiro de 2019
* Kate Paiva é
professora do COLUNI – UFF, militante da Unidade Classista e do Coletivo
Feminista Classista Ana Montenegro
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